VIDA URBANA
Famílias moram em mercados públicos
Sem ter para onde ir, nem como pagar aluguel, famílias transformam boxes de mercados públicos em casas improvisadas.
Publicado em 15/04/2014 às 6:00 | Atualizado em 19/01/2024 às 15:19
O flanelinha Samuel Carlos da Silva conhece como ninguém cada espaço do Mercado Central, a principal feira livre de João Pessoa. Mas, a área que um dia foi o local de trabalho da mãe, que era vendedora ambulante, e onde o rapaz brincava quando criança, há 11 anos serve como moradia para a família. Assim como a situação do rapaz, no mesmo mercado público outras duas famílias transformaram boxes em casas improvisadas.
Esta mesma situação se repete nas feiras livres de Oitizeiro e Bairro dos Estados, também na capital.
Dos cinco filhos de dona Terezinha Belarmino, Samuel é o que sempre está ao lado dela e foi para retirar a mãe de um abrigo, em 2003, mesmo sem ter como pagar aluguel, que mãe e filho resolveram voltar para o Mercado Central. Hoje, erguido próximo ao ferro-velho e entulhos, o pequeno boxe de madeira abriga ainda a mulher e o filho do flanelinha.
“Desde pequeno que eu tomo conta da minha mãe. Como a gente não tem para onde ir, o jeito foi ficar aqui mesmo. A gente já enfrentou muita coisa e não vamos nos separar”, disse Samuel, acrescentando ainda que gostaria de proporcionar ao filho uma casa em um ambiente melhor. “Aqui a gente vê de tudo e não quero que meu filho passe por necessidades. A gente não tem como pagar aluguel e até agora não veio ninguém da prefeitura”, disse Bianca Sousa, esposa do rapaz.
A mesma preocupação com o bem-estar dos filhos é sentida pela comerciante Josinete Araújo. Ela conta que nunca teve condições de ter uma moradia e morava em um casebre à beira do mangue, no bairro de Mandacaru, quando o filho mais velho foi assassinado, há 11 anos. Desde então, a jovem senhora mudou-se para o Mercado Central, onde vive hoje com três filhas. Quando chegam da escola, a única opção de lazer das crianças, que têm entre 2 e 8 anos, é brincar em um pequeno espaço em frente ao bar onde vivem com a mãe.
“Eu fico triste porque toda criança gosta de brincar, mas não posso deixar elas muito livres por causa do ambiente. Sei que não é certo, mas não tenho para onde ir e também preciso trabalhar para sustentar a casa”, lamentou Josinete.
Na zona norte da cidade, o mercado público do Bairro dos Estados também abriga pelo menos oito famílias. Embora a situação na infraestrutura das casas desse local seja melhor do que a encontrada no Mercado Central, a falta de condições das pessoas para morar em um local adequado é a mesma.
Na maioria dos boxes, os moradores dividem os cômodos entre áreas para a venda de produtos e espaços para convivência no lar. Os moradores alegam que não têm como pagar aluguel e ao mesmo tempo manter os estabelecimentos. Em uma das casas improvisadas mora Miriam da Silva. A dona de casa revela que o espaço foi cedido pelo empregador do marido dela há 2 anos, quando o casal foi despejado da casa onde morava, no bairro de Mandacaru. Apesar de estar cadastrada no programa 'Minha Casa, Minha Vida' há 5 anos, ela conta que desde então não recebeu resposta sobre a possibilidade de ser contemplada com uma casa própria.
“É melhor morar aqui do que onde a gente morava antes. Mas, o bom mesmo é quando a gente tem a nossa casa”, disse.
Nesses dois mercados, os sem-teto fixaram moradia e ergueram estruturas, ainda que precárias. Mas, no mercado de Oitizeiro e da Torre a situação é ainda mais preocupante.
Nesses dois espaços públicos, sem ter para onde ir os moradores de rua é que fazem do chão e dos boxes espaço para dormir durante a noite ou dias em que os locais estão fechados.
Comentários