VIDA URBANA
"Baixou pouco, mas baixou", diz secretário sobre crimes na PB
Titular da pasta de Segurança Pública e Defesa Social, Cláudio Lima fez um balanço das ações no Estado em 2015 e falou sobre o caso Rebeca, ainda sem solução.
Publicado em 31/12/2015 às 17:00
Na semana passada, o secretário de Segurança Pública e Defesa Social da Paraíba, Cláudio Lima, atendeu a um pedido do JORNAL DA PARAÍBA para fazer um balanço sobre o ano que termina*.
Em sua sala, acompanhado de sua assessoria de imprensa, o secretário comentou sobre as ações policiais de combate ao crime no Estado e citou os principais investimentos realizados na área, considerada uma das mais desafiadoras para os gestores públicos.
Cláudio Lima falou ainda sobre o caso Rebecca, que termina mais um ano sem elucidação, e negou que tenha fechado delegacias. Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista:
JORNAL DA PARAÍBA: Qual o balanço que o senhor faz do ano de 2015?
Cláudio Lima: Do ponto de vista da Segurança Pública, tivemos alguns investimentos importantes como a aquisição do helicóptero, inauguração da Central de Polícia, e outros investimentos menores – alguns com recursos próprios, outros com ajuda do Governo Federal. Temos alguns programas e projetos em andamento com o Governo Federal. Em 2015 conseguimos executar muita coisa que não aparece, a exemplo de investimentos na área de inteligência. Conseguimos executar em termos de convênio cerca de R$ 30 milhões em projetos do 'Brasil Mais Seguro'. Isso foi uma busca no sentido de trazer alguns recursos para que pudéssemos aparelhar melhor a polícia. Parte dos recursos foi para a inteligência, outra para a área operacional e de formação. No caso da academia, conseguimos muitos equipamentos. Tivemos ainda a aquisição de veículos, distribuição de coletes, etc. Dentro desses investimentos, podemos citar o maior projeto que temos que é o da comunicação, embora não tenhamos conseguido concluir em razão da burocracia do próprio processo. A licitação foi feita, mas se arrasta na área de recursos. Espero que a gente possa concluir também, ainda este ano, o projeto de radiodigital para todo o sistema de segurança da Paraíba. Esse foi o maior projeto de 2015, de R$ 38 milhões. A população reclama muito, mas estamos tentando melhorar o sistema.
JP: Terminamos mais um ano sem a elucidação do caso Rebecca. O que o senhor tem a dizer a respeito? (Rebecca, 15 anos, foi estuprada e morta em julho de 2011, em Mangabeira)
CL: Acontece que a investigação policial não é por si só suficiente para se decidir sobre a autoria de um crime. Quem decide é a Justiça. Ultimamente o delegado que assumiu o caso chegou à uma solução – na visão da investigação chegamos ao mentor intelectual – e foi pedida a prisão dele, mas o Ministério Público não entendeu assim. Por isso o caso não foi concluído. Mas para a polícia, foi encontrado um resultado. Inclusive trouxemos pessoas de fora, como a Ilana Casoy, para ajudar no trabalho. Chegamos à conclusão em conjunto sobre os indícios apresentados, mas naquela ocasião o MP não entendeu que deveria encerrar o caso e por isso não foi encerrado.
JP: Como secretário de Segurança, o senhor está satisfeito com o desfecho do caso Rebecca?
CL: Não, porque faltou a pessoa responsável pela execução. A perícia chegou à conclusão que naquela cena não havia só uma pessoa. A investigação chegou ao autor intelectual, que certamente deveria estar presente, mas não tem certeza se foi ele quem executou.
JP: Como explicar o fato de uma polícia tão bem equipada não conseguir solucionar um caso como esse?
CL: A polícia dos Estados Unidos, da Inglaterra, nem sempre elucida todos os casos. Não é um negócio matemático que a polícia sempre chega ao resultado. Pode acontecer.
