VIDA URBANA
Cidade cresce em desordem desrespeitando meio ambiente
Bairros distantes do Centro da capital e desprovidos de infraestrutura adequada são consequências disso.
Publicado em 12/10/2014 às 14:00
Nas duas últimas décadas, João Pessoa cresceu para onde não deveria. Esse foi o diagnóstico apresentado no estudo ‘Crescimento Urbano’, da prefeitura da capital, financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A consequência do crescimento desordenado são bairros distantes da área central e desprovidos de infraestrutura adequada, que inclui equipamentos de saúde, educação e segurança. Por conta disso, o Plano Diretor da cidade deve ser reformulado em breve. A mancha urbana também não respeitou o meio ambiente e as áreas de risco, agravando a situação da capital.
A expansão de bairros na zona sul da cidade é um dos exemplos do crescimento errado, segundo o secretário municipal de Receita, Adenilson de Oliveira Ferreira. O estudo do BID, que levou seis meses para ser concluído, servirá de base para que o poder público municipal possa traçar estratégias para corrigir as falhas que vieram junto com a especulação imobiliária e o inchaço populacional. O objetivo, segundo o secretário, “é garantir qualidade de vida aos moradores de João Pessoa, mantendo o equilíbrio na cidade”.
A realidade vivida pelos moradores do bairro Valentina Figueiredo ilustra bem a situação relatada no estudo sobre a mancha urbana. Quem precisa se deslocar de ônibus até o Centro da capital gasta, em média, 50 minutos. Isso sendo otimista que não vai encontrar um congestionamento no meio do caminho. A vendedora Fernanda Lacerda trabalha em uma loja e disse que precisa acordar cedo para não perder a hora. “Moro no Valentina há 15 anos e sempre tive dificuldade na questão da mobilidade”, declarou.
Segundo o secretário, um dos investimentos feitos no bairro aconteceu recentemente, com a instalação da Unidade de Pronto Atendimento (UPA). A chegada de uma agência bancária também se fez necessária diante da quantidade de pessoas que moram no bairro. Mesmo assim, a infraestrutura é considerada precária por alguns moradores. “Acho que o Valentina deveria ser como Mangabeira, que tem de tudo”, afirmou o aposentado João Almeida.
A localidade conhecida como Novo Geisel, que fica entre o Cuiá e o Colinas do Sul, é vista como mais um desafio para a prefeitura da capital. De acordo com Ferreira, é preciso ter um apelo na construção civil para que a expansão não continue da forma como está acontecendo. “Ao negociar um imóvel em uma área distante, você está comprando uma casa ou apartamento onde não há infraestrutura. No primeiro momento vai parecer uma perda, mas com o tempo todos vão ganhar”, declarou.
Outro exemplo de desordenamento na cidade é o que acontece no Portal do Sol, próximo ao Altiplano, onde foram construídas mansões, mas falta esgotamento sanitário, conforme afirmou o secretário da Receita. A população estimada de João Pessoa, segundo o Censo 2014, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de 780.738 habitantes.
O secretário de Planejamento Rômulo Polari confirmou que um grupo de trabalho estuda as mudanças do Plano Diretor da cidade. “João Pessoa cresce como todas as cidades, mas tem sua dinâmica própria e o poder público tem que ordenar seu uso”, declarou Polari. Segundo ele, ainda não há data prevista para que as alterações do Plano Diretor sejam apresentadas, mas que isso deve acontecer em breve.
Ainda de acordo com o secretário, não tem planejamento que possa prever um crescimento como o registrado em João Pessoa. “O que acontece é que o poder público tem que correr atrás do prejuízo, ampliando e melhorando a infraestrutura. A tendência é que a cidade cresça ainda mais, por isso o Plano Diretor se torna um instrumento importante e fundamental para disciplinar o uso do solo”, explicou. O Plano Diretor de João Pessoa foi elaborado no ano de 1992 e atualizado em 2009.
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