VIDA URBANA
Famílias invadem terreno
Grupo, que está erguendo barracos no Bairro do Novais, quer moradias e diz estar inscrito na Cehap e Semhab.
Publicado em 30/06/2015 às 6:00 | Atualizado em 07/02/2024 às 15:11
Pedaços de madeira, uma lona e um tapete. A isso se resume hoje a casa da dona de casa Girlene de Sousa, 30 anos, e seus três filhos. A família, junto com outras 150, invadiu no último sábado um terreno localizado na comunidade Bola na Rede, que fica no bairro dos Novais, em João Pessoa, por não ter mais condições de pagar aluguel. Segundo os moradores do local, todos estão cadastrados junto à prefeitura e ao governo do Estado para serem contemplados com moradias, contudo ainda não foram beneficiados. “A gente tem esperança de um dia sair daqui, porque isso não é vida, não!”, disse a dona de casa.
O banheiro é o mato, onde todos fazem as necessidades básicas, já para o banho, o jeito é apelar para a caridade de vizinhos residentes na comunidade vizinha, de acordo com Girlene. Segundo ela, que está cadastrada desde 2009 junto à prefeitura e ao governo do Estado, isso é provisório até todos conseguirem fincar seus barracos. Como mãe, ela revela não ser fácil se ver nessa situação, contudo a falta de opção de ter uma vida melhor a fez parar ali.
“Minha fonte de renda é os R$ 190 do Bolsa Família, além disso, meu esposo faz bico de pedreiro. A gente, só de aluguel, tava pagando R$ 250 e eu tenho que fazer reciclagem para poder completar. Faz dois meses que deixei de pagar o aluguel para poder comprar a comida e estão pedindo a casa. Se eu tivesse outra opção, com certeza não estaria aqui”, comentou.
Além da dona de casa, diversas famílias estavam à procura de lonas e pedaços de madeira para construir as suas casas. Uma dessas é a dona de casa Maria Betânia. Ela reside numa casa alugada com o marido e quatro filhos. Sem emprego e vivendo apenas de Bolsa Família, ela revela que não teve outra opção senão se juntar ao grupo e demarcar uma área para construir seu barraco. “Estamos sem saber o que fazer. Vimos esse terreno e viemos, porque é uma opção da gente poder comer. Porque hoje o dinheiro só dá pra aluguel e energia. A minha conta de luz mesmo tá vindo R$ 100, não sei de onde. Esperamos ser ouvidos”, clamou.
A também dona de casa Ana Maria Pereira informou que está à frente do grupo de famílias instaladas no local. Segundo ela, todos cansaram de esperar e a falta de condições os fez ir para o local. Ela, que trabalha atualmente no Programa Pão e Leite do governo do Estado, além de uma casa, clamou por doações de comida. “Eu trabalho, mas também não tenho mais condições de me sustentar com minha filha e netos. Virei para cá porque é o jeito e eu tenho fogão industrial, com o qual eu quero fazer sopão para esse povo não morrer de fome. Peço, encarecidamente, ajuda com comidas também para a gente. Toda ajuda é bem vinda”, disse.
CEHAP e Semhab
Segundo a presidente da Companhia Estadual de Habitação Popular (Cehap), Emília Correia, não é de conhecimento do órgão o cadastro dessas 150 famílias. Ela revelou que o terreno invadido pelas famílias é da prefeitura e, por esse motivo, é da Secretaria Municipal de Habitação de João Pessoa (Semhab) a competência para realizar o cadastro e providenciar moradias para essas famílias.
“O déficit habitacional da Paraíba é de 120 mil moradias, das quais 22 mil só em João Pessoa. Ao todo, deveremos entregar 707 moradias daqui para o fim do ano na capital e, quem estiver inscrito, poderá ser contemplado”, revelou, acrescentando que a Cehap está à espera da liberação de recursos para realizar a licitação de pelo menos outras 10 mil moradias que já estão com projetos prontos.
De acordo com o secretário adjunto da Secretaria Municipal de Habitação (Semhab), José Mariz, não existe um projeto específico voltado aos moradores da comunidade Bola na Rede. Ele afirmou desconhecer a existência dessa ocupação e revelou que é de competência de outras secretarias realizar a retirada desses moradores. Quanto à Semhab, ele informou que a secretaria deverá entregar, até o fim do ano, mil apartamentos populares. Ainda segundo Mariz, a Semhab possui atualmente 27 mil pessoas inscritas à espera de uma casa.
SEDURB
A Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedurb) informou que tomou conhecimento da invasão ontem. Imediatamente enviou uma equipe ao local e vai acionar tanto a Guarda Municipal, quanto uma equipe da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) para negociar com as famílias.
Comentários