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VIDA URBANA

Infecção nos hospitais ainda é desafio

Risco de contaminação aumenta com falta de cuidados básicos dos profissionais e visitantes.

Publicado em 04/05/2014 às 16:00 | Atualizado em 29/01/2024 às 12:38

Um médico que sai do hospital com o jaleco, um enfermeiro que não lava as mãos corretamente e um visitante que não respeita as normas do hospital. Situações corriqueiras como essas podem passar despercebidas, mas também aumentar o risco de infecção hospitalar, problema sério que pode causar a morte de quem a adquire. Faltam denúncias nos órgãos fiscalizadores, mas sobram relatos de profissionais preocupados com o assunto.

O médico Eurípedes Mendonça, chefe de fiscalização do Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB), explicou que infecção hospitalar é um evento inesperado e grave, que pode ter consequências sérias, como a morte, em casos extremos. “Um paciente pode entrar no hospital com uma doença banal, sem gravidade, contrair uma infecção hospitalar e morrer”, afirmou. Em situações desse tipo, segundo Mendonça, a família do paciente pode, inclusive, entrar com uma ação de indenização contra o estabelecimento.

No entanto, não é tão simples constatar que a morte se deu em decorrência disso. “O paciente pode já entrar com infecção, portanto, seria preciso identificar a procedência da bactéria. Só se pode falar em infecção hospitalar se houver certeza de que a bactéria foi contraída nesse local”, explicou o médico, afirmando que essa descoberta é muito complexa.

O problema da infecção hospitalar se dá por diversos fatores, conforme explicou o chefe de fiscalização do CRM-PB. “Pode ser de responsabilidade do médico que não lava as mãos de forma adequada, pode ser do enfermeiro que não faz o manuseio correto do equipamento, pode ser um bisturi que cai no chão e mesmo assim continua sendo utilizado. Enfim, são várias situações que podem desencadear a infecção”, esclareceu.

O visitante também pode ser o responsável pelo problema, quando ele vai ao hospital e não lava as mãos antes de chegar até a pessoa doente. “De todos esses casos que foram citados, o CRM só tem gerência sobre os médicos, que são orientados a seguir as normas de instrução para controle da infecção hospitalar”, declarou.

Segundo Mendonça, que acompanha 'in loco' as fiscalizações do órgão, há muita irregularidade a ser sanada nas unidades hospitalares da Paraíba. “Eu diria que há estruturas precárias, que se configuram em crime”, declarou. Ele afirmou que no serviço privado os erros são mínimos, mas nos públicos, a situação chega a ser 'escandalosamente errada'. “Para um médico abrir uma clínica, ele terá de seguir uma série de requisitos e exigências. O fiscal acaba sendo a própria concorrência. No serviço público isso não acontece”, destacou.

Conforme o médico, o processo de esterilização de equipamentos é precário na maioria dos locais visitados, sobretudo clínicas odontológicas. Um grande erro, segundo ele, é o uso da estufa, equipamento considerado obsoleto na área de saúde por não esterilizar da forma correta. “Há 20 anos não se deveria usar mais a estufa, o correto é usar a autoclave”, frisou. Mas não basta apenas ter a autoclave, é preciso fazer a manutenção periódica.

CRM e COREN REPROVAM JALECO NA RUA

Médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem sabem que sair dos hospitais vestindo o jaleco, roupa usada para proteção individual, coloca em risco a saúde de quem está nas ruas, como também a deles. Da mesma forma, quando retornam ao hospital, aquela roupa vai representar perigo para os pacientes que lá estão. No entanto, a prática é comum e muitos profissionais foram flagrados pela reportagem do JORNAL DA PARAÍBA deixando as unidades hospitalares com o tradicional jaleco.

A prática é condenada pelo CRM-PB, segundo explicou Eurípedes Mendonça. “O jaleco é um equipamento de proteção individual, que tem o objetivo de resguardar a saúde do médico, mas infelizmente muitos profissionais parecem que não se importam com o risco”, afirmou. De acordo com Mendonça, o risco é ainda maior se o médico sai com a roupa que usou no bloco cirúrgico. “Isso pode ser denunciado à comissão de infecção da Secretaria de Saúde ou ao próprio CRM”, explicou. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o uso do jaleco exclusivamente no hospital.

O presidente do Conselho Regional de Enfermagem da Paraíba (Coren-PB), Ronaldo Beserra, também condenou a prática.

“Nossa orientação é que a roupa seja usada apenas no local de trabalho. O ideal é que os enfermeiros fossem trabalhar com uma roupa comum e vestissem o fardamento quando chegassem ao hospital”, declarou. “O hospital, por sua vez, deve ter um local para guardar roupas 'sujas da rua', bolsas e sapatos, para evitar problemas”, explicou.

Cansada dessa situação, a dona de um restaurante que fica na Avenida Pedro II, próximo a dois hospitais, colocou um aviso no estabelecimento pedindo a compreensão dos profissionais de saúde para que não entrassem no local com o jaleco. “Muitos clientes estavam incomodados com a presença de médicos e enfermeiros que vinham almoçar vestindo o jaleco, todo mundo sabe que aquela roupa está contaminada”, disse Elaine Cristina Dias.

Antes de colocar o aviso ela procurou o CRM, a fim de pedir esclarecimentos sobre como deveria agir. “Um médico me orientou a colocar um aviso e um cabide na entrada do restaurante. Assim o fiz”, declarou Elaine. Segundo ela, há quatro meses (o tempo que o cartaz foi fixado na parede), médicos e enfermeiros que frequentam o restaurante estão mais conscientes e atendem, sem resistência, o apelo da proprietária.

MAIS DE 100 SERVIÇOS SÃO MONITORADOS

Os hospitais da Paraíba são fiscalizados pela Comissão Estadual de Controle de Infecção em Serviços de Saúde (CECISS), da Secretaria Estadual de Saúde. A equipe formada por quatro profissionais (sendo uma médica, dois enfermeiros e uma administradora) comanda o trabalho de controle de infecção da Paraíba. É feita uma programação anual com base nas demandas recebidas no ano anterior.

Ao todo, são monitorados 112 serviços hospitalares em toda a Paraíba, dos quais 43 se enquadram como prioritários para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), conforme informou a enfermeira Rachel de Queiroz, integrante da comissão. A prioridade desses estabelecimentos se dá porque eles apresentam leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e realizam procedimentos cirúrgicos. As visitas são realizadas conforme estabelecido na programação anual, por meio de datas previamente combinadas. Mas acontecem também por denúncia espontânea demandada pelo Ministério Público e órgãos sanitários.

Em caso de denúncia ou surto, segundo a enfermeira, a equipe retorna para averiguar e tomar as providências necessárias.

“Podemos acionar órgãos parceiros, como o MP”, explicou. Em relação às clínicas sanitárias, a fiscalização cabe aos órgãos sanitários e aos conselhos de classe de cada categoria, segundo informações prestadas pela comissão.

As irregularidades mais frequentes encontradas pela equipe são a desestruturação das comissões de controle de infecção hospitalar dos hospitais, “sejam pela saída de profissionais para outros serviços, ou mudança de gestão hospitalar”. Quando a comissão verifica alguma irregularidade, uma nova visita é realizada para correção. Os erros são mais comuns no serviço público, conforme a comissão.

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Jornal da Paraíba

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