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VIDA URBANA

'Faço maquiagem e cabelo, enquanto não tenho carteira assinada'

Preconceito se mostra presente, sobretudo, quando não são oferecidas oportunidades para transexuais trabalharem com o público.

Publicado em 04/03/2016 às 18:40

O preconceito que silencia Iasmim Lima, 27 anos, transexual, sempre vem disfarçado. O primeiro emprego com carteira assinada ela conseguiu antes de se assumir. “Trabalhei em uma loja do comércio da capital, mas ainda não havia me assumido, nem usava meu nome social”, destaca. A dificuldade em arranjar um novo emprego machuca Iasmim, mas ela não desiste. É uma das candidatas às vagas da Contax. Está esperançosa. Cheia de planos.

Iasmim conta que por diversas vezes tentou uma vaga em lojas do comércio, mas nunca conseguiu. Em alguns casos chegou a participar de algumas etapas da seleção, mas sempre esbarrava no preconceito. “Nunca fui chamada”, declara. Segundo ela, as pessoas tentam disfarçar a discriminação, com desculpas sem fundamento. “É muito difícil para um transexual conseguir um emprego. São muitas dificuldades, inclusive em relação ao nome social, que nem todo mundo respeita”, frisa.

Desempregada, Iasmim precisa dar um jeito de pagar as contas. Para isso, agarra as oportunidades que aparecem. “Faço maquiagem, cabelo, coisas assim, enquanto não arranjo um emprego de carteira assinada. Eu me viro do jeito que dá, mas não é isso o que quero”, declara.

Prefeitura faz cadastro de travestis e transexuais interessados
A parceria feita entre a Prefeitura de João Pessoa e a empresa Contax reacende a esperança de uma vaga no mercado de trabalho para travestis e transexuais, a exemplo de Nicole e Fabiana. Segundo Roberto Maia, da Coordenadoria Municipal de Promoção à Igualdade LGBT, foi feito todo um trabalho de esclarecimento com os funcionários da Contax, desde a recepção até o setor de recursos humanos para que os novos funcionários sejam recebidos sem discriminação de gênero.

Maia destacou que a exclusão e a falta de oportunidades no mercado de trabalho são molas propulsoras que levam travestis e transexuais à prostituição. “Infelizmente essas pessoas são excluídas pela família, pela escola e pela sociedade. Não há políticas públicas voltadas para elas e a prostituição acaba sendo praticamente a única alternativa de sobrevivência”, declarou. O que acontece hoje no mercado de trabalho de João Pessoa, segundo Maia, é a total exclusão de travestis e transexuais, sobretudo em empresas privadas.

Em junho do ano passado a prefeitura decidiu fazer o cadastro desse público e constatou que, além da dificuldade em ingressar no mercado de trabalho, há também a deficiência escolar. Muitos não concluíram, sequer, o ensino médio, segundo Maia. Nesses casos, a coordenadoria faz o encaminhamento para o Programa de educação de Jovens e Adultos (EJA) para que travestis e transexuais voltem à sala de aula.

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Jornal da Paraíba

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