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VIDA URBANA

Escondido, filho mais velho viu as mortes

O episódio deixou marcas profundas nele e no irmão mais novo.

Publicado em 06/07/2014 às 7:00 | Atualizado em 05/02/2024 às 11:23

De joelhos na cama beliche e olhando por cima da parede, Priciano Soares viu os pais e três irmãos serem assassinados a golpes de facão pelos vizinhos. Em silêncio e com o coração amargurado por não ter como ajudar a família, ele carrega consigo o trauma e a dor de ter presenciado as mortes. O episódio deixou marcas profundas nele e no irmão mais novo.

Priciano, que na época da tragédia tinha 14 anos, é o segundo dos seis filhos de Moisés e Divanise. Na madrugada de 9 de julho ele foi acometido pela insônia e ouviu quando os vizinhos – Carlos e Edileuza – amolaram o facão do lado de fora de sua casa. Em seguida escutou a porta da cozinha ser arrombada e se escondeu debaixo da cama que dividia com o irmão X. Com as mãos trêmulas e o coração acelerado, o adolescente viu quando Carlos e Edileuza golpearam sua irmã Cinthia Raquel, 11, que dormia no sofá da casa.

Depois que mataram a menina, o casal seguiu para o primeiro quarto da casa, onde Priciano estava e desferiu um golpe contra X., que desmaiou. Demonstrando ódio, segundo a denúncia feita pelo Ministério Público da Paraíba, Carlos e Edileuza seguiram para o quarto onde dormiam Moisés, Divanise e duas crianças de 3 e 4 anos. O primeiro a ser morto foi Moisés, seguido de Divanise, que ainda foi socorrida para o Hospital de Trauma, onde morreu após receber os primeiros socorros.

Ninguém sabia, mas Divanise estava grávida de gêmeos.

Segundo a denúncia do Ministério Público (MP), com base no depoimento do adolescente, depois de matar o casal, Carlos e Edileuza passaram a golpear Cinthia Rayssa, 3, que dormia na cama dos pais. A garota recebeu 14 golpes de facão e teve a face destruída, segundo o laudo do Instituto de Medicina Legal da Paraíba (IML-PB). Em seguida mataram Ray com 12 golpes, sendo a maioria na cabeça. O menino também ficou desfigurado, conforme o laudo do IML.

Todas as mortes foram presenciadas pelo garoto, que recebeu atendimento psicológico gratuito por quatro anos para tentar superar o trauma sofrido; hoje ele não tem mais esse apoio.

“Depois de detectar que os acusados tinham saído do seu quarto, depois de lesionarem X., Priciano subiu no beliche no qual dormia, assistindo a horrenda cena que culminou com as mortes, isso por cima da parede que separava os cômodos, visto que não se estendia até o telhado do imóvel”, destaca a denúncia do Ministério Público.

Priciano contou à polícia que Carlos e Edileuza se revezavam: enquanto um golpeava a vítima, o outro dava apoio moral, incentivando as mortes. Foi quando Edileuza disse ao marido que “faltava um para terminar o serviço”. Ela se referia a Priciano, que continuava escondido. Com medo de serem pegos pela polícia, o casal preferiu ir embora. Com a fuga, o silêncio voltou a imperar na rua e os vizinhos chamaram a polícia, pois durante a execução dos crimes as vítimas gritaram muito por socorro, o que despertou os moradores do repouso noturno.

Conforme o depoimento de Priciano à Justiça, os acusados costumavam visitar sua casa e ambos viviam em harmonia. Na versão do garoto, Carlos e Edileuza queriam matá-lo por conta de desavenças banais que ele teve com um dos filhos dos acusados. As crianças costumavam se apelidar mutuamente, o que teria provocado a ira do casal. Porém, na versão de Carlos, ele queria mesmo era matar Moisés e nunca pensou em fazer mal às crianças.

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Jornal da Paraíba

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