JP: Há boatos que a polícia sabe quem executou Rebecca, mas não torna isso público. Seria isso verdade?
CL: Não é verdade. Até porque se fosse, eu seria uma farsa, não seria um profissional com o devido respeito para está aqui. O que acontece é que a polícia não chegou a essa pessoa. Aconteceu de ter prova testemunhal, inclusive está nos autos, não tem nada escondido, está tudo lá. Durante a investigação, a polícia chegou à conclusão que aquela prova testemunhal não era verdadeira. Porque a perícia técnica provou que uma das versões apresentadas, por uma menina jovem, não era real. Se fosse há 30 anos, o caso estaria elucidado para a opinião pública, mas não para a Justiça. A versão foi totalmente descaracterizada pela perícia. A polícia não pode ficar em cima de boatos. Muitos surgiram, mas nenhum foi provado. As investigações continuam, mas uma hora vai se encerrar.
JP: E as delegacias fechadas durante a sua gestão. Como explicar isso?
CL: Não teve delegacia fechada. Se você contar uma mentira 200 vezes, essa mentira vira verdade, e isso nos entristece. Não houve fechamento. Essas delegacias nunca abriram à noite. O que deixa transparecer é que nos governos anteriores todas as delegacias abriram e que esse governo fechou. Isso é mentira. Inventaram isso em época de eleição e pegou. Pegou mesmo. Foi uma mentira bem contada. Até a Justiça ia 'engolindo' essa história, mas provamos com documentos que isso não aconteceu. Pelo contrário, abrimos mais delegacias. Abrimos a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), a Delegacia de Roubos e Furto, a Delegacia da Mulher, todas funcionando 24 horas. Talvez meu erro tenha sido não explicar que na verdade nós abrimos mais delegacias.
JP: Secretário, sua gestão foi alvo de muitas críticas. Como o senhor lida com essa situação?
CL: A população não está errada. Essa crítica deve ser legitimamente aceita pelos gestores. Estamos dentro de uma sociedade que vem passando por transformações e essas mudanças precisam ser acompanhadas pelo Estado na atenção da saúde, da educação, da segurança. A população quando cobra segurança, está certa. O que acontece é que muitas vezes as críticas são levadas para o lado partidário. O sujeito sabe que se assumir também não vai resolver porque a violência faz parte da natureza humana. O que precisa é que o Estado faça a sua parte, no sentido de colocar essas condições para que o cidadão tenha paz, mas essa paz também depende de nós. A polícia não tem, jamais, como evitar, por exemplo, um homicídio dentro de casa.
JP: O senhor permanece na pasta da Segurança Pública em 2016?
CL: Estamos dentro de um processo no qual a única certeza que temos é que a gente sai. É absolutamente normal se amanhã sair qualquer secretário de qualquer pasta. O que posso dizer é que estarei sempre aberto ao diálogo. No dia que sentar outro (secretário) aqui, eu vou mostrar o que foi feito e dizer onde paramos. Temos o programa 'Paraíba Unida pela Paz' que deu resultado. Temos um sistema que, apesar de todo defeito e críticas, conseguiu frear uma criminalidade que crescia 25% ao ano e que nesses três últimos anos reduziu – baixou pouco, mas baixou. Para melhorar mais ainda faltou mais resultado. Nós queríamos mais porque estamos diante de um quadro que se agravou em todo o país e conseguimos pelo menos frear. Diminuímos 2012, 2013, 2014, e vamos conseguir, se Deus quiser, diminuir 2015. Se salvarmos uma vida em relação ao ano anterior já estamos satisfeitos.
JP: O que esperar de 2016?
CL: O ano que vem ainda é uma incógnita que não depende apenas do Governo do Estado. Temos uma situação no país que ninguém se arrisca a prometer algo que está fora da capacidade do Estado.
*Na edição de domingo (27) o JORNAL DA PARAÍBA trouxe, em sua versão impressa, uma entrevista com Cláudio Lima na qual ele fala sobre os sucessivos ataques a bancos registrados na Paraíba.
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