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VIDA URBANA

Infância perdida: menores envolvidos em facções criminosas

Tráfico, ameaça policial e ameaça dentro de casa são os principais motivos que levam o MP a encaminhar crianças e adolescentes aos Programa de Proteção. 

Publicado em 30/04/2016 às 7:06

As telhas afastadas no teto do segundo andar da casa de Dona Tereza (nome fictício) entregam que há uma passagem irregular. O neto dela, Matheus (nome fictício), de apenas 14 anos, costuma passar dias fora de casa e retornar subindo no poste em frente a residência, pulando para o telhado e invadindo a casa. “Quando eu encontro, ele já dormindo aqui embaixo nas cadeiras. Já tentei internar esse menino de todo o jeito, mas nem o conselho tutelar, nem a promotoria podem fazer nada porque ele não quer ser internado”, relata a avó.
A 2ª Promotoria da Infância e Juventude contabiliza que centenas de crianças e adolescentes de Bayeux correm risco de morte por estarem envolvidos com facções. “Nós temos o PPCAM (Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte”, mas esse programa trabalha com voluntariado. Então geralmente as crianças não querem entrar. Temos inúmeros casos que o menino está envolvido com o tráfico, não quer entrar no programa, não é dependente químico e não foi pego cometendo ato infracional, para ser encaminhado ao CEA”, afirma a promotora Fabiana Lobo. “Então ele fica nas ruas correndo o risco. E a gente só recebe as notícias da tragédia, porque estamos de mãos atadas”, completa.
Entre os principais motivos que levam o Ministério Público, o Conselho Tutelar ou a Defensoria Pública a encaminhar crianças e adolescentes ao PPCAM estão o envolvimento com o tráfico, ameaça policial e ameaça dentro de casa. “Os pais nos procuram desesperados porque sabem que a criança está envolvida com facção, devendo em boca de fumo e ameaçada e não sabem o que fazer. O que falta é uma política nacional que nos permita internar essas crianças para a própria proteção delas”, declara Fabiana Lobo.
De acordo com a Promotoria, muitas crianças começam a se envolver com o tráfico quando vão desacompanhadas para a escola, onde no caminho, são chamadas por traficantes para que elas entreguem a mercadoria em troca de dinheiro. “Eles aceitam porque com o dinheiro podem comprar tênis e roupa de marca, que eles os pais não dariam. E para eles facção é status”, declara uma conselheira tutelar que não quis se identificar. “Eles começam como aviãozinho, depois o próprio tráfico vicia ele, e o que os traficantes dão, cobram mais tarde”, revela o conselheiro tutelar Reginaldo Pereira.
Segundo Dona Tereza, Matheus começou a passar dias fora de casa aos oito anos, quando foi transferido de escola. Eu já não aguento mais correr atrás dele. Eu e o avô dele fomos toda semana no Fórum para ver se eles conseguiam internar. Faz quinze dias que o avô dele morreu de desgosto e Matheus deve saber que foi culpa dele porque faz mais de um mês que ele não aparece aqui em casa. Ele nunca tinha ficado tanto tempo longe de casa”, declara. “Me disseram que era preciso um flagrante para internar o menino no CEA, então quando ele me furtou, eu fui na delegacia para fazer o BO e me disseram que o não podia registrar porque ele é parente, não é furto”, conta a aposentada.
“Ele já chegou a ficar tão agressivo com a gente que pegou um pedaço de ferro e disse que ia matar a gente. Eu nunca vi peguei ele com drogas, mas ele me disse que usava e vendia. Eu tranco ele dentro de casa, ele foge pelo telhado. Já peguei camisa dele com uma marca branca como se ele tivesse usado cocaína”, detalha. “Sinceramente, não sei a quem mais pedir ajuda, nem o que fazer. Temo muito pela vida dele e pela minha própria vida”, conclui.
Além dos “aviõezinhos” e dos meninos envolvidos com as facções, há também meninas que são exploradas sexualmente dentro do mundo do tráfico. “As meninas chegam drogadas e quando a gente pergunta como elas conseguiram as drogas, elas dizem que foram os 'parceirinhos' que deram. Esses 'parceirinhos' são os traficantes que dão droga em troca de sexo”, conta Fabiana Lobo.
Há, ainda, situações de risco para as pessoas envolvidas nos órgãos que tentam proteger as crianças e adolescente do mundo do crime em Bayeux. “Estava no carro levando um adolescente para o programa de proteção, e uma moto interceptou o carro. A nossa sorte é que tinha um policial perto e nos livrou da situação”, conta o conselheiro tutelar. “Já tivemos uma audiência aqui com um adolescente envolvido com a facção, que os membros da grupo chegaram aqui no Fórum, a paisana e desarmados, e ficaram circulando pelo prédio. Os parentes do menino ficaram em pânico”, lembra Fabiana Lobo.

“Nós temos o PPCAM, ou quando o adolescente já estiver com a dependência química a gente tem como entrar com ação por uma internação compulsória no Juliano Moreira ou até em clínica privada nós conseguimos que o município pague. Mas fora dessa situação, ficamos sem poder fazer nada e precisamos proteger essas crianças”, declara a promotora.

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Jornal da Paraíba

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