VIDA URBANA
Em dez anos, motocicletas registraram aumento de 295% na Paraíba
Somente em Campina Grande, para cada sete pessoas, há uma moto. A cidade possui uma frota de 55.229 motocicletas.
Publicado em 31/05/2015 às 8:00
Considerada por muitas pessoas como um meio de transporte rápido e econômico, a motocicleta ganha cada vez mais adeptos na Paraíba e já supera a frota de automóveis, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-PB). Enquanto o Estado tem 447.256 automóveis, em relação a motocicletas esse número chega a 457.831 veículos. Em dez anos, os transportes desse tipo registraram um crescimento percentual de 295% no Estado. No de 2005 o número registrado era de 115.819 e em 2015 pulou para 457.831.
Somente em Campina Grande, para cada sete pessoas, há uma moto. A cidade possui uma frota de 55.229 motocicletas. Todavia, o considerável aumento parece não acompanhar o anseio de uma categoria por mais condições de trafegabilidade. Em um momento que várias ações de mobilidade são discutidas e planejadas para a cidade, motociclistas pedem justiça, respeito e segurança no trânsito e reclamam da carência de ações planejadas especificamente para esse tipo de transporte. Os pontos reivindicados vão desde os buracos na pista e asfaltos com condições precárias até as condições de segurança em detrimento aos demais veículos e espaços específicos para os condutores.
O motociclista Leonardo Souza, 36 anos, reclama das condições das ruas e afirma que isso afeta a maneira de conduzir o veículo. “Para quem dirige em cima de duas rodas tudo é mais perigoso. Por isso temos que ter cuidado redobrado com buracos nas ruas, obstáculos, além de ter que dirigir por nós e pelos outros, pois no caso de um acidente, o motociclista sempre sai mais prejudicado fisicamente”, destacou.
Já para Renato Lima, 25, o que mais incomoda é a fiscalização ineficaz quanto ao meio de transporte. “O que mais me incomoda como motociclista é o fato das cinquentinhas não serem emplacadas e não haver ruma fiscalização efetiva para o combate de pessoas não habilitadas no trânsito, que cometem infrações e acidentes e ficam impunes, além de prejudicar a mobilidade. Me sinto desrespeitado porque tive que passar por todos os critérios para poder dirigir, além de pagar emplacamento e tributos e ver que qualquer despreparado para ao meu lado em um sinal”.
Quem usa a moto para passeio também reclama da imprudência no trânsito, é o que afirma o presidente da associação dos motoclubes de Campina Grande, Álvaro Lucena. “O pessoal tira a carteira, acha que já está preparado e se expõe ao trânsito de maneiras absurdas, sem capacete, sem cuidado. Com isso, o que podemos ver é esse crescente número de acidentes, em que os maiores envolvidos são os motociclistas, que muitas vezes perdem as vidas”, lamentou.
Conforme a Secretaria de Serviços Urbanos e Meio Ambiente de Campina Grande (Sesuma), a partir do próximo mês, a operação tapa-buracos será intensificada na cidade.
No caso dos mototaxistas, que trabalham diariamente trafegando por várias ruas da cidade, a reclamação é ainda mais incisiva. Eles pedem que ações sejam pensadas para a categoria, que se sente ainda mais prejudicada pelas deficiências de estrutura, segurança e fiscalização, já que eles têm que fazer várias viagens com os passageiros por dia.
“Como a gente anda muito, já sabe onde são as ruas mais esburacadas e que tem mais obstáculos. Vivemos em um mundo que as ruas são pensadas para os carros, para os pedestres, agora também para os ciclistas. E para os motoqueiros? A gente fica por conta de Deus”, desabafou Pedro Soares. Outra reclamação da categoria é que a STTP que faça cumprir o Código de Trânsito e a Lei Municipal que regulamentou o serviço de mototaxistas em Campina Grande, fiscalizando de forma intensiva o transporte ilegal de passageiros, afirmou o assessor jurídico do Sindicato de Mototaxistas, Isaque Noronha.
Lei de mobilidade não prevê ações diretas para a categoria
Mesmo que muitas pessoas optem por trafegar de motocicleta pela facilidade e rapidez de locomoção, estacionamento e mobilidade, a Lei de Mobilidade Urbana de Campina Grande não prevê ações diretas para essa categoria de condutores, como explicou a gerente de transportes da Superintendência de Trânsito e Transportes Públicos (STTP) e coordenadora do PlanMob, Araci Brasil.
Segundo a gerente, as ações do plano objetivam a humanização do trânsito, com medidas que melhorem a locomoção principalmente dos pedestres, ciclistas e priorizem o transporte coletivo, em alinhamento com a Política Nacional de Mobilidade Urbana.
“Nós não pensamos em ações individuais, muito pelo contrário, no caso dos motociclistas, que muitas vezes são imprudentes e desrespeitam as leis de trânsito, o que está previsto é intensificar a fiscalização, a exemplo da instalação de equipamentos eletrônicos nos semáforos, porque o avanço de sinal nos semáforos ainda é uma constante e que gera muitos acidentes”, disse.
O risco a que motociclistas estão expostos também é ressaltado pela quantidade de atendimentos registrados nos hospitais. Até o mês de janeiro, o Hospital de Trauma de Campina Grande já havia registrado 934 atendimentos ocasionados por acidentes de motos. Grande parte das tragédias, conforme a unidade, se deve à imprudência, à imperícia e à negligência dos condutores dos veículos.
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