VIDA URBANA
Estudantes paraibanos têm deficiência de leitura e escrita
Segunda matéria da série "Educação em Pauta" aborda as consequências para o aprendizado da falta de contato dos alunos com os livros.
Publicado em 12/08/2014 às 9:00 | Atualizado em 07/03/2024 às 13:53
Sabe ler, mas não compreende. Escreve, mas comete erros básicos de ortografia. A dificuldade na leitura e escrita parece ser um problema universal na educação do país e na Paraíba também. O fato de estar matriculado ou de frequentar rigorosamente as aulas não significa dizer que o estudante sabe ler e escrever como deveria; chegar ao ensino superior também não. Essa deficiência é tema da segunda reportagem da série 'Educação em Pauta', produzida pelo JORNAL DA PARAÍBA e pelos demais veículos da Rede Paraíba de Comunicação.
No resultado da Prova Brasil 2011, a Paraíba obteve resultados preocupantes: apenas 23% dos alunos tiveram aprendizado adequado na leitura e interpretação. Participaram da avaliação 35.646 estudantes, dos quais apenas 4% conseguiram um desempenho avançado, superando as expectativas. Outros 31% tiveram aprendizado insuficiente, segundo dados do Qedu, com base na Prova Brasil 2011.
O gerente de conteúdo do Todos pela Educação, Ricardo Falzetta, disse que o problema começa com a alfabetização inadequada que os estudantes recebem nos primeiros anos de estudo. “É preciso resolver o problema da alfabetização das crianças, pois se não for assim, sempre vamos ter uma turma analfabeta saindo da escola”, declarou. Até os 8 anos, todas as crianças devem ser alfabetizadas (matriculadas no 3° ano do ensino fundamental e sabendo ler e escrever).
Segundo Falzetta, não existe solução mágica para melhorar esse cenário, sem passar pela formação de professores. “A alfabetização das crianças não pode ser considerada uma simples decodificação da língua, é preciso proporcionar a visão crítica, entender os usos sociais da língua. As crianças precisam entender o que elas estão lendo e escrevendo”, declarou.
Ele disse que discorda do pensamento que afirma que a internet e as redes sociais prejudicam o aprendizado, sobretudo à leitura e escrita. “Se for bem aproveitado por um professor, a internet só tem a enriquecer”, explicou. Falzetta criticou o fato de que as crianças têm pouco acesso a livros de qualidade. “O processo começa na educação infantil, as crianças precisam ser colocadas em contato com o mundo da escrita”, pontuou.
Para o especialista, o que falta mesmo é o acesso ao texto de qualidade, aos clássicos da literatura, de preferência. “Faltam bibliotecas nas escolas, ou se tem livros, não são usados”, comentou Falzetta. “É preciso fazer uma formação que leve em conta a didática, e não priorizar metodologias ultrapassadas, com cartilhas que não servem para nada”, destacou.
Ter um espaço disponível para a leitura nas escolas é essencial, segundo os especialistas em educação. Mas na Paraíba, apenas 24% das escolas de educação básica (do total de 5.740) possuem bibliotecas. O percentual corresponde a 1.3281 instituições de ensino. A sala para leitura, também defendida pelos professores, só existe em 21% das escolas. Em João Pessoa há bibliotecas em 60% das escolas; em Campina Grande o ambiente existe em 46% das unidades de ensino.
A diretora Abigail Niedja Sá, da Escola Municipal Aruanda, no bairro dos Bancários, na capital, disse que considera a biblioteca fundamental no processo da leitura. Segundo ela, a escola tem um bom acervo de livros e é bastante visitada pelos alunos que têm gosto pela leitura. “A biblioteca tem o objetivo de despertar o prazer da leitura nos estudantes. Muitos fazem empréstimos com frequência, outros, infelizmente, não demonstram tanto interesse”, afirmou Abigail. Segundo ela, os professores incentivam a leitura, levando os alunos para a biblioteca e pedindo resumos e fichamentos.
A diretora, que é pedagoga, afirmou que o ambiente familiar tem muita influência na leitura. “Se os pais gostam de ler e incentivam a leitura, é mais fácil para a criança gostar também.
Quando isso não acontece, fica complicado para a escola fazer esse papel sozinha. Uma coisa é consequência da outra”, explicou Abigail.
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