VIDA URBANA
Apenas JP e CG têm assistência para câncer na Paraíba
Dos 223 municípios da PB, só existem unidades de assistência aos portadores em JP e CG o que aumenta risco de mortalidade.
Publicado em 27/03/2012 às 6:30
Até o final deste ano, 7.370 novos diagnósticos de câncer deverão ocorrer na Paraíba, segundo estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Além de sofrer com as consequências da doença, os pacientes enfrentarão dificuldades para encontrar tratamento. É que, dos 223 municípios da Paraíba, só existem unidades de assistência aos doentes em João Pessoa e em Campina Grande. Outro agravante é que essas cidades também concentram 81% de todos os médicos do Estado (5.058 em atividade).
A ausência do serviço de saúde nas outras localidades dificulta o diagnóstico precoce da doença, obriga os pacientes a enfrentarem horas de viagem e aumenta até o risco de mortalidade. Na Paraíba, a única instituição referência no tratamento do câncer é o Hospital Napoleão Laureano, que funciona em João Pessoa. Além dele, os doentes podem encontrar ajuda no Hospital da Fundação Assistencial da Paraíba (FAP), que fica em Campina Grande. No entanto, segundo o diretor do Napoleão Laureano, João Simões, os pacientes em casos graves acabam migrando para a capital. “A estrutura oferecida pelo Hospital da FAP é pequena, é feita em um núcleo e acaba obrigando os pacientes a virem para João Pessoa.
Recebemos pacientes enviados para cá com a finalidade de fazer sessões de quimioterapia e radioterapia”, afirma o diretor.
Por conta disso, apenas 35% das pessoas atendidas no Hospital Napoleão Laureano são residentes em João Pessoa. As demais são oriundas do interior do Estado. Atualmente, a instituição realiza seis mil atendimentos mensais, entre consultas, exames e tratamentos.
Se a previsão de novos casos da doença feita pelo Inca for confirmada, a quantidade de portadores do câncer que buscarão ajuda no local tende a subir dos atuais 3.300 para 10.670, nos próximos nove meses. O cancerologista Rodrigo Cunha Lima Maroja destaca que a falta de estrutura para tratar câncer em outras cidades da Paraíba é motivo de preocupação também entre os médicos, porque isso poderá aumentar os registros de óbitos.
Ele explica que o câncer é totalmente curável, desde que seja descoberto no início. “A chance de cura diminui com a demora no diagnóstico e tratamento. É muito comum encontrarmos pacientes que chegam no consultório em casos avançados. Isso ocorre porque a doença foi descoberta tarde, porque a pessoa morava numa localidade longe de assistência médica. Em outras situações, o estado se avança em virtude da doença mesmo, já que a câncer é uma doença muito destruidora”, acrescentou.
“Como os grandes centros de tratamento se concentram em João Pessoa e em Campina Grande, os especialistas nessas áreas acabam se reunindo apenas nessas cidades”, comentou o médico.
O Hospital Napoleão Laureano conta com mais de 100 médicos em diversas especialidades, mas em todo o Estado não há dados estatísticos sobre médicos especializados no tratamento do câncer. Na relação do Conselho Regional de Medicina existem apenas 19 profissionais, contudo, os dados estão desatualizados, pois os médicos concluem especialidade na área, mas deixam de informar o conselho.
A educadora Mércia da Silva Ferreira, 30 anos, sente na pele os efeitos da falta de assistência médica. Ela mora em Sapé, a 50 quilômetros de João Pessoa e precisa viajar quatro vezes por mês até João Pessoa. “Venho aqui com meu pai, que é doente, porque lá em Sapé é tudo muito difícil”, lamenta.
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