VIDA URBANA
BR tem 'contorno da morte'
Na lista de acidentes estão atropelamentos e colisões entre veículos; ocorrências deixaram um morto e 23 feridos, segundo PRF.
Publicado em 04/03/2014 às 6:00 | Atualizado em 11/07/2023 às 12:26
De janeiro de 2011 até 25 de fevereiro de 2014, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou 35 acidentes no “contorno da morte”, nome dado por moradores a um trecho do quilômetro 4 da BR-230, em Cabedelo. Na lista de acidentes estão atropelamentos e colisões entre veículos. As ocorrências causaram uma morte e 23 feridos, segundo dados da PRF.
No entanto, para a população, os números de óbitos ainda são maiores. A dona de casa Maria de Lourdes da Silva é moradora de Camboinha 2. Ela conta nos dedos a quantidade de vizinhos que perderam a vida ao tentar atravessar a rodovia.
“Roberta, Jéssica e Fabiana foram apenas algumas das meninas que foram atropeladas aqui. Acho que umas 14 pessoas já morreram aqui. Todas eram moradoras de Camboinha”, lamenta.
“O perigo é grande demais. A gente fica esperando até 10 minutos na beira da pista, esperando um jeito de passar. Temos que atravessar correndo, na frente dos carros mesmo. Outro dia mesmo, quase que eu era pega por uma 'Scania' (tipo de carreta). Foi Deus quem me livrou”, desabafou.
Já a irmã de Maria Balbino de Brito, 63 anos, não teve a mesma sorte. A moça, que tinha pouco mais de 30 anos de vida, estava tentando cruzar a rodovia quando foi atingida por um veículo.
“O carro pegou ela em cheio. Não deu tempo de fazer mais nada. Minha irmã tinha tanta vida pela frente e se acabou por causa do erro dos outros. Até hoje, a morte dela ficou por isso mesmo. Nada mudou, nada foi feito. Quando eu olho para essa rodovia, sinto uma tristeza muito grande”, diz Maria, com um semblante abatido.
Com uma cicatriz na cabeça e uma lesão no joelho, o caseiro Reinaldo Luís de França, 43 anos, é mais uma vítima. Ao lado da esposa e da filha, ele se recupera de um acidente de moto ocorrido no dia 11 de janeiro deste ano. O homem estava voltando do trabalho, quando se tornou a mais recente vítima do chamado “contorno da morte”.
No local, há um contorno e uma rua que dá acesso ao bairro de Camboinha 2. No entanto, um erro na construção da pista está causando acidentes. A área não possui faixas de aceleração e nem de desaceleração. Essas vias são recuos criados à margem das rodovias em locais onde há acessos para bairros. Elas permitem que os veículos entrem ou saiam da faixa principal da BR com maior segurança. Sem esse recuo, o risco de colisões envolvendo veículos que transitam em alta e em baixa velocidade é grande.
Além disso, o trecho sofre com a falta de outros itens de segurança. Não há lombadas eletrônicas, placas de sinalização e nem qualquer tipo de redutor de velocidade, apesar do trecho cruzar duas áreas residenciais (uma em cada lado da rodovia). Com isso, aumenta também o risco para pedestres.
SALVO POR MILAGRE
Durante 11 dias, Joseane Ferreira se manteve preocupada. Ela é casada com o caseiro, Reinaldo Luís da França, e não esquece a imagem do marido caído na pista. “Eu estava em casa, quando me avisaram do acidente. Saí correndo. Minha filha mais velha também estava na moto. Mas, ela só teve escoriações. O impacto foi todo em cima dele (marido)”, diz.
A moto de Reinaldo foi atingida por um veículo modelo Fiat Uno. O motorista fugiu sem prestar socorro. Com o impacto, o caseiro teve traumatismo craniano, lesão cerebral e fraturas pelo corpo. Ficou 11 dias internado, sendo 10 na Unidade de Terapia Intensiva.
Após receber alta e já em casa, ele não lembra detalhes do acidente, mas confessa sentir medo de transitar no trecho em que ocorreu a colisão. “Do jeito que está, vai morrer muita gente”, afirma.
No último dia 9, moradores da área realizaram um protesto por conta da falta de segurança na rodovia. Eles queimaram pneus e interromperam o tráfego no local, para cobrar providências. A mobilização foi organizada pelo pároco da igreja católica do bairro de Camboinha 2 por não suportar mais assistir aos casos de acidentes.
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