VIDA URBANA
'Ele era uma pessoa sorridente, amiga', diz ex-treinador de paraibano acusado de terrorismo
Muçulmano teria sido afastado da mussala por começar a apresentar posições radicais em relação ao islã.
Publicado em 22/07/2016 às 10:10
"Aqui na academia, ele era uma pessoa comunicativa, sorridente, altamente amiga", diz o ex-campeão Muhammad Al Mesquita, proprietário da academia de boxe Mesquita's Brothers, onde também funciona a mussala (sala de oração, para muçulmanos), que era frequentada por Antonio Andrade dos Santos Júnior (Ahmed Al-Falluji), de 34 anos, preso na Paraíba pela Polícia Federal, nesta quinta-feira (21), na operação batizada de Hashtag.
Ahmed teria começado a tomar posições radicais em relação ao islã e, por isso, foi afastado da mussala de Mesquita. (Crédito: Reprodução/ Rafik Responde)
De acordo com Mesquita, Ahmed frequentou a academia por cerca de um ano, porém faz mais de três anos que não tinha notícias dele. Após ter começado a tomar posições radicias, Mesquita teria pedido para que ele se afastasse, tanto da academia como da mussala. "Eu comecei a dizer a ele: 'Do jeito que você tá entendendo o Alcorão, não é bom. Eu peço a você que se afaste do meio da gente", conta Mesquita. "Ele não aceitava. Era a forma como ele lia, interpretava o Alcorão sagrado. Ele via da forma dele. E tem que ser da forma que tá escrito, e em cima de meditação. Você pode achar que é uma coisa, mas você precisa buscar alguém mais sábio, alguém que possa lhe explicar, realmente, o que tá escrito", comenta.
Convertido à religião há 25 anos, Mesquita condena as atitudes dos radicais. "O meu lado da fé é uma decisão minha, eu aceitei o islã como minha religião. Eu amo isso e a cada dia eu entendo que tenho que continuar. Um cara desse, ele já nasce doente. Em lugar nenhum do sagrado Alcorão você vai achar Alá pedindo para matar as pessoas. O mundo só vai ter paz, na verdade, quando isso acontecer. O verdadeiro islã significa amor a Deus e a todas as pessoas", completa Mesquita. "O terrorismo não tem nada a ver com o islã. Não o islã que nós pregamos", pontua.
Ahmed foi preso na manhã desta quinta-feira, em João Pessoa. A princípio, a informação dada era que a prisão teria ocorrido em Cabedelo, mas foi retificada pela Polícia Federal nesta sexta-feira. Segundo a assessoria da PF, ele foi encaminhado para Brasília na tarde desta quinta. Além da Paraíba, a operação ocorreu no Amazonas, no Ceará, em Goiás, no Mato Grosso, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Paraná e no Rio Grande do Sul. Todos os envolvidos são brasileiros.
O grupo foi recrutado pelo Estado Islâmico pela internet. "Eles passaram de simples comentários sobre Estado Islâmico e terrorismo para atos preparatórios", disse o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, acrescentando que o grupo se tratava de uma "célula amadora". As investigações apontaram que o grupo planejou a compra de pelo menos um fuzil AK-47 no Paraguai pela internet.
Foram expedidos 12 mandados de prisão temporária por 30 dias podendo ser prorrogados por mais 30. Informações obtidas, dentre outras, a partir das quebras de sigilo de dados e telefônicos, revelaram indícios de que os investigados preconizam a intolerância racial, de gênero e religiosa, bem como o uso de armas e táticas de guerrilha para alcançar seus objetivos.
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