VIDA URBANA
Comunidades apoiam decisão do arcebispo
MPPB investiga casos de pedofilia envolvido dois padres de João Pessoa.
Publicado em 21/08/2013 às 6:00 | Atualizado em 14/04/2023 às 16:10
Membros de comunidades católicas apoiam a decisão do arcebispo da Paraíba, dom Aldo Pagotto, em denunciar as suspeitas de pedofilia por parte de dois padres que atuam em João Pessoa. Para os religiosos e leigos pertencentes às comunidades, tanto os sacerdotes quanto as pessoas vocacionadas e que estejam engajadas em grupos ou paróquias devem ter a responsabilidade moral sobre os atos e responder criminalmente, caso se envolvam com esse tipo de crime.
Em reportagem publicada na edição de ontem do JORNAL DA PARAÍBA o arcebispo declarou que pelo menos dois sacerdotes estão afastados da Arquidiocese por suspeitas da prática de pedofilia, é um crime previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Ontem, através de comunicado, o Ministério Público da Paraíba (MPPB) confirmou que "o caso foi encaminhado diretamente ao procurador-geral de Justiça, Oswaldo Trigueiro do Valle Filho". A assessoria de comunicação informou ainda que "a denúncia está sendo analisada pela Assessoria Criminal da Procuradoria-Geral de Justiça para que sejam dados os devidos encaminhamentos".
Trabalhando há 5 anos com crianças e jovens na comunidade católica Doce Mãe de Deus, na capital, o padre Márcio José afirma que nunca ouviu denúncias de prática de pedofilia em novas comunidades. Na opinião do religioso, a Igreja Católica deve investigar as denúncias e punir os responsáveis pelo ato, seja sacerdote ou não.
“A pedofilia é também um mal social. O primeiro julgamento deve ser feito a partir da instância judicial e o adulto responsável por isso deve responder na Justiça. A violência sexual contra menores, de fato, causa uma lesão na psicologia do menor. Mas tem que se ver também as questões psicológicas do agressor, o que não justifica o crime. Isso é um fato que a igreja não tem que fechar os olhos e formar bem os atos morais dos religiosos”, disse.
O responsável pela comunidade católica Shalom, em João Pessoa, Éder Cavalcanti, falou sobre a importância do acompanhamento espiritual e psicológico para quem deseja ingressar no sacerdócio ou comunidades religiosas. “Nossa comunidade tem 31 anos e eu nunca soube de problemas envolvendo pedofilia. No nosso caso, a formação para ser um membro é muito incisiva. No nosso grupo de oração, todos são levados a um itinerário formativo (fases) e toda pessoa quem vem para um grupo de nossa comunidade é acompanhada por um dirigente espiritual, que vai ajudar a organizar a vida dessa pessoa”, explicou.
Para o representante da Shalom, as pessoas envolvidas em casos de pedofilia devem responder pelos atos, mas também ser ajudadas. “As pessoas que têm tendência nessa linha podem ser vítimas de traumas sofridos na infância ou outros problemas.
Essa pessoa deve ser olhada como alguém que também precisa de ajuda, além da punição. Esse é um problema que atinge a nossa sociedade, essas pessoas também precisam de um tratamento médico ou psicológico”, completa.
Nas ruas do Centro da capital, a opinião da população é unânime quanto a punição de quem comete a pedofilia. Embora seja evangélica, a dona de casa Elizângela Alves afirma que o abuso de crianças e adolescentes por parte de religiosos acontece também no meio evangélico. “A gente se espanta de ver que uma coisa dessas pode partir de um padre. Mas, infelizmente, na igreja evangélica também acontece. Não dá para entender”, lamentou.
Católica desde que nasceu, Glória da Silva afirmou que já houve boatos de assédio na igreja que ela frequenta, em um bairro da zona norte da capital. “Na minha paróquia, há quase dois anos, o pessoal comentava de um caso. Mas a gente não sabe se foi verdade e não foi provado. Mesmo assim, a gente fica meio apavorada e espantada”, revela.
Já a comerciária Marcela Jackeline acredita que a pedofilia, quando parte de religiosos, é falta de respeito ao próximo.
“Com todas as barbaridades que acontecem hoje, não me espanto mais com nada. O ser humano é capaz de tudo e as pessoas que fazem isso não têm amor ao próximo”, criticou.
MEDIDAS DE PROTEÇÃO
Quando as denúncias investigadas pela 4ª Promotoria Criminal do Juizado da Infância e Juventude são confirmadas, a criança ou adolescente que sofreu pedofilia é encaminhada à Promotoria da Infância e Juventude, que oferece medidas protetivas às vítimas. Segundo o promotor da Infância e Juventude, Aley Escorel, na maioria dos casos o crime acontece na casa das vítimas e com parentes ou pessoas próximas.
“Em 70% dos casos de pedofilia, a vítima conhece o agressor e, em quase 50% deles, o agressor tem grau de parentesco com a criança ou adolescente”, disse o promotor. Segundo Aley Escorel, as vítimas de pedofilia recebem acompanhamento psicológico e, dependendo do caso, devem ser afastadas do convívio com o autor do crime. “Se o autor for alguém que more na casa da criança, podemos pedir a expulsão do agressor. Se o abuso partir dos responsáveis pela criança, pode-se mover uma ação para destituir o poder familiar”, explicou Escorel.
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