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VIDA URBANA

Corpo saudável afasta preocupação com Aids

Ideia de que 'corpo bonito' está saudável engana jovens que transmitem o vírus HIV sem mesmo imaginar que contraíram.

Publicado em 25/05/2014 às 14:00 | Atualizado em 29/01/2024 às 15:16

A crença de que o corpo aparentemente saudável não pode esconder uma doença sexualmente transmissível e sem cura é algo que passa na cabeça de muitos adolescentes. Por esse motivo, alguns jovens transmitem vírus como o HIV, causador da Aids, sem mesmo imaginar que o contraíram, seja por este tipo de relação ou por objetos infectados.

Segundo a coordenadora do Núcleo de DST/Aids, da Secretaria Estadual de Saúde (SES) da Paraíba, Améris Araújo, uma grande preocupação da saúde, em todo o Brasil, é informar sobre os riscos que boa parte desse público acha que não está correndo.

Desde 2012 foram 22 casos de Aids no Estado (de jovens entre 10 e 19 anos de idade), sendo 12 do sexo masculino), mas a coordenadora acredita que a maioria ainda não procura ou não conhece o Teste Rápido, que pode diagnosticar a doença em 30 minutos.

São realizados cinco mil testes de HIV, em 190 cidades paraibanas mensalmente, mas cerca de apenas 15% foram realizados em adolescentes. Améris Araújo continuou dizendo que a informação, no caso específico de doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids, deve ser focada principalmente nos jovens, através de campanhas nacionais, nas escolas e também dentro de casa.

“Só assim, eles se tornarão adultos conscientes. Isso deve acontecer especialmente porque as experiências sexuais estão acontecendo cada vez mais cedo e, como sabemos, os jovens são mais despreocupados quando o assunto é saúde. Muitas vezes o ato não é pensado, eles não usam preservativos, não se protegem e também existe a ideia de que um corpo bonito não está doente, mas muitas vezes ele só é aparentemente saudável”, explicou Améris Araújo.

De acordo com ela, também em grande parte das vezes, o próprio infectado não sabe que adquiriu o vírus, que ataca as células de defesa do organismo, justamente porque a Aids pode se manifestar depois de anos da transmissão, até 10 anos, sem que o corpo apresente reações.

Segundo a gerente operacional das DSTAids e Hepatites Virais da SES, Ivoneide Lucena, também existe uma banalização das relações, sem que o adolescente se preocupe com a sua continuidade.

“O adolescente acredita que esse problema não vai acontecer com ele e não está preocupado em dar continuidade a uma relação. Muitos também pensam que por a doença ter um tratamento, isso não é preocupante, mas o problema é que a Aids não tem cura”, alertou.

Conforme a coordenadora Améris Araújo, o primeiro passo pode acontecer através da realização do Teste Rápido, mas ainda existe uma certa dificuldade, justamente porque os adolescentes não querem confirmar que já são sexualmente ativos. “Quando conversamos com os grupos de adolescentes e perguntamos sobre isso, quase todos afirmam que não tiveram relações do tipo, por medo de que sejam descobertos pelos pais ou que sejam apontados na escola, etc., mas durante uma conversa mais reservada, antes da realização do teste, eles acabam se abrindo mais e confirmando. É importante dizer que o diálogo e a informação são muito importantes, até porque os jovens são muito abertos ao conhecimento, então eles não podem deixar de receber orientação, isso evita muitas consequências negativas”, contou.

SAÚDE DEVE LEVAR TESTE RÁPIDO PARA TODA A PARAÍBA

Na Paraíba, 190 municípios realizam testes rápidos para diagnosticar HIV, Sífilis e hepatites B e C, mas a intenção da SES, é de que até o final deste ano, todos os 223 municípios possam receber o serviço, conforme informações da gerente operacional das DSTAids e Hepatites Virais, Ivoneide Lucena.

