VIDA URBANA
Com água poluída, rios de João Pessoa estão em situação de alerta
Relatório divulgado pela Fundação SOS Mata Atlântica indica situação preocupante nos rios Jaguaribe, Gramame e Tambiá.
Publicado em 22/03/2016 às 8:00
A dona de casa Maria Barbosa assiste a morte do rio Jaguaribe aos poucos, da porta de casa, construída às margens do curso de água, no bairro do Castelo Branco, em João Pessoa. O forte odor exalado aliado à cor escura e a consistência 'grossa' da água atestam a poluição do rio. Hoje, 'Dia Mundial da Água', o Jaguaribe soma-se aos rios Tambiá e Gramame, cuja qualidade da água é classificada como ruim, conforme relatório divulgado hoje pela Fundação SOS Mata Atlântica. No caso do rio Gramame, a água é utilizada para o consumo da população da capital.
O estudo, feito por Organizações Não-governamentais (ONGs) e voluntários, coletou e analisou amostras de água em 13 pontos de sete rios localizados na região litorânea da Paraíba. E nenhum dos cursos de água estudados apresentou qualidade boa ou ótima. Além dos três rios considerados como ruins, os demais receberam a classificação de regular.
No rio Jaguaribe, que teve três trechos analisados em diferentes pontos da cidade, o despejo de esgoto doméstico e descarte de lixo são os principais poluentes. Na casa de Maria Barbosa o lixo proveniente da limpeza do lar é separado em sacos plásticos e coletado. Mas o esgoto que sai do banheiro e da pia não recebe o mesmo cuidado. É lançado nas águas e junta-se aos demais dejetos que acompanham os 21 quilômetros de extensão do rio.
“Lembro que minha mãe lavava roupa nesse rio e eu já tomei banho nele quando era limpo. Hoje é essa tristeza”, lamentou Maria Barbosa, que mora na comunidade há 20 anos. O despejo de lixo também é outro agravante para a morte do rio. “Eu junto o lixo da minha casa, mas tem gente que acha mais fácil jogar no rio. De televisão a sofá tem aí dentro”, reclamou o morador Manoel Messias.
Segundo a coordenadora do projeto 'Observando os Rios da Paraíba', desenvolvido pela ONG SOS Mata Atlântica, Vívian Maitê, a situação dos cursos de água analisados no Estado indica que os mananciais estão em situação de alerta, se comparado ao quadro nacional revelado pela pesquisa. Conforme a pesquisadora, entre as substâncias poluentes encontradas na análise das amostras coletadas estão principalmente o fósforo e o nitrato. “O fósforo está presente nos detergentes domésticos e o nitrato também é um resíduo de esgoto doméstico. Esses componentes, em grande quantidade, se juntam a outros poluentes ao longo do curso”, explicou.
O principal fator para que a poluição de rios que, assim como o Jaguaribe, passam por dentro das cidades é a precariedade no saneamento básico, que inclui a rede de tratamento de esgoto. Além de matar os rios aos poucos, a ação da água contaminada afeta também o ecossistema de manguezais e até mesmo a vida marinha.
“A falta de saneamento básico tem resultado direto na poluição de rios e também do mar. Estamos gastando mais dinheiro para tratar doenças do que para cuidar da qualidade da água”, criticou Vívian Maitê.
Semam aplica mais de 120 autos de infração
A Secretaria de Meio Ambiente da capital (Semam) computou, nos últimos três anos, 122 autos de infração em relação à degradação ambiental de rios e mananciais da cidade. Nessas infrações estão inseridos danos causados por residências, condomínios, e, sobretudo, indústrias e empresas estatais de água e esgoto. Conforme informações da pasta, divulgadas através de nota, os mananciais existentes na capital estão ameaçados ainda pela supressão da vegetação das matas ciliares e assoreamento dos leitos dos rios e riachos.
A secretária da Semam, Daniella Bandeira, disse na nota que a prefeitura faz cerceamento e sinalização de trechos de Áreas de Preservação Permanente (APPs) dos rios, limpeza de resíduos domésticos e da construção civil e demolição em APPs de corpos hídricos, ações de desassoreamento e plantio com espécies nativas do Bioma Mata Atlântica em APPs.
O QUE DIZ A CAGEPA
Por sua vez, o engenheiro responsável pelos projetos da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa), João Paulo Neto, revelou que até o final do ano a capital e Região Metropolitana terão 100% de cobertura de saneamento básico, no que se refere à rede de coleta e tratamento de esgoto.
Sobre a poluição por parte da Companhia em alguns rios, como o Jaguaribe, que passam pela capital, o engenheiro explicou que o problema ocorre principalmente devido a ligações clandestinas de esgoto na rede fluvial. Além disso, problemas elétricos ou mecânicos circunstanciais podem comprometer, ainda que temporariamente, o funcionamento do sistema nas estações elevatórias.
análises
O estudo analisou 183 pontos em rios, córregos e lagos em 12 estados brasileiros. As coletas para o levantamento têm como base a legislação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama 357/2005). Para a avaliação da qualidade da água são considerados 16 parâmetros, incluindo níveis de oxigênio dissolvido, fósforo, nitrato, demanda bioquímica de oxigênio, coliformes, turbidez, cor, odor, temperatura da água, pH, entre outros parâmetros biológicos e de percepção.
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