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VIDA URBANA

Histórias infantis que não têm um final feliz

Invisivéis aos nossos olhos, os contos às avessas estão nas ruas de Campina Grande, e um deles é Cinderela.

Publicado em 29/06/2014 às 16:00 | Atualizado em 02/02/2024 às 17:24

“E foram felizes para sempre”. A frase que costuma marcar os contos de fada traz um alívio para quem escutou, leu ou viu uma história cheia de drama. Nos contos infantis, os personagens enfrentam diversas barreiras até conquistarem um grande triunfo. Na vida real, os contos existem, mas muitas vezes o final feliz está longe de chegar ou não chega nunca. Personagens reais estão todos os dias a nossa volta pelas ruas da cidade, o difícil é perceber uma vida através de olhos que esperam e de mãos estendidas. Não é fácil notar, mas são crianças que acabaram se tornando invisíveis aos olhos da sociedade. Apresentamos três histórias da vida real, mas que poderiam ser contadas como contos de fada às avessas. As identidades das crianças e adolescentes foram preservadas.

Era uma vez uma jovem que perdeu o pai ainda muito cedo e que passou a ser criada pela madrasta, crescendo entre irmãs malvadas e sendo obrigada a realizar todas as funções da casa, até encontrar a fada madrinha, que transformou o seu sonho em realidade. No conto de fadas, a Gata Borralheira conheceu um príncipe e teve um final feliz, mas uma Cinderela encontrada perambulando pelas ruas do Centro de Campina Grande, ainda não encontrou o seu final feliz ou mesmo um futuro. Aos 12 anos, ela não possui um sapatinho de cristal, nem sequer um par de chinelos para calçar.

Com um saquinho de plástico em uma das mãos, onde guardava menos de R$ 1, a Cinderela anda na rua com a esperança de conseguir mais moedas. A outra mão ela mantinha no rosto, tentando esconder uma ferida que não cicatrizava e que foi adquirida por queimaduras com óleo quente, quando ela cozinhava para a família. Na casa da Cinderela de Campina Grande moram oito pessoas em dois cômodos. Criada entre primos e tios, depois que a mãe morreu durante seu nascimento, ela contou que é a única que ajuda a tia com as atividades de casa. “Minhas primas não gostam de fazer nada e eu preciso ajudar”, frisou.

Sem chinelos, os pés que pisam direto no chão, acabam sujos como o resto do corpo, rosto e cabelo sem cuidados, mas a garota não se importa e acredita que a tia não faz nenhuma diferença entre ela e as filhas. “Minha chinela 'torou' e eu uso a das minhas primas quando dá, porque minha tia não tem condições de comprar outra”, disse. Apesar de estar nas ruas em uma sexta-feira pela manhã, ela contou que estuda, mas que tem que faltar às aulas, quando as fardas de suas primas não podem ser emprestadas.

Diferente da personagem principal do conto de fadas, o pai da Gata Borralheira de Campina Grande não morreu, mas de certa forma só permanece nas lembranças da filha, que não são boas. O amor incondicional de uma filha foi confirmado quando a menina começou a falar sobre o pai, com olhos de choro. “Eu não sei onde ele está. Da última vez que a gente se encontrou ele tava bêbado e me bateu. Faz um tempo já, mesmo ele me batendo eu gosto muito dele e queria que ele fosse diferente”, disse com voz de emoção. Mas a emoção parece ser algo quase extinto entre as crianças que andam nas ruas da cidade, que são abandonadas ou negligenciadas pelos pais ou responsáveis.

Aos 12 anos, a menina não sabe que a mendicância é a fórmula que alguns encontram para explorar as crianças, mesmo que a esmola seja para o usufruto delas, como na compra de seu próprio alimento. Sem também entender o tamanho da problemática que está envolvida a sua vida, a Cinderela não tem expectativa de um futuro diferente, mas entregou o que virá depois ao poder da fé. “Eu não sei o que quero ser. Só quem sabe disso é Jesus Cristo, o que Ele escolher, está bom pra mim”, disse inocentemente. Depois disso, a Cinderela continuou sua caminhada, sem olhar para trás.

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Jornal da Paraíba

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