Como o próprio nome já diz, além de rápido o teste é seguro e uma vez detectado com reagente positivo (no caso do HIV), o paciente já é encaminhado às unidades de referência, que são o Hospital Clementino Fraga e Hospital Universitário Lauro Wanderley (para as gestantes), ambos em João Pessoa.

A coordenadora do Núcleo de DST/Aids, Améris Araújo, informou que os pacientes continuam sendo acompanhados e, em qualquer situação necessária, podem receber atendimento nas referências, mas também existem cinco unidades de Serviços de Assistência Especializada (SAE), em quatro cidades paraibanas (João Pessoa, Cabedelo, Santa Rita, Campina Grande), que podem receber esses pacientes. Segundo ela, o tratamento é feito através da ingestão de três comprimidos diariamente e que são distribuídos pelo Ministério da Saúde (MS), através das oito Unidades Dispensadoras de Medicamentos - localizadas em João Pessoa (com duas), Campina Grande (com duas), Santa Rita, Patos, Cajazeiras e Cabedelo - e mais brevemente em Sousa.

“A nossa intenção é chegar com o Teste Rápido em todos os municípios, mas para isso precisamos da ajuda deles próprios para essa expansão, porque é necessário um espaço adequado e especialmente para a realização dos testes, inclusive com a presença de um profissional formado, que será capacitado exclusivamente para isso”, explicou. Conforme disse, o Ministério da Saúde pretende atender esses pacientes através das unidades de Atenção Básica, no futuro, mas para isso terá que enfrentar também questões sociais.

“Sendo atendido na unidade de saúde mais próxima de sua casa, dentro de sua comunidade, o paciente pode se sentir constrangido. Isso também é um obstáculo que a saúde pública deve enfrentar, infelizmente porque ainda existe um certo preconceito com relação aos portadores de doenças sexualmente transmissíveis”, disse. Outro ponto positivo e que deverá ser analisado pelo MS é a substituição de um comprimido pelos três ingeridos hoje pelos pacientes. “É algo que, provavelmente em junho, começará a ser testado”, frisou.

VOLUNTÁRIOS AJUDAM SOROPOSITIVOS EM CG

Vinte soropositivos de Campina Grande ajudam outros jovens com a mesma condição através de orientação sobre os benefícios de adesão ao tratamento, qualidade de vida e prevenção. São pessoas de 13 a 29 anos de idade e que adquiriram a doença através de transmissão vertical (diretamente da mãe para o filho) e horizontal (quando o vírus é transmitido através de relações sexuais ou objetos cortantes infectados) e que fazem parte da Rede de Jovens e Adolescentes vivendo com HIV/Aids.

De acordo com uma de suas participantes, a universitária Cinthia Elise Camilo, a rede funciona também em âmbito nacional, com coordenações regionais e estaduais. Ela explicou que além de informar e orientar jovens que passam pela mesma situação, eles discutem e recebem palestras sobre políticas públicas nessa área. “A rede não possui sede e nem CNPJ e nossas ações sempre acontecem através de parcerias com os núcleos estadual e municipal, das secretarias de saúdes e SAE, além de outras organizações”, informou.

Para a universitária, que tem 21 anos e adquiriu o vírus através de transmissão vertical, infelizmente os jovens ainda não estão bem orientados sobre a vivência com o HIV. “Mesmo com tantos meios de comunicação hoje, os jovens se negam a fazer uma prevenção, se negam a procurar orientação e isso é uma barreira na qual temos que driblar. Eu nasci soropositiva na década de 90 e ninguém diria que eu estaria viva hoje", disse

A universitária descobriu a sorologia aos 14 anos. "Foi um período muito difícil em minha vida, que graças à rede de jovens eu consegui passar e hoje sou muito bem resolvida com a minha condição sorológica. Levo uma vida tranquila como qualquer um da minha idade. Estudo Enfermagem, namoro, brinco, danço, choro, dou risada e vivo intensamente”, disse.

Segundo ela, pelo menos 50% dos jovens que fazem parte da rede receberam o vírus por transmissão horizontal.

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Jornal da Paraíba

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