VIDA URBANA
Deslocamento deixa pacientes exaustos
Para fazer tratemento na capital, vítimas de doenças percorrem até 500 km todo mês.
Publicado em 08/04/2012 às 8:00
O deslocamento até a capital deixa o paciente ainda mais exausto no tratamento das doenças. Como se não bastasse a luta para vencer a doença, muitos precisam percorrer uma longa distância até João Pessoa. É o caso de Francisca da Silva, 22 anos, que sai de Cajazeiras, no Sertão, e enfrenta uma via crúcis todo mês com o filho de apenas 5 anos. Os dois têm o vírus HIV e fazem tratamento no Hospital Clementino Fraga.
Quando descobriu que estava grávida, aos 17, Francisca passou a fazer o pré-natal rigorosamente, até porque a família a pressionava. Fez todos os exames, menos o teste de HIV. A consequência foi desastrosa: o vírus foi passado para o bebê na hora do parto. Indignada, Francisca move uma ação de danos morais contra a Secretaria de Saúde de Cajazeiras, alegando negligência médica.
Com o diagnóstico que ninguém deseja ter, Francisca foi orientada a vir para João Pessoa com o filho. E assim o fez, apesar das dificuldades. Por lei, quando uma cidade não oferece tratamento para Aids, a prefeitura tem obrigação de pagar o deslocamento. No caso de Francisca, ela precisa pagar cerca de R$ 130 de passagem. A mulher percorre quase 500 quilômetros até a capital com o filho no colo. Uma viagem desgastante para os dois.
O presidente da ONG Missão Nova Esperança, Vitor Buriti, que abriga portadores do vírus HIV vindos do interior, disse que até para receber os valores das passagens, Francisca tem de esperar meses. "É por essa dificuldade que os pacientes acabam desistindo. Não é fácil enfrentar o tratamento. É uma situação de estresse", disse.
Famup culpa a falta de recursos
O presidente da Federação das Associações de Municípios da Paraíba (Famup), Rubens Germano (Buba), disse que o grande problema é a falta de repasse de recursos para os municípios do interior pela União. “Se os hospitais da capital e de Campina Grande estão sobrecarregados, é importante lembrar que as cidades do interior estão na mesma situação, pois faltam recursos para pagar o deslocamento dos pacientes”, afirmou.
De acordo com Buba, o custo para os municípios é muito alto e nem todos concentram renda para cumprir o que determina a lei.
A consequência é o atraso no repasse para os pacientes.
Germano disse que a maioria dos municípios da Paraíba utiliza ambulâncias para fazer o transporte das pessoas que necessitam de tratamento fora do domicílio. “Só não sei precisar quantos municípios cumprem e quantos não cumprem”, finalizou.
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