VIDA URBANA
Crescem denúncias de erros de enfermagem
Em 2011 o Coren-PB recebeu apenas uma denúncia, já no ano passado foram 16 casos registrados
Publicado em 17/02/2013 às 10:10
O aumento nos últimos anos do número de enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem na Paraíba tem sido proporcional à preocupação do Conselho Regional de Enfermagem da Paraíba (Coren) acerca de denúncias contra erros cometidos por esses profissionais. Atualmente com mais de 28 mil trabalhadores registrados, o órgão viu subir de uma em 2011 para 16 no ano passado (aumento de 1.500%) as queixas contra o mau exercício da profissão, um dado que colocou em alerta o Coren.
Com uma média de fornecer ao mercado de trabalho paraibano, a cada final de ano, cerca de quatro mil profissionais, o Coren projetou aumentar a fiscalização nas instituições de ensino para reforçar a qualificação da formação e evitar que esse número continue subindo. De acordo com Ronaldo Miguel Bezerra, presidente do Conselho na Paraíba, nos últimos 12 meses as denúncias não se restringiram apenas a problemas entre empregadores e empregados, mas também por denúncias da população com relação ao atendimento.
“Este é um problema muito complexo. Não podemos dizer que simplesmente o enfermeiro erra, já que em muitos casos ele é levado ao erro pelo acúmulo de serviço. Para cada 10 pacientes em uma UTI, por exemplo, é preciso ter um enfermeiro, mas já autuamos hospitais que abrigam 15 ou até 20 pacientes para apenas um profissional, o que aumenta a carga de trabalho do enfermeiro deixando-o mais vulnerável ao erro. Isso também precisa ser revisto”, disse.
Essa sobrecarga de trabalho apontada pelo Coren foi confirmada pela presidente do Sindicato dos Enfermeiros da Paraíba. Segundo Eva Vicente da Silva, a jornada de 44 horas semanais e o grande número de pacientes sob a responsabilidade do profissional acabam contribuindo para que erros sejam cometidos pelo excesso de carga de trabalho, aliado ao cansaço físico e mental. De acordo com ela, o ideal era que a jornada fosse reduzida de 44 horas para 30 horas semanais, o que melhoraria o atendimento nos hospitais.
"Hoje, a carga horária de 44 horas é excessiva. A sobrecarga de trabalho é muito grande, porque o hospital não visa o paciente, mas sim o recurso que entra. Existe hospital que há um enfermeiro para 54 pacientes. Isso é desumano. Ele acaba não dando conta porque a sobrecarga é tão grande que pode induzir o profissional ao erro pelo cansaço físico e mental", explicou a presidente.
O presidente da Associação Paraibana dos Hospitais, Francisco Santiago, nega a existência de denúncias de erros de enfermagem no Estado. Segundo ele, cabe ao Coren fiscalizar o exercício da profissão, mas a denúncia de erros deve ser feita na diretoria do hospital ou na associação. "Não procede a informação de aumento de erros de enfermagem. Este é um argumento utilizado pelo Coren para defender a redução da carga horária do enfermeiro, mas não há registro de ocorrências na Paraíba", afirmou. Ainda segundo Santiago, os hospitais privados não têm condições de arcar com os custos da contratação e vários hospitais estão fechando.
Profisionais reclamam da estrutura
A profissão é dividida entre enfermeiros, que têm graduação; técnicos de enfermagem, cuja formação exige ensino médio e curso técnico de dois anos; e auxiliares, que completam apenas o primeiro ano do curso técnico.
Como a Paraíba conta com 16 escolas de nível superior e 26 de nível técnico, na visão do Coren, este número está adequado às necessidades da população, já que elas estão distribuídas em todo o Estado. “A concentração dessas escolas é em João Pessoa e Campina Grande, mas já temos também instituições em Cabedelo, Santa Rita, Guarabira, Patos, Sousa e Catolé do Rocha”, acrescentou Ronaldo Miguel.
Para Paula Santos, técnica em enfermagem há mais de oito anos e que agora está fazendo curso superior, a principal dificuldade dos alunos está relacionada à falta de estrutura que algumas escolas têm. Segundo ela, tornou-se comum no meio estudantil ouvir que falta investimento em laboratório e profissionais com experiência prática para ministrar as aulas nas escolas de nível técnico. “Muitas vezes o curso não tem laboratório ou falta experiência profissional para alguns professores. O que a gente acaba aprendendo mesmo é quando vamos estagiar nos hospitais”, disse.
Já para Eva Vicente, presidente do sindicato, a quantidade de profissionais formados não afeta a qualidade do serviço. Segundo ela, está faltando profissionais de Enfermagem nas cidades pequenas porque os recém-formados não querem sair dos principais centros. "Não é a formação do profissional que vai dizer se ele é capaz ou não, é a sua postura no trabalho e principalmente se ele tem condições ou não de trabalhar. Quando você expõe alguém à exaustão, não há como impedir que apareça algum erro”, acrescentou.
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