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VIDA URBANA

Comunidade Pedro Velho, que desapareceu em 2004, ressurge com seca

 Localidade, que fica em Aroeiras, desapareceu em 2004, dois anos após a construção da barragem de Acauã

Publicado em 26/07/2015 às 8:00

Sentada em uma rocha no meio da vegetação que agora cresce, dona Maria das Dores, 63 anos, pastora sua criação de ovelhas e conversa com a amiga, Neta. Elas relembram, minuciosamente, cada detalhe daquilo que um dia foi a comunidade Pedro Velho, na cidade de Aroeiras, Cariri paraibano. Inundada na última cheia do rio Paraíba, em 2004, dois anos após a construção da barragem de Acauã, Pedro Velho, com suas casas, escolas, igrejas, praças e até mesmo um cemitério, desapareceu debaixo das águas.

Após cerca de 10 anos submersa, em virtude da prolongada estiagem que castiga o Cariri do Estado há 4 anos seguidos, o volume da barragem começou a diminuir drasticamente e as áreas, outrora inundadas, começaram a ressurgir com toda a sua história, esquecida pelas autoridades, mas lembrada diariamente por quem nasceu e viveu no lugar.

“Eu lembro de tudo como era, nasci e me criei aqui”, conta dona Maria das Dores, apontando para o que hoje é apenas vegetação e restos de construções: “se eu fechar os olhos, sei que aqui na frente era o mercado, e por trás, a escola. Lembro dos meus amigos, dos meus vizinhos, da vida que eu tinha aqui e que acabou, nunca mais foi a mesma. Todos os dias, depois que a barragem foi secando, eu venho para cá com meus ‘bichos’, é uma forma de também ficar perto do que me fazia feliz”.

O desabafo da antiga moradora dá uma ideia, mas não mensura o prejuízo vivido por mais de 900 famílias que tiveram que sair de suas casas, em virtude da construção da barragem de Acauã. Além da comunidade Pedro Velho, o povoado de Cafundó, também em Aroeiras e Cajá, em Itatuba, foram inundados. Um impacto impossível de ser avaliado para cerca de cinco mil pessoas.

O que restou das antigas comunidades, ressurgidas após a seca, servem como uma espécie de santuário, aonde os moradores voltam diariamente para relembrar suas vidas antes do episódio. “Dá muita saudade, eu tinha oito anos quando a gente teve que sair de lá, mas ainda lembro as brincadeiras na rua, a escola. Quase todos os dias eu vou até lá com minha irmã, só para recordar”, contou o estudante Emanoel Bernardo da Costa, hoje com 19 anos.

Na época da construção da barragem, concluída em 2002, era previsto um prazo de 10 anos para a mesma atingir a cota de sangria, o que aconteceu após dois anos, em 2004. Para o coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que também era morador de Pedro Velho, Osvaldo Bernardo, a barragem de Acauã foi uma obra que desconstruiu memórias e violou direitos.

“Os moradores tinham um modo de vida simples, mas adequado a sua realidade. Famílias que possuíam terras, acesso à água potável e energia elétrica, além de desenvolverem atividades agrícolas e de criação de animais. A Comissão Nacional de Direitos Humanos constatou em Acauã o pior exemplo de barragem do Brasil, que desrespeitou em diversos aspectos os direitos humanos, arbitrariamente negados, violados e nunca devolvidos”.

Restos mortais reaparecem

Uma das maiores preocupações dos moradores de Pedro Velho, à época da cheia, era com o cemitério da comunidade, que ficou submerso sem que nenhum resto mortal fosse retirado do lugar. Um dos maiores desrespeitos aos direitos humanos, privando a população de velar os seus mortos. Agora, depois que a água recuou, o local foi um dos primeiros visitados pela população.

Alguns túmulos ainda estão em perfeitas condições. E justamente por isso, dona Maria das Dores Barbosa vai todos os dias visitar o local onde sua mãe está sepultada. “Eu sei o ‘canto’ porque tinha um quadrinho com a foto dela. Hoje em dia, a foto se apagou, mas ainda ficou o quadro lá. Isso é muito importante pra nós, ninguém tem como saber”, disse a agricultora.

Conforme o coordenador do MAB, Osvaldo Bernardo, o governo do Estado já se comprometeu em fazer o translado dos restos mortais o mais rápido possível, antes que uma nova cheia volte a inundar o local.

Imagem

Jornal da Paraíba

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