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VIDA URBANA

Esteatose: um mal silencioso

Consumo elevado de álcool e a alimentação incorreta figuram como os principais causadores de problemas no fígado.

Publicado em 22/12/2013 às 8:00 | Atualizado em 10/01/2024 às 16:11

O fígado é a maior glândula do corpo humano. Ele é responsável, entre outras coisas, por filtrar impurezas, sintetizar o colesterol e produzir proteínas. Considerado de extrema importância para o bem-estar e o funcionamento harmônico do organismo, sua atividade, porém, pode ser comprometida por hábitos inadequados.

O consumo elevado de álcool e a alimentação incorreta figuram como os principais causadores de problemas no órgão. Isso é o que garante o gastroenterologista e presidente da Sociedade de Gastroenterologia e Nutrição da Paraíba (SGNPB), Gláucio Nóbrega. De acordo com ele, além da cirrose e da esquistossomose, os excessos e descuidos também podem trazer complicações e desencadear demais patologias, como a esteatose hepática.

“Essa é uma doença que pode ser definida como um acúmulo excessivo de gordura no fígado, mais especificamente nos hepatócitos – células do fígado”, conta. “Ela pode ainda ser decorrente de colesterol e triglicerídeos elevados, da diabetes mellitus não–insulino dependente, das hepatites virais ou autoimunes, do uso de alguns medicamentos, bem como ter origem pelo contato com derivados petroquímicos”, acrescenta.

Segundo o médico, a doença é habitualmente detectada ao acaso, através de exames de rotina, realização de check-ups ou mesmo durante o exame clínico, em que se observa o aumento do fígado na palpação abdominal. “Ela é diagnosticada também com ressonância magnética, tomografia computadorizada do abdômen e por biópsia hepática”, ressalta.

Conforme Gláucio, para a maioria das pessoas, a esteatose hepática não costuma causar sinais e geralmente é assintomática, sendo vista, inclusive, como um mal silencioso.

“Em alguns casos, ela pode se apresentar por queixas inespecíficas, como, por exemplo, desconfortos embaixo da costela do lado direito, adinamia (fraqueza muscular), fadiga e perda de peso”, explica.

Estima-se, a partir de informações da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH), que cerca de 20% da população seja portadora de esteatose hepática. Este dado ganha ainda mais relevância por conta do aumento de casos de obesidade e de doenças metabólicas nos últimos anos entre brasileiros.

“Nos pacientes que possuem obesidade mórbida, quase a totalidade já tem fígado gorduroso - 95%. Em crianças, o percentual de esteatose é menor, em torno de 2,6%, mas caso ela seja obesa esse valor eleva-se para até 53% delas”, revela.

TRATAMENTO INCLUI DIETA E REDUÇÃO DO ÁLCOOL

O tratamento para a esteatose hepática, de acordo com o médico Gláucio Nóbrega, varia de caso para caso. “O principal objetivo do tratamento é eliminar aqueles fatores que são responsáveis pelo surgimento da doença”, indica, alertando ainda que, caso o problema não seja controlado a tempo, pode evoluir para um processo inflamatório.

“Se não for tratada, a esteatose hepática pode aumentar e, posteriormente, chegar a uma cirrose hepática, que se caracteriza pela substituição do tecido funcionante do fígado por um tecido fibrótico cicatricial, não funcionante”, adverte. “Ela pode evoluir também para um câncer hepático”, complementa.
Para Gláucio, uma boa forma de reverter os efeitos da doença é ter uma rotina saudável, reduzindo a ingestão de álcool e alimentando-se de maneira correta.

“Vale lembrar que a perda de peso deverá ser gradual, com suporte nutricional, associada à prática regular de exercícios físicos, não devendo o paciente perder mais do que 2 ou 3 quilos por mês, sob pena de até piorar a esteatose hepática”, aconselha.

Ele ainda menciona que descontinuar o uso de certas substâncias pode colaborar para a cura da doença. “Da mesma forma que alguns medicamentos também podem ser utilizados na abordagem terapêutica da esteatose hepática e da esteato-hepatite. Mas estes deverão sempre ser empregados em associação a outras medidas indicadas por um médico”, conclui.

ALIMENTAÇÃO EQUILIBRADA E SEM GORDURAS É RECOMENDADA

Assim como o gastroenterologista Gláucio Nóbrega, a nutricionista Aurilineide Oliveira considera essencial prestar atenção ao que é ingerido para tratar e evitar a esteatose hepática. “Se a doença for detectada, o paciente deve diminuir a quantidade de gordura da alimentação imediatamente, dando preferência às gorduras boas, principalmente as ricas em Ômega 3”, estimula. “Entre elas, podemos citar o abacate e o azeite”, exemplifica.

Aurilineide orienta ainda que haja uma redução na quantidade de proteínas no cardápio, uma vez que isso também contribui para o aumento de peso e o acúmulo de gorduras no fígado. “Para os pacientes que sofrem com essa doença, na maioria das vezes, eu recomendo o leite sem lactose, como os de quinua, de arroz ou de amêndoa”, observa.

Para a nutricionista, independentemente do problema ou da necessidade, o indicado é sempre ter uma dieta equilibrada. “É sempre bom consumir frutas, verduras, vegetais, além de tomar muita água e evitar os refrigerantes, o álcool e os enlatados que contém conservantes, vilões para a saúde”, enumera, destacando os cuidados com o uso do açúcar, inclusive com aqueles que são naturais, “procure não exagerar na frutose. Ao ingerir frutas e beber sucos, tente incluir fibras ou até mesmo o próprio bagaço”, finaliza. (Especial para o JP)

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Jornal da Paraíba

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