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VIDA URBANA

Especialistas dizem que adolescentes infratores são fruto de uma sociedade que deu errado

“Não podemos esquecer que muitas vezes os pais não tiveram afetividade na infância e acabam reproduzindo o tratamento que receberam quando criança”

Publicado em 26/04/2015 às 7:00

A psicóloga Julianne Carneiro diz que o reflexo da punição corporal severa vai depender da personalidade de cada um, de como ele enxerga a violência que sofreu. “Muitos não se veem como vítimas, outros sim”, declara. Segundo a especialista, a violência sofrida dentro de casa, na infância, se reflete de forma inconsciente, o que pode gerar revolta e impulsionar o cometimento de atos infracionais. “É preciso que os pais tenham muito diálogo com os filhos”, destaca.

De acordo com Julianne, que trabalha no Centro Socioeducativo Edson Mota (CSE), caso a conversa não surta o efeito desejado, é indicado o castigo bem orientado e justificado. Ou seja, a criança deve saber porque está de castigo. “Os pais devem retirar objetos e privá-lo de atividades que dão prazer. O grande problema que temos hoje é que os valores estão invertidos na sociedade”, afirma.

A assistente social Andreza Dantas, por sua vez, diz que é possível perceber nos adolescentes privados de liberdade o histórico de violência familiar. “Percebemos o reflexo da punição corporal nos atos infracionais que eles cometem. Há uma relação direta com isso”, explica Andreza, que também trabalha no CSE. “Não podemos esquecer que muitas vezes os pais não tiveram afetividade na infância e acabam reproduzindo o tratamento que receberam quando criança”, pontua.

Ainda de acordo com a especialista, os adolescentes são vítimas em potencial de uma sociedade que vira as costas diante dessa situação. “São vítimas de um contexto de muitas vulnerabilidades. A maioria vem de família que não tem moradia adequada, saúde, educação. Nesse sentido, são vítimas dessa conjuntura social, mas não podemos esquecer que há também os que tiveram todo o aparato e mesmo assim cometeram infrações”, explica. “Mais uma vez voltamos ao problema da falta de políticas públicas”, completa.

Segundo Andreza, o envolvimento com o tráfico de drogas é recorrente entre os meninos que cumprem medida socieducativa. “Isso tem refletido muito no comportamento. Há alguns anos tínhamos roubo de celular, assalto na parada de ônibus, hoje temos casos de homicídios, latrocínios e outros atos que nos causam espanto e preocupação”, declara. O CSE tem cerca de 180 adolescentes privados de liberdade.

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Jornal da Paraíba

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