VIDA URBANA
Falta médico no HU Alcides Carneiro
Apenas um médico atua no setor de Endocrinologia do hospital para atender cerca de 500 pacientes que sofrem de diabetes tipo 1.
Publicado em 21/03/2013 às 6:00
O tratamento para cerca de 500 pacientes que sofrem de diabetes tipo 1, atendidos no setor de Endocrinologia do Hospital Universitário Alcides Carneiro (HUAC), em Campina Grande, está comprometido. O motivo é a presença de apenas um especialista para realizar mais de 20 procedimentos por dia, o que tem estendido o intervalo entre as consultas dos pacientes e prejudicado o tratamento da doença. A não reposição de profissionais médicos na ala, após a aposentadoria dos servidores, tem sido o principal agravante para o problema.
De acordo com o médico Alberto Ramos, chefe da Unidade de Endocrinologia do HUAC, único a atender os pacientes, a situação está caótica, uma vez que, sem a contratação de profissionais especialistas, o atendimento fica comprometido.
Segundo ele, a quantidade de pacientes de todo o Estado que são tratados no Alcides Carneiro faz com que as consultas sejam feitas em um intervalo de tempo perigoso, já que a diabetes necessita de um acompanhamento constante.
“A política da não contratação está prejudicando demais o hospital. Nós temos mais quatro vagas para o setor de Endocrinologia, mas não existe nenhuma projeção para que elas sejam ocupadas, já que estamos dependendo de um concurso público. Enquanto isso, as consultas são feitas de três em três meses, o que é perigoso para os pacientes, além de não termos mais vaga para atender mais ninguém”, explicou o endocrinologista, que ainda tem a responsabilidade de orientar os estudantes durante as consultas que são feitas no hospital escola.
Essa demora para que os pacientes sejam atendidos tem prejudicado a saúde de muitos que precisam de um acompanhamento mais regular por parte da Unidade de Endocrinologia. É o caso de Joseane da Silva, 16 anos, que mora na cidade de Aroeiras e precisa vir constantemente ao hospital, acompanhada da mãe, Maria da Penha da Silva, 40 anos, para ser atendida. Segundo contou a mãe da paciente, quando a filha passa mais de um mês sem ser consultada, ela fica fraca e sofre com cansaço, visão embaçada e principalmente perda de peso.
“Minha filha fica muito fraca quando a consulta dela demora.
Quando ela vem para o hospital, ela ainda fica de repouso na sala de espera, porque ela tem sentido muito nesse primeiro ano que descobrimos a doença. Agora, com toda essa gente para ser consultada e apenas um médico, fica difícil, porque tenho medo do que ela pode estar sentindo e ter uma piora em casa e não dar tempo de trazer ela ao hospital”, desabafou a mãe que não é diabética.
A diretora do Hospital Universitário Alcides Carneiro, Berenice Ramos, informou que está ciente do problema, porém a solução foge ao alcance da administração do hospital, dependendo apenas de autorização e realização de concurso público pelo Ministério da Educação, que não tem previsão de acontecer.
“Nós tínhamos dois profissionais na área de endocrinologia até o ano passado, mas recentemente um desses profissionais se aposentou, então, a demanda de dois ficou sendo atendida apenas por um. Nós sabemos que os pacientes estão tendo dificuldades de acesso ao serviço, mas, para que outro profissional seja contratado, é preciso haver concurso, e o Ministério da Educação não disponibilizou nenhuma previsão até o momento.
RISCO DE AMPUTAÇÃO
A longa espera por uma consulta, além de atrapalhar o acompanhamento médico de quem sofre de diabetes, pode deixar uma sequela grave no paciente. É o caso da amputação, que, segundo o médico Alberto Ramos, tem sido um procedimento constante no Hospital Universitário nos últimos anos, o que o levou a iniciar um levantamento para mensurar quantos procedimentos dessa natureza são feitos na unidade.
De acordo com sua projeção, por ano, estão sendo feitas cerca de mil amputações de pés ou pernas de pacientes do tipo 1 da doença, que se fossem acompanhados com mais frequência teriam mais chances de preservar seus membros. “Este levantamento ainda é preliminar, mas, pelos números de amputações que tive acesso somente no final do ano passado e início desse ano, estamos muito próximos de por ano ter que operar esses pacientes, o que poderia ser evitado se tivéssemos um atendimento mais amplo”, destacou doutor Alberto Ramos.
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