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VIDA URBANA

Falta de estrutura familiar deixa adolescentes em situação de risco

Na maioria dos casos em que menores são detidos por cometerem crimes, os jovens passam poucos dias em um abrigo provisório e retornam para casa.

Publicado em 31/01/2010 às 8:50

João Paulo Medeiros
Do Jornal da Paraíba

O envolvimento de crianças e adolescentes com delitos tem se tornado, nos últimos anos, um fenômeno cada vez mais comum em todo o país. Em Campina Grande a realidade não é diferente. Apenas este ano, conforme a Delegacia da Infância e da Juventude do município, mais de 20 jovens com idade inferior a 18 anos foram apreendidos nas ruas da cidade, sob a acusação de estarem praticando desde pequenos atos infracionais semelhantes a furtos, assaltos e até de terem participado de assassinatos. Na maioria desses casos os jovens passam poucos dias no abrigo provisório do município e retornam para casa.

No entanto, as ocorrências policiais têm como pano de fundo uma realidade ainda pouco conhecida da maior parte das pessoas: a relação entre o envolvimento dos menores com os delitos e a ausência de uma estrutura familiar adequada. Para se ter uma ideia, no abrigo para menores Padre Otávio Santos, conhecido como ‘Lar do Garoto’ e localizado na cidade de Lagoa Seca, a oito quilômetros de Campina Grande, 80% dos menores que cumprem medidas socioeducativas enfrentaram esse problema.

Um levantamento feito pela direção da instituição mostra que apenas oito dos 40 jovens internos têm a estrutura familiar completa, ou seja, pai, mãe e irmãos; o que os estudiosos da psicologia chamam de ‘família nuclear’. O restante dos jovens, conforme os dados, foram separados de pais ou de mães ou nem chegaram a conhecê-los. “Muitos cresceram em arranjos familiares sendo criados por tios, tias, avós ou mesmo por padrastos”, comentou a assistente social Alderléa Lino, que trabalha há um ano e dois meses no abrigo.

No Lar do Garoto, os quarenta internos estão entre os 15 e 19 anos. Muitos deles foram apreendidos em municípios do interior do Estado e trazidos para a unidade. Por determinação da Justiça, no local não são permitidas fotos nem o contato dos internos com a imprensa. Mas os exemplos são muitos e não param de surgir. Um dos assaltantes mortos em um tiroteio com a polícia na cidade de Curral Velho, no Sertão do Estado, na última terça-feira, viveu esse dilema.

O pessoense Fábio da Silva, de 23 anos, foi encontrado morto em um matagal no Sítio Cipó, na divisa entre a cidade e o município de Princesa Isabel. Após vistoriarem a documentação do acusado, os policiais descobriram que ele sequer possuía o nome do pai registrado, não chegando a concluir o ensino fundamental.

Como mais um filho de “pai desconhecido”, Fábio foi morto de forma precoce ao se envolver com a criminalidade. Também na semana passada, um adolescente de apenas 14 anos foi apreendido horas depois de ter participado de um assalto que resultou na morte de um motorista, no distrito de São José da Mata, em Campina Grande.

Para a titular da Delegacia da Infância e da Juventude campinense, delegada Nercília Dantas, por quem passa a maior parte dos procedimentos instaurados, mesmo nos casos de menores que têm em casa a presença dos pais “há a falta de controle”.

Segundo ela, é comum os policiais se depararem com casos em que “houve uma ausência de controle na época da infância e o menor chega na adolescência não tem mais controle”.

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