VIDA URBANA
Aumento da violência deixa carteiros da Paraíba com medo de trabalhar
Além dos assaltos aos bens pessoais, carteiros também são vítimas de crimes contra o patrimônio devido às entregas de mercadorias de valor.
Publicado em 22/02/2015 às 8:00 | Atualizado em 21/02/2024 às 15:53
“Dois adolescentes em uma motocicleta cinquentinha se aproximaram, muito agressivos, e colocaram o veículo por cima de mim e com uma arma me ameaçaram e levaram meu celular. Por pouco não aconteceu o pior. É revoltante”. A declaração é de um carteiro que preferiu manter a identidade em sigilo por temer represálias. A experiência desse profissional já foi vivida por outros da mesma categoria na Paraíba. O Sindicato dos Trabalhadores dos Correios na Paraíba (Sintect-PB) denuncia as violências contra os carteiros.
Para preservar a verdadeira identidade do carteiro que foi vítima de assalto, usaremos o nome fictício 'João'. Ele, que trabalha em João Pessoa, lembrou com revolta o dia em que viu a morte passar à sua frente. “Eu estava entregando as correspondências próximo a avenida Minas Gerais, no bairro dos Estados, quando percebi a moto se aproximando com os suspeitos e arma em punho, mas eu não tinha o que fazer, nem para onde correr”, relatou o crime ocorrido em novembro passado.
“A gente fica à mercê da violência, se sente impotente diante dessa realidade. Na hora só pensei na família e em minha esposa, que poderia ficar desamparada, dependendo do que poderia acontecer comigo. Deus me livrou do pior, mas fiquei com trauma e sempre que estou em uma rua sem movimento e ouço o barulho de uma moto, tudo me volta à memória, como se fosse um filme ruim”, completou.
Outro carteiro, 'José' (nome fictício), também já viu a morte à sua frente nas ruas da capital. Era uma manhã de dezembro do ano passado, quando ele pegou a mochila, cheia de correspondências, na unidade operacional que está lotado e saiu para fazer as entregas, como um dia normal. Não sabia José que sua rotina seria quebrada por dois moradores de uma casa, que se Queixaram da demora da entrega.
“Já havia deixado algumas correspondências, mas quando ia colocar a entrega em uma certa casa, dois homens, moradores da casa, saíram do imóvel falando alto e me xingando. Temi o pior e não esbocei reação alguma. Apenas entreguei as correspondências e saí andando para continuar meu trabalho, foi quando senti um tapa nas costas, seguidos da pergunta: 'Ei, mané. Está tirando a gente de otário? Estou falando com você!', pensei que ali seria o meu fim”, detalhou.
José disse que só pedia a Deus para sair dali vivo, para não deixar os três filhos sem pai. “Eu simplesmente me virei, pedi desculpa e falei que precisava fazer o restante das entregas. Os dois homens, me agrediram verbalmente, de todo tipo de nome, e ainda me empurraram, mas em pouco tempo, consegui sair. Não tive condições de continuar meu trabalho e voltei para unidade muito nervoso”, ressaltou.
Os dois carteiros, João e José, são só exemplos dos profissionais que correm risco diariamente durante a execução do trabalho. Muitos já tiveram objetos pessoais roubados, como celular, carteira e joias, outros tiveram o carro da entrega dos Correios levados por bandidos, mas ameaças, inclusive de morte não estão fora da lista de violências cometidas contra os carteiros na Paraíba. Para a categoria, o investimento em segurança pública deve ser realizado, para evitar ocorrências desse tipo, já que as situações acontecem em diversos bairros de João Pessoa.
Correios abre processo para apurar ocorrência
O Correios informou que as notificações ocorridas foram relacionadas a furtos à viaturas, porém não envolveram qualquer tipo de agressão ou violência aos carteiros. (foto: Francisco França)
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos na Paraíba, informou por meio da assessoria de comunicação que no início deste mês, a área de segurança da empresa iniciou um processo de apuração interna, em conjunto com as unidades operacionais para que fosse levantado algum tipo de ocorrência envolvendo assaltos a carteiros.
No entanto, o processo ainda está em fase de conclusão, mas a instituição garantiu que até o momento nenhuma ocorrência foi notificada pelas áreas. As notificações ocorridas foram relacionadas a furtos à viaturas, porém não envolveram qualquer tipo de agressão ou violência aos carteiros. Os funcionários da empresa são todos orientados, uma vez que ocorram casos desse tipo, a fazer o registro do Boletim de Ocorrência e alertar os seus gestores para que as devidas providências sejam tomadas.
A possibilidade de realização de um novo concurso público para aumento de efetivo está descartada pelos Correios, já que a assessoria disse que, atualmente, o efetivo é suficiente para atender as áreas onde existe distribuição domiciliar e que o último concurso público realizado em 2011 ainda se encontra vigente por meio de uma liminar. Sendo assim, uma vez que houver a abertura de uma vaga, o cadastro de reserva pode ser acionado.
A princípio as vagas são preenchidas por meio do Sistema Nacional de Transferência (SNT), caso haja interesse de um empregado de outra região assumir a vaga dentro do Estado. Caso não exista ninguém inscrito, o preenchimento é solicitado em outros Estados. Só quando encerrada esta etapa de preenchimento pelo SNT é que se recorre ao cadastro de reserva do concurso público.
Policiamento
A assessoria de comunicação da Polícia Militar da Paraíba informou que o 1º Batalhão, sediado no Centro de João Pessoa, é responsável pelo policiamento da área que engloba o Bairro dos Estados, onde são realizadas rondas ostensivas, preventivas e de repressão, diuturnamente todos os dias da semana.
Leia a matéria completa na edição impressa deste domingo do JORNAL DA PARAÍBA.
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