VIDA URBANA
Casarões históricos estão abandonados e com risco de desabamento
João Pessoa tem 87 casarões históricos em situação de abandono, e de acordo com a Defesa Civil, enfrentam riscos de desmoronamento.
Publicado em 13/08/2015 às 9:02
Edificações que passaram da exuberância nos tempos áureos ao descaso dos proprietários bem como do poder público no século 21. No Centro de João Pessoa, é possível observar residências de paraibanos influentes que hoje caem aos pedaços, descaracterizando e apagando a opulência que viveram com a presença de seus antigos moradores. Nessa situação encontram-se 87 casarões históricos em João Pessoa, que, de acordo com a Defesa Civil, enfrentam riscos de desmoronamento, sem contar muitos outros que estão, aos poucos, se transformando em ruínas. Dentre estas residências está o casarão dos Gama e Mello.
Antônio Alfredo da Gama e Mello, proprietário do casarão, assumiu o cargo de presidente da província (equivalente a governador do Estado) entre os anos de 1896 e 1900. Além de uma atuante e marcante vida política, ele ainda foi um grande intelectual, conforme o historiador José Octávio de Arruda Melo, autor da obra 'Uma História da Paraíba'.
“Antônio Alfredo da Gama e Mello era jornalista, intelectual de boa categoria e muito respeitado no final do século 19. Ele foi autor do primeiro editorial de um jornal do Estado, era professor de Latim. Um homem muito inteligente”, explicou. O 'sobrado amarelo da Rua Nova' – como era conhecido – foi residência do político até 1908, ano de seu falecimento.
Na década de 20, na mesma casa, nasceu o escritor e acadêmico paraibano Virginius da Gama e Mello, homenageado com o nome da edificação. Conforme o historiador, Virginius também se destacou como intelectual, falecendo em 1975.
Hoje, quem passa pela frente do casarão, que fica localizado na rua General Osório, próximo à Catedral Basílica de Nossa Senhora das Neves, desconhece a história que fica por trás da fachada em ruínas. Anteriormente conhecida de 'Rua Nova', aquela é uma das mais antigas da cidade e abrigava a residência de famílias influentes do Estado. No local, hoje, quem passa pela frente vê fachadas deterioradas e árvores que encobrem a frente das residências. A dos Gama e Mello hoje se encontra em ruínas, praticamente apenas com a fachada, que está em avançado estado de deterioração, de pé. Dentro do prédio, todo o telhado já caiu e não se sabe se hoje o local representa perigo para quem passa pela sua frente.
DEFESA CIVIL
De acordo com o coordenador da Defesa Civil do Município de João Pessoa, Noé Estrela, pelo menos 87 casarões enfrentam risco de desmoronamento na cidade. Ele revelou que desconhece que no casarão dos Gama e Mello existam riscos iminentes de desabamento que exijam a necessidade de sinalização do local e destacou que a responsabilidade de restauração destes não é do Estado ou do município.
“É responsabilidade do Instituto do Patrimônio Histórico do Estado da Paraíba (Iphaep) apenas analisar e notificar os proprietários para que tomem alguma providência. Se for da responsabilidade da prefeitura, isso fica com a Coordenadoria do Patrimônio Cultural (Copac). Quanto aos riscos, não temos conhecimento sobre esse casarão específico, mas vamos analisar”, assegurou.
A superintendente do Iphaep, Cassandra Figueiredo, informou que o imóvel, pertencente à família Gama e Mello, se restringe hoje somente à fachada. Ela explicou que, ao assumir a superintendência do órgão, implantou um cronograma contínuo de fiscalização, notificando proprietários e embargando obras irregulares sem autorização do Iphaep. Nos casos de abandono, ela revelou que o órgão vem entrando com Ações Civis Públicas. “Estamos fazendo isso para que a Justiça possa determinar a preservação por parte do proprietário e esse imóvel (dos Gama e Mello) faz parte desses casos”, afirmou, revelando, ainda, que dos 87 em risco, 23 já saíram por já terem sido recuperados.
A reportagem tentou contato com Fernando Milanez Neto, coordenador da Copac, contudo ele não atendeu às ligações. A reportagem ainda procurou o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Cláudio Nogueira, contudo ele disse que, apesar de ser um imóvel tombado pelos dois órgãos de proteção, o Iphaep é quem está à frente dessa questão.
Também tentamos localizar os proprietários do imóvel, por meio do Iphaep, da Secretaria de Planejamento da capital, da Defesa Civil e de historiadores, contudo não obtivemos êxito.
PROTESTO
O descaso com o casarão dos Gama e Mello foi motivo para um protesto, realizado no último dia 1º por intelectuais residentes na capital. Conforme o historiador Wills Leal, organizador do movimento, o dia relembrou os 40 anos da morte de Virginius da Gama e Mello e os 39 anos de promessas de que na sua antiga residência seria construído um memorial. Conforme Leal, os intelectuais elaboraram um documento de repúdio no dia do protesto revelando o descaso e pedindo providências com relação a essa questão.
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