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VIDA URBANA

Bens culturais sofrem ameaça

Igrejas seculares, que antigamente foram um reduto de ritos e celebrações religiosas, hoje estão em ruínas.

Publicado em 16/02/2014 às 8:00 | Atualizado em 23/06/2023 às 12:25

Estruturas que um dia foram espaços para ritos e celebrações religiosas, hoje estão frágeis e correm risco de desaparecimento devido à ação do tempo e o abandono. No Litoral Norte da Paraíba, a rigidez da gameleira, que cresceu no interior da parede de concreto da igreja de Bonsucesso, localizada na zona rural do município de Lucena, é quem sustenta a edificação que data de 1789. Já a capela São Miguel Arcanjo, em Baía da Traição, também na mesma faixa litorânea, apenas conserva parte do altar onde as cerimônias eram realizadas. Enquanto isso, as pedras que um dia separaram os ambientes da igreja de Nossa Senhora de Nazaré (Almagre), em Cabedelo, estão cobertas pelo mato e espalhadas no chão.

Apesar de a igreja de Bonsucesso antigamente ter sido conhecida por 'Igreja do Ouro', por ter detalhes e objetos ornamentados com o material, há décadas está tomada pela vegetação. As paredes estão esburacadas, as portas e janelas foram roubadas, restando apenas um dos pedaços da cruz que estava na parede por trás do altar. Do período barroco, época em que se deu a construção do prédio, restam apenas algumas figuras esculpidas na parede, misturadas aos rabiscos com os nomes riscados por quem passou pelo local.

O agricultor José Paulo de Oliveira lembra saudoso das missas que participou na igreja construída em meio a uma floresta. Ele conta que mesmo em estado de ruína, há 3 anos um padre ainda vinha até o local para fazer celebrações com a comunidade que mora próximo ao local. “Tinha missa aqui pelo menos uma vez por mês, em homenagem à Nossa Senhora do Bonsucesso. Na data da santa tinha ainda um pessoal que organizava uma procissão, hoje não vem mais ninguém”, lamentou.

Ainda animado com as recordações, o agricultor revela fatos curiosos envolvendo a construção da pequena igreja, como as 'assombrações' contadas pelos antigos moradores das proximidades. “O pessoal de antigamente dizia que nesse terreno, em frente à igreja, tinha um cemitério e que à noite apareciam almas. Se você for procurar mesmo, dá para ver restos de ossos e pedaços dos túmulos”, disse. Verdade ou não, no interior do prédio, próximo ao altar, parte de uma estrutura no piso, semelhante a uma caixa, é conhecida como o túmulo onde enterraram um dos primeiros padres que trabalharam no local, conforme contou José Paulo.

Embora esteja dentro da floresta e praticamente abandonada, a antiga 'Igreja do Ouro' atrai visitantes que chegam para conhecer o município de Lucena. O guia de turismo Wolgrand Marques sabe do valor histórico do patrimônio e faz questão de incluir a visitação ao prédio na rota dos grupos que leva para o município. “Acho que uma igreja como essa, no meio da floresta, existe em poucos lugares no mundo e é uma preciosidade. O pessoal vem com a intenção de conhecer a praia, mas eu sempre incluo a vista à igreja no passeio”, declarou.

A aposentada Antonieta Correia mora na capital, mas ainda não conhecia o município de Lucena. Ela ficou surpresa com a visita à igreja e lamentou o descaso do poder público com o prédio.

“É um lugar impressionante. A gente vê que a árvore é quem impede que a parede caia. Uma pena que esteja nessa situação, porque faz parte do nosso patrimônio”, opina.

Do outro lado do litoral paraibano, no bairro do Poço, em Cabedelo, está a igreja de Nossa Senhora de Nazaré, conhecida como 'Almagre'. O prédio foi construído no século 16 e assim como a construção localizada em Lucena, apenas fragmentos de desenhos de flores esculpidos nas grossas paredes de concreto denunciam elementos barrocos que compõem a edificação.

Além da 'invasão' da vegetação, no terreno onde está a igreja, dezenas de pedras espalhadas pela área revelam o descaso com a estrutura e comprovam que a construção tinha outros espaços além do que resta atualmente.

Imagem

Jornal da Paraíba

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