VIDA URBANA
Faltam remédios para anemia no Cedmex
Pacientes que fazem uso contínuo de medicamentos contra anemia falciforme, denunciam suspensão da entrega dos remédios pelo Cedmex.
Publicado em 31/08/2012 às 6:00
Portadores de anemia falciforme denunciam ausência de remédios no Centro Especializado de Dispensação de Medicamentos Excepcionais (Cedmex). A penicilina oral e a hidroxiureia, ambas substâncias de uso diário, estão com a distribuição suspensa no Estado por falta de estoque. A anemia falciforme é a doença hereditária de maior incidência no Brasil e está presente em maior concentração nas comunidades de afrodescendentes.
As estatísticas com números de pacientes são imprecisas, pois muitas pessoas possuem a doença e não têm ciência disso. O Ministério da Saúde estima que um a cada 1.200 nascidos vivos no Brasil seja portador de anemia falciforme, um índice considerado alto para uma doença genética. Existem em João Pessoa 36 pacientes com diagnóstico da anemia e outros 122 com traços falciformes (portadores do gene, mas que não manifestam a doença), de acordo com o cadastro da Secretaria de Saúde do município.
Dois medicamentos são essenciais no tratamento dos pacientes: Hydrea (hidroxiureia) e penicilina oral e ambos estão em falta no Cedmex mantido pelo Governo do Estado. Eles evitam que o organismo seja prejudicado com a má formação das hemácias, células vermelhas responsáveis pelo transporte de oxigênio no sangue. Sem o uso contínuo dos remédios, o corpo começa a apresentar reações: fadiga, dores intensas nas articulações e tórax, necrose, isquemia, insuficiência renal, pulmonar e cardíaca.
A dona de casa Rosane Santos revela estar preocupada com a situação da filha Liana, de três anos, que sofre com os efeitos da falta de medicamentos para o tratamento da anemia falciforme.
“Os remédios pararam de ser fornecidos pelo Estado. Minha filha chegou a ficar 28 dias sem tomar a penicilina, até que eu consegui o remédio com outra pessoa. Essa semana fiquei sabendo que acabou também a Hydrea, ela já começa a apresentar piora. Esses dias ela tem estado fraca, com febre, reclamando de dor no corpo, tenho medo que entre em uma crise”, declara Rosane.
Os mesmos sintomas são sentidos por Dalmo Oliveira, de 45 anos. Ele também interrompeu a medicação. “É comum que o portador de anemia falciforme apresente algumas reações negativas no inverno. A gente percebe que a mudança climática prejudica nosso organismo. E agora, sem as cápsulas de Hydrea, a tendência é que a situação fique pior”, avalia Dalmo, que é um dos coordenadores da Associação Paraibana de Pessoas com Anemias Hereditárias (ASPPAH).
Ele afirma que a Associação vai entrar com uma ação civil pública junto à Promotoria de Saúde do Ministério Público da Paraíba (MPPB), cobrando providências para a reposição imediata do estoque de Hydrea e penicilina oral no Cedmex.
“Essa não é a primeira vez que faltam esses remédios, no ano passado aconteceu e nós denunciamos o caso ao Ministério Público. Estamos reunindo provas dos prejuízos à saúde dos pacientes para exigir uma solução imediata, antes que os portadores de anemia falciforme entrem em crises que podem evoluir para óbito”, diz Dalmo.
A assessoria de comunicação da Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou que a falta do medicamento Hydrea se deu devido a um atraso do fornecedor, mas que a licitação já foi feita e o estoque deverá ser reposto em no máximo 15 dias. A diretora do Cedmex, Giucélia Menezes, adverte que o Estado fornece apenas o Hydrea; a penicilina oral é remédio de atenção básica e não está incluído nas competências do Cedmex.
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