VIDA URBANA
Estiagem prolongada deixa 10 açudes da Paraíba no volume morto
Ranking do Dnocs mostra que Estado ocupa a 3ª posição no NE. O quadro só não é pior do que o registrado no Ceará e em Pernambuco.
Publicado em 10/06/2015 às 6:00 | Atualizado em 08/02/2024 às 12:29
Mesmo com a súplica da população por chuvas, a estiagem não para de castigar o Semiárido nordestino. Nos nove estados da região, segundo o Departamento de Obras Contra as Secas (Dnocs), não há nenhum reservatório sangrando sob administração do órgão. Já em relação aos reservatórios em volume morto, o número salta para 56 e a Paraíba é o terceiro Estado desse ranking, com dez reservatórios com nível de água abaixo das comportas.
Nessa lista estão os açudes Soledade, Escondido, Cedro II, São Mamede, Santa Luzia, Poços, Serra Branca, Riacho de Santo Antônio, Curimataú e Algodões. O Estado possui atualmente a disponibilidade 21% da capacidade de volume dos reservatórios. O quadro só não é pior do que o registrado no Ceará (19%) e em Pernambuco (11%). Na Paraíba, 42 açudes são administrados pelo Dnocs.
O açude Epitácio Pessoa, em Boqueirão, responsável por abastecer Campina Grande e mais 18 cidades também é administrado pelo Dnocs, mas ainda não entrou nessa lista. A previsão da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) é que o manancial chegue ao volume morto em 25 de dezembro desse ano, se não houver recargas.
OBRAS
Com o crítico panorama vislumbrado, pela primeira vez na Paraíba será instalado um sistema de captação por meio de flutuantes, informou o coordenador do Dnocs em Boqueirão, Everaldo Jacobino de Moura. Conforme ele, na última seca, no final de 1999, o açude chegou a 14,6% de sua capacidade e se pensou em iniciar as obras, mas houve uma recarga que descartou a necessidade do sistema.
A realidade hoje é diferente, pois a previsão climática descarta chuvas significativas até o próximo ano. Por esse motivo, a Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) já deu início às obras para a instalação do sistema de captação flutuante no açude de Boqueirão. Conforme o gerente regional do órgão, Simão Barbosa, os estudos e o projeto já foram finalizados, e ainda essa semana, deve ter início a escavação.
“O projeto do sistema já está pronto, e os estudos topográficos já foram realizados. Ainda essa semana devem chegar os operários para dar início às obras de escavação. Esperamos que o sistema seja concluído até o final de dezembro e contamos com a contenção do consumo como adiamento da chegada ao volume morto”, disse Simão.
Com um investimento de R$ 7,5 milhões, relativos a recursos estaduais e da própria Cagepa, a previsão do órgão é que o sistema seja concluído até o final de novembro. O prazo se aproxima do final da captação convencional, em dezembro, quando o reservatório, que está atualmente com 18,4% do seu volume, deve chegar ao volume morto, que corresponde a cerca de 13% desse total.
A expectativa da Cagepa tem por base o início do inverno e período chuvoso na região do Agreste. “Com certeza vai haver uma redução do consumo, não só por causa da ampliação do racionamento, mas também por conta desse período mais frio. Quem tomava dois ou três banhos por dia, tende a diminuir a quantidade, inclusive a duração desses banhos. A população também diminui o gasto ao regar jardins, lavar carros e roupas”, explicou Simão Barbosa.
PAINEL MOSTRA SITUAÇÃO DE BOQUEIRÃO
O acompanhamento diário da situação do açude Epitácio Pessoa, em Boqueirão, agora poderá ser visto pela população ao passar pelo Centro de Campina Grande. Atualizados segundo a segundo, os dados sobre o volume de água armazenada estão disponíveis, desde ontem, no painel eletrônico da Associação Comercial (ACCG), localizado no cruzamento da avenida Floriano Peixoto, com a rua Maciel Pinheiro. A estratégia integra a campanha realizada pelo órgão para conscientizar a população sobre a importância de economizar a água do açude.
Na manhã de ontem, quando os dados começaram a ser exibidos, os números surpreenderam a auxiliar de enfermagem Bruna Mendes. Ela relatou que tinha ciência da situação crítica em que se encontra o manancial, mas que olhando no painel é como se fosse uma “contagem regressiva” até que o açude seque.
“Com tanta falta de água e racionamento, notícias que a gente vê todo dia, nos preocupamos com a situação de Boqueirão. Mas mesmo assim, termino esquecendo que a água pode acabar. Todo dia quando eu passar aqui vou olhar pra ver como está, é como se fosse uma contagem regressiva até Boqueirão secar. Espero que esse número não chegue a zero”, disse a auxiliar.
Conforme o presidente da ACCG, Álvaro Barros, o objetivo do painel é informar a real situação do reservatório à população, de forma atualizada, como estratégia para incentivar a redução do consumo. “Queremos alertar a população e também os órgãos competentes para essa grave situação. Nossa pretensão não é pedir somente que o pessoal racione, mas também incentivar e divulgar maneiras criativas de se fazer isso”, informou.
Segundo o presidente, também está sendo discutida a possibilidade de incentivos para os comerciantes que conseguirem reduzir significativamente o consumo, como desconto na conta de água. No entanto, essa negociação ainda vai ser analisada com a Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa). Outras medidas incentivadas pela ACCG para a redução do consumo são a perfuração de poços e o reúso da água.
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