VIDA URBANA
João Pessoa já nasceu cidade
Cidade nasceu sem jamais ter sido vila, característica que os historiadores classificam como privilégio.
Publicado em 05/08/2014 às 7:00 | Atualizado em 04/03/2024 às 18:00
No livro ‘Uma cidade de quatro séculos’, os historiadores Wellington Aguiar e José Octávio de Arruda Mello destacam que “João Pessoa foi criada durante o antigo sistema colonial para exercer funções administrativas e comerciais”. A cidade, segundo os autores, nasceu sem jamais ter sido vila, característica que os historiadores classificam como privilégio.
Até o ano de 1855 a cidade se desenvolveu em um sítio à margem direita do rio Sanhauá. A parte mais baixa era ocupada pelas atividades de comércio e a parte alta abrigava os órgãos administrativos, culturais, religiosos e alguns prédios residenciais de alto padrão. Depois desse ano, houve expansão da cidade em direção ao litoral e ao sul, conforme os historiadores.
No ano de 1634, a cidade já contava com construções importantes, como os conventos de Santo Antônio, Carmo e São Bento, a Igreja de Nossa Senhora das Neves, além das igrejas de São Gonçalo e da Misericórdia. Nessa época, a cidade contava com cerca de mil habitantes na área urbana. No século XVIII, as construções da cidade ainda eram precárias, conforme destacado no livro ‘Uma cidade de quatro séculos’. As casas residências no século XIX eram modestas, apenas alguns sobrados ostentavam a imponência da arquitetura e o status mais elevado de seus moradores.
Quem morou na capital no início do século XX, por volta dos anos 1920, não esquece o saudoso hábito das cadeiras nas calçadas. Familiares e vizinhos se reuniam sempre depois do jantar para conversar, enquanto as crianças brincavam tranquilamente nas ruas, sem medo de atropelamentos (tinham poucos carros) nem da violência, mal que passou a assombrar a população décadas mais tarde. Apenas as brincadeiras das crianças ou o sino da igreja quebravam o silêncio das ruas.
Nessa época, as moças ainda se debruçavam nas janelas das casas quando passavam as procissões religiosas na rua Nova, que depois passou a se chamar General Osório. Vale lembrar que nessa rua moravam pessoas de destaque político e social. O evento mais importante da cidade, no período, era a missa às 10 horas aos domingos, sendo os membros da burguesia os que mais compareciam. Era conhecida como a “missa dos grã-finos”.
Nos anos 1920, a capital terminava na rua Diogo Velho, o que vinha depois desse trecho era considerado como sendo ‘fora da cidade’. A construção do Liceu Paraibano, por exemplo, rendeu muitas críticas a Argemiro Figueiredo, administrador da época, porque a imprensa afirmava que o colégio ficava fora da cidade, fato que prejudicava os estudantes por falta de transporte.
Na década de 1940, além do Centro, que tinha como núcleo o Ponto de Cem Réis e o Varadouro, havia três bairros – Tambiá, Trincheiras e Jaguaribe – interligados por uma linha de bonde.
O bairro de Cruz das Armas praticamente se limitava à avenida principal, onde está situado o 15°Batalhão de Infantaria Motorizado.
A cidade começou a caminhar em direção ao mar por volta dos anos 1950, com a construção do Jardim Miramar e o calçamento da avenida Epitácio Pessoa. Nessa época, as praias de maior prestígio eram Poço, Ponta de Mato e Formosa, em Cabedelo. A praia de Tambaú era frequentada apenas pelos moradores mais abastados, conforme o historiador José Octávio.
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