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VIDA URBANA

A vida de quem tira o 'ganha pão' do dia a dia da reciclagem

 Maria de Lourdes Bezerra trabalha há mais de 20 anos na coleta de materiais e diz que encontrou dignidade e sustento nessa profissão 

Publicado em 24/05/2015 às 8:00

As rugas no rosto de Maria de Lourdes Bezerra, 52 anos, traduzem os sinais que uma vida inteira de luta e trabalho árduo deixou na sua pele. Catadora de matérias recicláveis há mais de 20 anos, ela encontrou dignidade e sustento nessa profissão. Dona Lourdes, como é mais conhecida, mora no bairro do Multirão, em Campina Grande, é casada, mãe de uma filha de 32 anos e avó de dois netos. As necessidades do lar sempre foram supridas com o dinheiro recebido através da coleta e venda de materiais recicláveis, fato pelo qual ela muito se orgulha. A satisfação em viver desse trabalho é expressa pelo sorriso estampado no rosto que a acompanha por onde quer que ela vá.

A rotina de dona Lourdes é praticamente a mesma de segunda à sexta-feira. Acordar às 5h, ir para a Cooperativa de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis de Campina Grande, (Catamais), trabalhar das 7h às 16h com a triagem, prensa, empacotamento e venda dos produtos, voltar para casa e esperar ansiosamente pelo dia seguinte. “Fico agoniadinha quando chega o final de semana e eu não saio para fazer a coleta. Minha vida é a reciclagem. Com ela eu conquistei uma vida mais digna, tenho meu ‘ganha pão’ certinho, sustento minha família e vou ajeitando minha casa. Passei a ser respeitada e ter reconhecimento como recicladora”, revelou.
Antes de trabalhar na Catamais, dona Lourdes fazia a coleta de materiais recicláveis no antigo lixão de Campina Grande. Quando ele foi desativado em janeiro de 2012 ela já estava na cooperativa e há sete anos tem trabalhado nela. Agora é diretora da corporação e diz que o passar dos anos permitiu uma maior conscientização ambiental por parte da população e fez também com que as pessoas confiassem mais no trabalho dos recicladores. A aposentada Ivanete Alves, 72 anos, foi uma delas. Ela mora no bairro da Estação Velha e é doadora de resíduos domiciliares. “Faço isso porque sei que além de ajudá-los não prejudico o meio ambiente”, comentou a aposentada.
Reconhecendo a importância da reciclagem e enxergando nela uma fonte de renda, Valdinete Ares da Silva, 30 anos, também encontrou nessa atividade um meio de vida. Ela é solteira, mãe de quatro filhos, vizinha e comadre de dona Lourdes e trabalha na cooperativa há quatro anos. O dinheiro que recebe como recicladora é fundamental para a sobrevivência da sua família. De acordo com ela, o valor não é alto, mas vai dando para sobreviver com seus filhos. “Decidi trabalhar porque tinha meus filhos para dar o que comer. Participo de todas as etapas da produção de reciclagem na cooperativa e com o pouco que eu ganho vamos nos mantendo”, pontuou.
A luta dessas mulheres é constante. Diariamente elas enfrentam desafios em busca de integridade e melhores condições de vida. Elas comentam que o trabalho é pesado, intenso e que a remuneração ainda é muito baixa. Essa última é uma das dificuldades mais difíceis de lidar. No entanto, a vontade de superar esses obstáculos é que as motivam a seguirem em frente e batalharem por dias melhores.
Coleta seletiva em 11 bairros de CG
Ao todo são 16 pessoas que trabalham na Cooperativa de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis de Campina Grande, a Catamais, e encontraram na reciclagem uma forma de sobrevivência, de acordo com a cooperativa. Ela existe há sete anos e funciona no bairro do São José. Além de promover o sustento dos cooperados, tem contribuído para reduzir os danos que os resíduos sólidos causam ao meio ambiente. Atualmente a coleta seletiva é feita em onze bairros da cidade, de modo que são reciclados uma média de 240 toneladas de resíduos por ano.
A recolhida do material é feita nas casas, em estabelecimentos comerciais e instituições de Campina Grande, de segunda a sexta-feira no período da manhã. Durante a semana, os catadores se organizam e dividem as tarefas para realizar as visitas e também encontrar mais pessoas dispostas a ajudá-los. Os moradores e os proprietários doam os resíduos sólidos à Catamais e os cooperados fazem a coleta, reciclagem e comercialização dos materiais recolhidos.
A diretora da Catamais, Maria de Lourdes, ressalta que a cooperativa é de extrema importância para a manutenção das famílias que dependem dela para viverem. “Falo isso não só por mim, mas por todos que trabalham aqui. É com esse trabalho que nós nos mantemos, sustentamos nossa família e levamos uma vida mais honesta”, frisou.
Ainda de acordo com a diretora, a ajuda da população garante uma maior representação social para os catadores e uma saída econômica para as famílias dos associados que sobrevivem da venda desses utensílios. Quem tiver o interesse em solicitar os serviços da cooperativa pode entrar em contato através do twitter (@CatamaisCG), do blog (http://catamais.blogspot.com.br/), e-mail ([email protected]) ou telefones (83) 8727-2895 e 9188-2895.
Plano de gestão de resíduos sólidos
Uma cidade com o porte de Campina Grande, que produz cerca de 300 toneladas de lixo domiciliar diariamente, precisa adotar políticas públicas que viabilizem a coleta seletiva, de acordo com a Secretaria de Serviços Urbanos e Meio Ambiente (Sesuma). Essa é uma questão que vem sendo trabalhada pelo município desde dezembro de 2013, em cumprimento da Lei Federal 12.305/2011 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. O plano do município ficou pronto há nove meses e deve começar a ser implantado em agosto deste ano, segundo a Sesuma.
O secretário da Sesuma, Geraldo Nobre, destaca que entre as ações previstas no Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos estão inclusas campanhas de conscientização, criação de ecos pontos para receber materiais recicláveis e unidades de triagem. Pretende-se ainda pagar aos catadores cadastrados nas cooperativas e associações pela coleta, transporte e também pelos produtos recolhidos. A Sesuma já disponibiliza um caminhão, combustível e dois motoristas para o serviço desses trabalhadores.
Conforme o secretário, o Plano Municipal intensifica as parcerias entre as prefeituras e as cinco cooperativas e associações cadastradas que trabalham com materiais recicláveis, mas pode ter o seu andamento prejudicado pela crise econômica. “Nós elaboramos algumas metas que serão cumpridas a curto médio e longo prazo. Estamos com um problema sério com relação à economia do país. Está havendo cortes que vão dificultar um pouco as ações”, comentou.
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Jornal da Paraíba

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