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VIDA URBANA

Empoderamento feminino, sororidade e como essas questões têm mudado a vida de paraibanas

No Dia Internacional da Mulher, o Jornal da Paraíba mostra exemplos práticos de conceitos importantes à reflexão social.

Publicado em 08/03/2020 às 8:50 | Atualizado em 09/03/2020 às 7:43


                                        
                                            Empoderamento feminino, sororidade e como essas questões têm mudado a vida de paraibanas
Foto: Agência Brasil

				
					Empoderamento feminino, sororidade e como essas questões têm mudado a vida de paraibanas
Foto: Agência Brasil. Foto: Agência Brasil

Neste dia 8, segundo domingo do mês de março, é celebrado o Dia Internacional da Mulher. A data, tida como um marco na luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres, é também um momento de reflexão sobre os retrocessos sociais que atingem mulheres das mais variadas classes e origens. No entanto, também podem ser elencados avanços que, ainda que pequenos diante da realidade, têm mudado a vida de mulheres, também, na Paraíba.

Nessa perspectiva, o JORNAL DA PARAÍBA conversou com mulheres responsáveis por praticar conceitos básicos da luta feminina, como os de sororidade e empoderamento, para entender como essas realidades têm mudado ao longo dos anos, e como ainda precisam mudar.

Empoderamento feminino


				
					Empoderamento feminino, sororidade e como essas questões têm mudado a vida de paraibanas
Foto: Arquivo Pessoal. Foto: Arquivo Pessoal

Empoderar é o ato de dar força, ou poder, a alguém para que alguma coisa seja realizada. No caso do empoderamento feminino, o conhecimento sobre as capacidades individuais, características à personalidade humana, é o que faz a mulher se sentir capaz de realizar o que deseja, ou seja, se 'empoderar' e desconsiderar, assim, opiniões remotas ou até mesmo regras impostas a ela sob justificativas ligadas ao gênero.

Na vida de Giuliane Teberge, de 49 anos, o empoderamento é uma realidade em sua vida pessoal como mãe solo e em sua vida profissional, quando decidiu se tornar instrutora de trânsito em auto escolas, uma profissão majoritariamente masculina. Motorista profissional, Giuliane nunca deixou o preconceito do esteriótipo masculino acerca de sua função impedi-la de fazer algo. Ela é motorista de transporte por aplicativo há dois anos e meio.

Na profissão, Giuliane tem a oportunidade de ouvir outras mulheres. O local de trabalho, seu carro, é "um baú", onde todas as histórias de vida de meninas por vezes angustiadas ficam guardadas. Para ela, ser positiva é o segredo para lidar com a insegurança e com o preconceito. "Não podemos pensar que o mal vai nos atingir, temos que ser positiva. Meu foco é cumprir a meta diária, e fazendo isso já fico tranquila. Não precisa ter medo, tem que correr o risco de enfrentar.", afirma.

A motorista ainda lembra que apesar de todos os desafios, o enfrentamento ao preconceito tem surtido efeito, em seu caso. Ela nunca foi abordada por um passageiro que fosse preconceituoso, e apesar de ouvir relatos de colegas de trabalho que passam por situações do tipo, os elogios são prioridade. E as passageiras comemoram. Afinal, ser transportada por outra mulher, ainda e infelizmente, é uma questão de segurança na realidade machista em que vivemos, o que estimula Giuliene a, todos os dias, se empoderar e empoderar.

Sororidade


				
					Empoderamento feminino, sororidade e como essas questões têm mudado a vida de paraibanas
Foto: Arquivo Pessoal. Foto: Arquivo Pessoal

A palavra "sororidade" é usada para definir a união entre mulheres em prol de algo ou por um objetivo em comum. Na prática, é quando elas se juntam querendo conquistar coisas que, às vezes - e infelizmente - ainda não conseguem sozinhas. Não por incapacidade própria, mas por fatores externos que (novamente), infelizmente, independem de vontades individuais.

