VIDA URBANA
Em busca de um lugar para morar
Mais de 100 mil famílias paraibanas vivem sem um teto. Só na capital, são 40 mil pessoas inscritas nos programas habitacionais.
Publicado em 11/03/2012 às 8:34
Ter uma casa aconchegante, que seja um lugar de descanso, convívio familiar e, principalmente, própria. Esse é um sonho comum, mas longe para alguns paraibanos. No Estado, conforme os dados do levantamento mais recente feito pelo Ministério das Cidades (MC), em 2008, pelos menos 104.699 famílias (87.746 na área urbana e 16.953 na rural) esperavam por um lar para chamar de 'seu'.
Desse total de famílias que compõem o déficit habitacional na Paraíba, 97,7% possuem renda de até três salários mínimos – ou seja, enfrentam uma grande barreira financeira para realizar o desejo de comprar uma casa. É o caso do casal José Salvador de Andrade e Maria Lúcia Cordeiro da Silva, que sobrevive com o pouco que ganha da reciclagem e desconhece o que é ter um lar.
Eles vivem há dois anos na rua, em um terreno baldio ao lado da subestação Rio do Peixe, da Concessionária de Energia da Paraíba (Energisa), em João Pessoa. Um pequeno espaço cercado por papelão e lona faz as vezes de casa e abriga os dois durante a noite. Um sofá e um banco velho de madeira são praticamente tudo que eles possuem.
“Já nos expulsaram daqui, mas a gente volta. Não temos onde morar”, disse José Salvador, enfatizando que gostaria de ter uma casa de verdade, “um canto bem limpinho, onde você possa deitar e ter um cobertor, além de um telhado. Na rua o povo quer brigar com a gente. Não temos banheiro, água encanada, dependemos da bondade dos vizinhos”.
Maria Lúcia contou que até tem um quartinho no Vale do Timbó, na capital, mas o cômodo fica em área de risco, logo abaixo de uma barreira. “A barreira já caiu e chegou a derrubar parte da minha casa. Não posso ficar nela esperando morrer a qualquer momento. Prefiro a rua, só saiu daqui quando ganhar as chaves do meu apartamento”, disse ela, acrescentando que está cadastrada nos programas habitacionais da prefeitura há um ano.
Na mesma situação estão também diversos moradores da 'Comunidade do S', no bairro do Róger, uma das áreas com infraestrutura mais precária da capital. Uma dona de casa, que mora em uma casa de taipa com o marido, dois filhos e a mãe, disse que há mais de cinco anos espera ser beneficiada pelos programas habitacionais.
“O alpendre do vizinho, que também mora em casa de taipa, já chegou a cair e a gente ficou preocupado que o mesmo acontecesse conosco. Quando chove a casa enche de água, é muito inseto, rato, barata e até cobra já acharam”, relatou a dona de casa, que preferiu não se identificar.
Segundo ela, a situação da família ainda está um pouco melhor nessa casa de taipa, já que há dois anos eles moravam em um barraco de lona.
O chefe de gabinete da Secretaria de Habitação Social de João Pessoa (Semhab), Jair do Nascimento, disse que 40 mil pessoas estão inscritas nos programas habitacionais da prefeitura e a intenção é entregar 2.500 unidades até o fim do ano, dentro do 'Minha Casa, Minha vida' – do governo federal.
“Em dezembro de 2011 terminamos 244 apartamentos (os primeiros a serem entregues no programa federal) e este mês vamos entregar mais 584”, informou Jair, acrescentando que as casas estão em bairros como Valentina Figueiredo, Bairro das Indústrias e Jardim Veneza.
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