VIDA URBANA
Dificuldades para enxergar
Dos 3,7 milhões de paraibanos,17,85% sofrem com algum tipo de deficiência para enxergar; os dados são do IBGE.
Publicado em 21/08/2012 às 6:00
Na Paraíba, os problemas de visão já se tornaram a principal deficiência encontrada na população. Dos 3,7 milhões de habitantes do Estado, 17,85% sofrem com algum tipo de deficiência para enxergar. São ao todo 672.369 pessoas atingidas, segundo o Censo Demográfico 2010, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Deste total, 8.477 são totalmente cegas e outras 142.193 enfrentam dificuldade para ver.
A quantidade de portadores de deficiências oftalmológicas já superou até os registros daqueles que têm problemas auditivos (181.762), locomotivos (213.753) e mentais (62.058).
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, seção Paraíba (SBO/PB), Daniel Alves Montenegro, a principal causa desse número de dificuldades na visão está no difícil acesso da população ao serviço médico.
Ele explica que a Paraíba ainda sofre com a má distribuição de oftalmologistas, que se mantêm concentrados nos grandes centros urbanos, deixando as cidades do interior menos assistidas. Na opinião do especialista, isso prejudica o diagnóstico tardio e causa a demora no início do tratamento.
“Os problemas que acometem principalmente os estudantes são os erros de refração, que chegam a atingir entre 10% a 15% dos alunos, interferindo no processo de alfabetização deles. Sem acesso a consultas oftalmológicas, essas crianças crescem com problemas na visão e na alfabetização, o que se agrava ainda mais com a dificuldade também em adquirir óculos”, declara.
O especialista explica que erros de refração são causados por desvios de luz sobre o globo ocular. Dependendo da situação, eles podem causar miopia, hipermetropia, astigmatismo ou presbiopia. Sem tratamento, os problemas vão evoluindo e podem acompanhar as pessoas na fase adulta. “É na faixa etária dos 40 anos que surgem os casos de glaucoma, que se caracteriza por uma lesão no nervo óptico. O problema é progressivo e, caso não seja diagnosticado a tempo, pode levar à cegueira total”, alerta.
Os sintomas mais comuns são a fisgada no olho, associada a olho vermelho; borramento temporário da visão e percepção de halos coloridos ao redor de luzes. Na maioria dos casos, o glaucoma evolui lentamente, sem que o paciente perceba. O diagnóstico precoce só é feito em exame oftalmológico preventivo.
“No caso do glaucoma, quando se diagnostica precocemente, há um menor grau de lesão do nervo e maior chance de controle da doença. Mas essa possibilidade de diagnóstico é reduzida em regiões onde há poucos oftalmologistas. É preciso remunerar melhor esse profissional, para permitir a melhor distribuição dele no Estado”, explica Daniel Montenegro.
Além da refração e do glaucoma, outro problema que afeta a saúde dos olhos é a catarata. Segundo o oftalmologista Ivandemberg Veloso Lima, a doença ocorre, naturalmente, na maioria das pessoas que alcançam os 60 anos de idade. Ele explica que a catarata é uma proteção que o organismo produz nos olhos para evitar a agressão causada pela cor azul, que vai evoluindo até chegar à cegueira total.
Em 90% dos casos, os pacientes só ficam curados após realização de cirurgia, que está disponível na rede pública de saúde. Para ter acesso, é necessário que o paciente procure uma unidade do Programa de Saúde na Família (PSF). Após ser analisado pela equipe do serviço, ele é encaminhado para um oftalmologista, que solicita exames e agenda a cirurgia.
Em João Pessoa, a operação pode ser feita em diversas clínicas particulares conveniadas ao SUS; no Hospital Universitário Lauro Wanderley, que funciona nas instalações da Universidade Federal da Paraíba, no Castelo Branco; e no Hospital Edson Ramalho, na Torre. De acordo com Ivandemberg, a cirurgia é segura, eficiente, rápida e permite até que as pessoas deixem de usar óculos.
Através da assessoria de imprensa, a Secretaria de Saúde de João Pessoa informou que a assistência oftalmológica está disponível em todas as unidades do Centro Integrado de Atenção à Saúde (Cais), que funcionam em Mangabeira, Jaguaribe, Rangel e Cristo Redentor. A população é encaminhada para os locais através das 180 unidades do Programa de Saúde na Família (PSF).
A dona de casa Maria José Rodrigues de Abreu, 63 anos, estava ontem no Cais de Jaguaribe. “Eu sempre usei óculos, mas quebrei e faz dois anos que estou sem eles. Tenho sofrido muito porque não vejo nada de longe. Quero sair daqui com a receita para mandar fazer meus óculos”, disse.
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