Conselho Tutelar da Criança já confirmou 94 denúncias

Nas ruas ou dentro de casa, crianças e adolescentes são negligenciados pela família, todos os dias, em Campina Grande. Somente entre janeiro e março deste ano, nos quatro Conselhos Tutelares, 94 denúncias foram confirmadas das 404 queixas registradas. O descuido vai desde a falta de higienização das crianças e a sua presença durante o uso de drogas por parte dos pais. Segundo conselheiros tutelares, a negligência acontece principalmente pela condição de pobreza na qual vivem muitas famílias, que estão sem perspectiva de futuro.

Quase todos os dias, os conselhos tutelares de Campina Grande, que se dividem em Norte, Sul, Leste e Oeste, recebem denúncias de crianças que estão sofrendo algum tipo de descuido, pela desatenção dos pais ou responsáveis. Conforme a conselheira tutelar da região Oeste, Soraya Moura, as denúncias são feitas por escolas, hospitais, parentes e pela própria comunidade onde vivem as crianças.

No Conselho Tutelar Sul, onde estão localizados bairros como Tambor e Três Irmãs, é onde foram recebidas mais denúncias de negligência durante os três primeiros meses do ano. Foram 40 denúncias comprovadas de negligência, entre as 175 recebidas; no Conselho Tutelar Oeste, onde ficam os bairros do Pedregal e Serrotão, foram 23 casos de negligência, das 60 denúncias; no Conselho Tutelar Leste, onde estão os bairros de Vila Cabral e José Pinheiro, foram 16 casos, das 101 denúncias e; no Conselho Tutelar Norte, que abrange os bairros do Araxá e Jeremias, foram 15 casos, entre as 68 denúncias.

“Acontecem muitos casos chocantes na cidade, como por exemplo, pais que obrigam seus filhos a pedir na rua para usar drogas ou ainda pessoas que recebem o benefício e que gastam toda a renda que era para ser revertida com as necessidades da família para comprar bebida alcoólica ou entorpecentes. Em outros casos, existe o abandono da criança dentro de casa, quando ela não é alimentada, quando não faz a sua higienização. Essas crianças acabam adoecendo e muitas vezes o estado de saúde delas é tão agravado, que elas têm que ser levadas por nós ao hospital”, informou a conselheira Soraya Moura,

Apesar da grande maioria dos casos estar relacionada à falta de estrutura familiar e econômica, também são encontrados casos de negligência entre as famílias financeiramente abastadas. Ela contou que existem famílias que transferem os cuidados para empregados e que passam meses fora do país, mesmo com crianças pequenas ou que possuam algum tipo de necessidade especial. “Existem casos como este, quando os próprios parentes acabam denunciando”, contou.

Contudo, de acordo com a conselheira da região Norte, Sandra Nunes, o perfil da maioria dos genitores negligentes geralmente é de pessoas entre 20 a 40 anos de idade, que moram em bairros pobres da cidade em situação de vulnerabilidade social e que já sofreram negligência durante a infância e adolescência. “Quando o conselho tutelar é acionado, existe inicialmente a orientação e advertência, mas muitas vezes, mesmo havendo a solicitação dos órgãos municipais, como os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), ocorre a reicindência da negligência”, disse.