VIDA URBANA
Esperança, apesar das dificuldades cotidianas
Durante todo o ano violência e privações fazem parte do cotiano de muita gente cujas esperanças se renovam a cada natal.
Publicado em 24/12/2011 às 6:30
O sorriso estampado no rosto dos filhos com os presentes tão esperados e uma mesa farta para celebrar a noite de Natal entre parentes e amigos. Estes parecem ser desejos comuns para muitas famílias. Para uma parcela razoável da população, no entanto, a realização deste sonho é cada vez mais difícil. Num cenário de pobreza e violência, o brilho do Natal deixou de ser tempo de confraternização para se tornar a passagem de mais um ano sem esperanças.
Em meio a esse cenário de desilusão, o rosto risonho da aposentada Maria Nazareth, 61 anos, destoa do resto dos moradores da comunidade do ‘S’, no bairro do Róger, em João Pessoa, que fica ao lado do lixão desativado do Róger . Cheia de alegria e apaixonada por tudo ao que se remete o Natal, a aposentada aproveita o período para decorar com capricho a sua casa para receber os parentes que virão do interior do Estado. “Vi na televisão como fazer os enfeites e corri para comprar. Não ficaram tão bonitos, mas o que importa é enfeitar a casa para celebrar a vida”, afirma.
Maior alegria para ela, no entanto, é poder reunir em sua casa os filhos e netos, ainda mais com um jantar especial de Natal garantido por eles. “Estava um pouco triste porque não teria comida pra todo mundo, mas uma que vem do interior perguntou se podia usar minha cozinha. Disse na hora: panela e gás são o que não faltam aqui. Com jeitinho tudo se ajeita”, comemora ‘Neta’, como é mais conhecida entre os vizinhos.
Apesar da alegria, a aposentada não esconde a tristeza por viver cercada de violência e problemas financeiros. Seus desejos para 2012 são todos de dias melhores. “Essa violência batendo a nossa porta todos os dias, a gente sai e não sabe se volta. Deus não criou o homem para matar o outro. Eu rezo muito porque tudo isso é triste e a gente que tem filho só tem é que desejar que acabe logo”, disse.
Já a noite da aposentada Maria Francisca de Oliveira, 78 anos, que também mora na comunidade do ‘S’, conta que há dois natais não tem mais o que comemorar. Mãe de oito filhos, Francisca perdeu dois deles de forma trágica.
O primeiro deles foi vítima de um enfarte fulminante do miocárdio, dentro de sua própria casa. O segundo filho, caçula da família, perdeu a vida em um trágico acidente automobilístico na principal avenida de Santa Rita, quando voltava do trabalho.
Desde então, o sorriso da aposentada foi substituído pelo vazio de uma espera que nunca chega ao fim.
Hoje, Francisca dedica os dias aos netos e ao primeiro bisneto, que tem poucos meses de vida. Rodeada de falta de perspectivas de dias melhores e com o peito carregado de saudade, ela confessa que não nutre mais sonhos. “Vivemos num mundo tão ‘arrodeado’ de coisa ruim que é difícil pensar em algo bom”, justifica.
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