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VIDA URBANA

Carnaval e saúde: de 'doença do beijo' a HIV, folia é tempo propício para transmissão

André Télis dá dicas de como proteger a saúde sem perder a festa.

Publicado em 27/02/2019 às 14:05 | Atualizado em 27/02/2019 às 17:38


                                        
                                            Carnaval e saúde: de 'doença do beijo' a HIV, folia é tempo propício para transmissão

“A geração mais nova parece ter perdido o medo da Aids, provavelmente porque não viveu o drama da doença de uma forma mais intensa, como as gerações anteriores presenciaram, ao ver pessoas famosas falecendo após contrair uma doença sem cura e sem tratamento, que foi muito explorada pela mídia. O que os jovens esquecem é que o HIV ainda é totalmente incurável”.

Foi o que falou Otávio Clark, CEO da Kantar Health no Brasil, ao explicar os dados de uma pesquisa realizada no Brasil, que revelavam que 40,2% dos brasileiros fazem uso de preservativos em novos relacionamentos (Fonte: Target Group Index da Kantar Ibope Media, 2017).

Essa preocupação se justifica pelos dados do Ministério da Saúde, que mostram que o número de casos de HIV/Aids entre os jovens de 15 a 24 anos aumentou 85% nos últimos 10 anos. Os homens são as principais vítimas da doença, 73% dos novos casos acontecem entre homens de 15 a 39 anos. Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, a taxa de detecção de HIV cresceu 133% em homens de 20 a 24 anos.

Não raro, o que se vê neste período carnavalesco, o feriado mais longo do ano, é um somatório de situações que aumenta a chance de muitas doenças se espalharem. Altas temperaturas, muitos beijos, libido à flor da pele, sensualidade e aglomerações de pessoas exagerando na quantidade de bebidas alcoólicas, se expondo a altas temperaturas e deixando de lado o descanso, sem sequer se alimentar adequadamente. Quem chega na Quarta-feira de Cinzas no meio da folia, geralmente está só o pó (literalmente).

Beijo perigoso

Sabe aquelas disputas entre os mais jovens para ver quem beija mais no bloco? Isso pode sair caro. Também conhecida como a doença do beijo, a mononucleose costuma acometer os adolescentes. Provoca febre, crescimentos dos gânglios do pescoço e das axilas, comprometimento do fígado e do baço, entre outros sintomas.

O vírus responsável pela doença é o epstein-barr, transmitido pela saliva contaminada num contato íntimo entre as pessoas, daí o nome ‘doença do beijo’. O diagnóstico é feito por um exame de sangue específico. Em alguns casos, porém, os quadros são mais intensos e prolongados, a febre é alta e custa a desaparecer, o que assusta muito os pacientes e seus familiares.

Saúde e sexo

Aids, clamídia, gonorréia, sífilis, HPV, hepatite B, herpes genital e labial, mononucleose, são algumas, dentre muitas, doenças transmissíveis pelo sexo sem segurança.

Calor e Aedes

O carnaval também reúne fatores de risco preocupantes para o aumento da transmissão do vírus da dengue, zika e chikungunya. As pessoas esquecem os cuidados dentro da própria casa, aí no período de chuvas e calor, o mosquito encontra tudo o que precisa para se multiplicar. Esse ano, o número confirmado de casos de dengue no brasil já é o dobro do que foi registrado em 2018.

Álcool com moderação

O excesso de álcool parece ser um dos responsáveis pelo aumento da procura nos serviços de emergência. Casos de embriaguez, viroses e de intoxicação alimentar lotam as emergências, sem falar nos casos mais graves, como os acidentes de trânsito – de acordo com o boletim 2018 da Polícia Rodoviária Federal, houve um aumento de 10% no número de acidentes nas BRs que cortam o estado da Paraíba em relação ao carnaval 2017.

Hidratação obrigatória

É importante beber muitos líquidos, como água, chás, sucos de frutas naturais, água de coco, sais de reidratação oral (que se compra na farmácia), para repor os líquidos perdidos, acelerar a recuperação e evitar a desidratação. O ideal é consumir de 2 a 3 litros de água por dia. Você também pode investir na água de coco e nos sucos naturais de frutas, como uva, limão, acerola, laranja e melancia.

Dicas para uma folia com saúde

Beber com moderação parece ser a dica fundamental. O álcool, além de todos os males, aumenta a chance de desidratação, faz mal para o fígado e pode ser o responsável pela ressaca.

O repouso é fundamental. Dormir pelo menos 8 horas por noite para repor as energias. Caso não seja possível, pelo menos um cochilo durante o dia é essencial para ter força suficiente para cair na folia.

Coma frutas da estação. As frutas possuem vitaminas e minerais que auxiliam em diversas funções do organismo, como no processo de desintoxicação. Algumas das opções para esta época do ano são abacate, graviola, pinha, tangerina e seriguela.

Programe-se. Você deve fazer as três refeições principais (café da manhã, almoço e jantar) e pequenos lanches nos intervalos.

De olho nos pés

Se a ‘beijação’ merece cuidados especiais, outras medidas também contribuem para um carnaval mais seguro e saudável. Uma delas é o cuidado com os pés.

Nos blocos, as pessoas costumam usar sandálias ou ficam descalças. Um corte no pé, nessa situação, pode provocar uma contaminação pelo micro-organismo causador do tétano. É importante ainda estar com o cartão de vacinas em dia, principalmente se você vai viajar.

Em caso de ferimentos, o folião deve procurar um hospital para higienizar o machucado e avaliar o risco para o tétano.

Banheiro químico e mão suja

O uso de banheiros químicos, onde não é possível lavar as mãos, também aumenta os índices de contágio pela hepatite A. A doença demora de 15 a 42 dias para manifestar seus sintomas, que vão desde a pele e olhos amarelados à prostração. Uma dica para reduzir esse risco é levar um vidro pequeno de álcool em gel no bolso ou na bolsa para higienização das mãos sempre que for ao banheiro.

Roupa adequado ao calor

Os cuidados também devem ser com a escolha das roupas para enfrentar o sol e o calor de 30 graus. Não descuidar do protetor solar, dar preferência às roupas leves, usar chapéu ou boné e procurar se hidratar durante o período que estiver acompanhando os blocos e as troças.

* André Telis é médico cardiologista, professor do curso de medicina da UFPB, colunista de Saúde na CBN João Pessoa e escreve sobre o tema no Jornal da Paraíba

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Aline Oliveira

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