VIDA URBANA
Entrega do Aluízio Campos é marcada por protesto, filas e ocorrências policiais
Mutuários precisaram enfrentar filas e uma parte ainda não recebeu as chaves.
Publicado em 11/11/2019 às 17:08
A solenidade para entrega das casas do Aluízio Campos foi marcada, para além dos acontecimentos políticos, pelas dificuldades enfrentadas pelas famílias beneficiadas, desde o acesso ao complexo até o recebimento das chaves das casas e apartamentos. Na manhã desta segunda-feira (11), a equipe do Jornal da Paraíba acompanhou os beneficiários e encontrou, entre outras questões, protestos, filas e registros de ocorrências policiais no espaço em que era esperada a presença do presidente da República, Jair Bolsonaro.
Cerca de 3km antes de chegar ao Aluízio Campos, no canto da BR 230, por volta das 9h motoristas de ônibus de turismo e de transportes alternativos se aglomeraram em protesto, utilizando faixas com mensagens contrárias ao discurso de Jair Bolsonaro. Sem permitir identificação, os motoristas pediam que o presidente cumprisse as promessas que fez à classe durante a campanha presidencial.
Mais à frente, as famílias proprietárias das casas e dos apartamentos do Aluízio Campos se aglomeraram numa fila na entrada do complexo, em direção ao local onde funcionários da Secretaria de Assistência Social (Semas) da Prefeitura Municipal de Campina Grande estavam realizando o credenciamento e entregando camisas de identificação, para que, assim, os futuros moradores das casas e apartamentos se dirigissem ao local da cerimônia de inauguração em ônibus disponibilizados pela prefeitura.
Falta de informações
Após serem identificados pela prefeitura, o mutuários embarcaram nos ônibus, apesar de não terem recebidos instruções formais por parte dos órgãos responsáveis sobre o que eles deveriam fazer e para onde deveriam ir. O palco montado para a solenidade de inauguração do Aluízio Campos ficava a cerca de 2km da entrada do complexo e as pessoas relatavam que não sabiam quem ou onde receberiam, após a solenidade, as chaves das casas.
No local da cerimônia de abertura, a falta de informações permanecia impedindo os moradores de participarem da solenidade. Para ter acesso às cadeiras, a pessoas precisavam passar por revista, e por isso, filas imensas se formaram ainda antes da chegada do presidente Jair Bolsonaro ao evento. Os moradores e os parentes que os acompanhavam procuravam por auxílio de funcionários da Semas, mas não encontravam, sequer, pessoas aptas a organizarem filas preferenciais, e por isso, crianças, gestantes e idosos também tiveram que enfrentar horas de espera a céu aberto.
Conforme a Prefeitura de Campina Grande, a entrega das chaves que dão acesso às casas e apartamentos do Aluízio Campos iria acontecer após a solenidade de abertura. Entretanto, até as 16h20 desta segunda-feira (11), moradores entraram em contato com o Jornal da Paraíba afirmando não ter recebido as chaves, graças ao aglomerado de pessoas e, como visto durante toda a manhã, à falta de instrução por parte da prefeitura da cidade. O Jornal da Paraíba entrou em contato com os órgãos responsáveis, mas até as 17h, não recebeu retorno algum.
Fila, espera e sede
Durante a espera, ouvimos relatos entristecidos de moradores que afirmaram ter esperado tanto por aquele momento e não acreditavam estar vivendo a situação que estava acontecendo. A realidade pedia, mais uma vez, paciência, como relatou dona Aparecida. A idosa fez questão de explicar que havia deixado uma filha com bebê recém nascido em casa e, mesmo que estivesse desacompanhada, não poderia deixar de receber a chave da tão sonhada casa. "No dia da visita e no outro dia, quando assinamos os contratos, foi muito tranquilo. Hoje, estou vivendo uma humilhação", disse dona Aparecida durante os 40 minutos de espera na fila de acesso ao local da solenidade de entrega do complexo.
Após conseguir entrar no espaço reservado à cerimônia presidencial, os moradores receberiam copos com água. No entanto, quem chegou 10 minutos antes do início da solenidade, não conseguiu se refrescar, e pouco tempo após o início da cerimônia, todas as cadeiras já haviam sido ocupadas. Mais uma vez, gestantes, idosos e crianças poderiam ficar em pé.
Passado o momento de calmaria atenta aos discursos políticos, mais tumulto. Pessoas que desejavam tirar fotos com o presidente ainda tentaram furar a passagem exclusiva à imprensa e sofreram abordagens por parte dos soldados do Exército brasileiro que estavam à paisana. Um dos soldados, que não quis ter sua identidade revelada, chegou a se ferir na tentativa de impedir que apoiadores de Jair Bolsonaro se aproximassem do presidente.
Assalto dentro do transporte
No percurso de retorno às tendas de credenciamento localizadas na entrada do Aluízio, a Polícia Militar impediu que um ônibus seguisse até a entrada do complexo, alegando ter havido um assalto dentro do veículo. No momento da abordagem, cerca de 50 passageiros ocupavam o ônibus, e os policiais revistaram todas as pessoas na tentativa de encontrar quem havia furtado um celular e uma carteira de um dos mutuários do Aluízio Campos. Até o fim da tarde desta segunda-feira (11), a PM não divulgou informações sobre as ocorrências vistas pela equipe do Jornal da Paraíba, que também passou por revistas.
* Sob supervisão de Aline Oliveira
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