VIDA URBANA
Famílias paraibanas estão 'encolhendo'
Dados comprovam que as famílias estão optando por terem menos filhos.
Publicado em 20/01/2013 às 8:00
Os cabelos brancos e as mãos calejadas revelam os muitos anos de trabalho árduo que a aposentada Maria Francisca de Oliveira precisou enfrentar. Viúva e mãe de dez filhos, ela teve que lavar roupas e trabalhar como doméstica para sustentar a família. Hoje, aos 79 anos, não se arrepende do que fez. “Foi muito sacrifício. Muito mesmo. Mas, se fosse preciso, eu faria tudo de novo. Lutei muito, mas conseguiu criar, educar e transformar meus filhos em pessoas de bem”, conta, orgulhosa.
Apesar de comuns, histórias de vida iguais a de Maria Francisca estão passando por uma sutil mudança nos últimos tempos na Paraíba: as famílias estão ficando menores. O principal motivo é que as mulheres estão tendo menos filhos. É o que revelam pesquisas feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2000, os pesquisadores encontraram, na Paraíba, 240.321 mães de seis ou mais crianças. Dez anos depois, essa quantidade caiu para 191.177. Já com relação àquelas que optaram em ter apenas um filho, a situação foi inversa. Em 2000, eram 153.370 mulheres que só haviam dado à luz uma única vez na vida. Passada uma década, o número de moradoras nessa situação subiu para 232.830.
Na casa da dona Maria, nem foi preciso de pesquisas para constatar essa realidade. Quando decidiu se casar, a aposentada tinha apenas 16 anos de idade. Aos 30 já era mãe de alguns dos dez filhos que teve. O tempo passou e o comportamento feminino também.
Aos 50 anos, Maria da Penha, filha mais velha da aposentada, só tem três filhos. E Gerlane da Silva, neta de Maria Francisca, com 30, só tem uma filha. “Eu até gostaria de ter mais filhos, mas não tenho condições financeiras para isso. A gente, que é mãe, sonha em dar um bom estudo para os filhos, em dar uma boa vida, e fica difícil fazer tudo isso quando se tem muitos filhos. Com uma só, fica mais fácil de criar”, conta Gerlane.
Questão financeira, uso mais comum de métodos contraceptivos e ingresso precoce no mercado de trabalho são as principais causas pelo controle da natalidade que vêm sendo feito pelas mulheres. É o que explica o pesquisador Mauro Nunes, atual superintendente do Instituto de Desenvolvimento Municipal e Estadual da Paraíba (Ideme). Para ele, essa mudança verificada pelos números é causada pela emancipação feminina.
“Há 15, 20 anos, no tempo de nossas avós, era comum as mulheres terem mais de dez filhos. Mas isso mudou, porque as mulheres começaram a ocupar os espaços que, antes, eram dominados pelos homens. Hoje, o mercado de trabalho absolve e exige que a mão de obra feminina seja tão eficiente quanto a masculina. Por causa disso, as mulheres estão tendo menos filhos para se dedicar ao trabalho”, analisa.
Ainda de acordo com o especialista, a taxa de natalidade está caindo na Paraíba. “Até 20 anos atrás, a paraibanas tinham, em média, entre três e quatro filhos. Em 2000, essa média caiu para 2,8, e a tendência é que isso diminua ainda mais, por causa da emancipação feminina”, diz.
“As mulheres estão trabalhando fora, assumindo novas responsabilidades e, com isso, resolveram reduzir a quantidade de filhos ou tê-los mais tardiamente. Com o controle da natalidade, ocorre redução dos jovens”, comentou Mauro Nunes.
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