VIDA URBANA
Catadores deixam casas para 'acampar' em lixão
Publicado em 08/12/2013 às 8:00
Dividindo comida retirada do lixo com urubus e outros animais. Disputando espaço com a sujeira, muita fumaça e bichos peçonhentos. Suscetíveis a doenças e risco de acidentes.
Vivendo em condições subumanas e insalubres. Quase dois anos após o fechamento do lixão de Campina Grande, esta ainda é a realidade para muitos dos catadores que sobreviviam da coleta de lixo no local. Agora, eles abandonam as próprias casas no bairro Mutirão por semanas e montam barracos, com pouca ou quase nenhuma infraestrutura, dentro do lixão de Queimadas, no Agreste paraibano, onde mais de 50 estão trabalhando.
No meio da fumaça, acostumada com o mau cheiro e castigada pelo sol e pela rotina no trabalho, está dona Edna dos Santos, 41 anos, desde os seis, catadora no lixão de Campina. Criou os filhos e ajudou a criar os netos, com a renda obtida na coleta, que não passava de R$ 300 por mês. Não teve outra alternativa, segundo ela própria, a não ser migrar para o lixão de Queimadas, onde trabalha hoje, em condições piores do que as que enfrentava na Rainha da Borborema.
Enquanto conversa com a reportagem do Jornal da Paraíba, Edna mostra uma sacola com pão e uma garrafa de refrigerante, parte do café da manhã do dia, achados no meio do lixo. “A gente acha muita comida, muita carne. Eu tenho que dizer que a gente come sim. É o jeito. Essa é a nossa situação aqui”, revela. Além dela, o marido, mais quatro filhos e o cunhado estão no lixão de Queimadas. “Eu passo muitos dias sem ver minha casa em Campina. Está tudo abandonado lá.
Faz tantos dias que fui lá que acho que deve estar tudo um caos. Como aqui fica muito longe, a gente montou esses barracos aqui e a gente fica até três semanas direto, catando lixo nos três turnos muitas vezes”, conta. A renda atual da catadora varia entre R$ 150 e R$ 250.
O lixão de Queimadas está localizado na entrada da cidade, nas imediações do Sítio Zé Velho, próximo da BR-104. É preciso percorrer um trecho extenso de estrada de terra para chegar até o local. O catador Pedro Júnior Santos, 21 anos, fazia o trajeto de Campina até o lixão de bicicleta ou a pé.
Cansado da rotina pesada, ele também deixou a casa no bairro Mutirão praticamente abandonada. “É longe demais. É melhor a gente ficar direto. Passo três semanas aqui dentro, vou em casa e passo um dia, dois, depois tenho que voltar", diz. O aterro de Puxinanã, para onde os resíduos sólidos de Campina Grande são encaminhados agora, não recebe catadores.
Claudionor dos Santos, 33 anos, é outro catador que migrou do lixão de Campina para o de Queimadas. “Prometeram um galpão pra gente trabalhar, organizado, mas até agora não vimos nem a cor dele. Eu não podia ficar sem renda”, disse.
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