A força conjunta das mulheres pode, e tem sim, conseguido mudar realidades. Na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), por exemplo, meninas do curso de Ciência da Computação têm se unido com o objetivo de promover a prática científica numa área que ainda é majoritariamente ocupada por homens. O nome disso? Sororidade. De acordo com a professora Luciana Gomes, graduada em Ciência da Computação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) que coordena a iniciativa, o projeto 'Mulheres na UEPB@Computação" surgiu como um reflexo da observação de sua própria realidade. 

“A ideia de criar o projeto veio de conversas entre colegas de trabalho. Sentimos a necessidade de ter essa representatividade feminina, de ter esse espaço onde a mulher pode se envolver e sentir que faz parte desse universo. Essa representatividade é importante."

De acordo com Luciana, o número de mulheres interessadas em ciências tecnológicas ainda é muito inferior ao de homens, e por isso as instituições têm criado projetos que promovem a participação feminina nesta área, totalmente aberta a este público, que é capaz tão quanto qualquer outro a desenvolver os trabalhos necessários, como lembra a professora.

"Apesar de existir oportunidades de ingresso de mulheres na computação, de tanto ver a realidade da participação sobretudo masculina, as mulheres ficam com essa crença, se desestimulam e não entram nesses cursos. Mas o próprio déficit de profissionais na área como um todo também é uma oportunidade de engajar mulheres a ingressar nesse mercado".

A expectativa de Luciana é que o projeto consiga atrair o máximo de graduandas de Ciência da Computação da UEPB para fomentar nelas o desejo de incentivar a inserção desse público cada vez mais no mercado tecnológico. Para a professora, apesar de não possuir muitas mulheres engajadas na profissão que ela escolheu para seguir, só o fato de exercê-la já é um exemplo de protagonismo feminino, e agora, através do projeto, também é um 'case' de sororidade.

"Desejamos contribuir para a maior participação feminina na área da tecnologia como um todo. Queremos que as alunas vejam que a mulher pode sim ser protagonista. Vamos apresentar essa possibilidade de serem protagonistas também na tecnologia, e a partir dessas mulheres vamos conseguir inspirar outras mulheres, porque mulheres inspiram mulheres.", concluiu.

O que mudou do último Dia Internacional da Mulher para hoje

Comumente a maioria dos dados e notícias veiculadas sobre as mulheres é voltada para as coisas ruins que acontecem com elas, só pelo fato de serem mulheres. No entanto, de 2019 para cá tivemos alguns pequenos avanços registrados na Paraíba.

No âmbito legal, uma lei estadual promulgada em 2019 passou a obrigar bares, restaurantes, casas noturnas e outros estabelecimentos a adotarem medidas de auxílio a mulheres que se sintam em situação de risco. Portanto, qualquer funcionário de estabelecimentos devem prestar apoio a mulheres que se sintam ameaçadas. É lei.

No esporte, uma lei publicada no Diário Oficial do Estado (DOE) proíbe que mulheres recebam valores menores que os concedidos aos homens em premiações esportivas, paraesportivas e culturais realizadas na Paraíba. A premiação diferenciada é proibida por entidade ou liga desportivas, que recebam recursos públicos do Estado da Paraíba, patrocinadas ou apoiadas até por meio de incentivo fiscal.

O que ainda precisa mudar

Mesmo desempenhando a mesma atividade profissional, historicamente os homens possuem salários superiores aos das mulheres. Na Paraíba, a diferença salarial nas contratações entre homens e mulheres passou de R$ 348,40 em 2018, para R$ 461,09, em 2019, representando um aumento de 32%. O levantamento foi feito com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Dos 223 municípios paraibanos, apenas 13 possuem Delegacia da Mulher. Os números fazem parte da Pesquisa de Informações Básicas Municipais e Estaduais (Munic), e dão conta que e cerca de 93% das cidades da Paraíba não possuem delegacias especializadas em atendimento à mulher (Deam).

Também na Paraíba, 32 mulheres foram mortas por Crimes Letais Intencionais em 2019, conforme dados da Secretaria de Segurança e Defesa Social. Cerca de 4,7 mil medidas protetivas estão ativas no estado, sendo que 1,8 mil foram concedidas no primeiro semestre de 2019, no Judiciário estadual, conforme dados da Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça da Paraíba.

(Sob supervisão de Jhonathan Oliveira*)

Imagem

Bruna Couto

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