icon search
icon search
home icon Home > cotidiano > vida urbana
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
Compartilhe o artigo
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
compartilhar artigo

VIDA URBANA

João Pessoa: o charme de ser cosmopolita e provinciana

Conhecemos as tradições e as transformações da Capital paraibana pelo olhar de um cidadão genuinamente pessoense, o jornalista Petrônio Souto.

Publicado em 05/08/2008 às 8:14

Karoline Zilah

O que alguém que já circulou pelas inconfundíveis calçadas do Rio de Janeiro, que passou por metrópoles globais, como Londres, e pelas edificações de Oscar Niemeyer, em Brasília, teria a dizer sobre João Pessoa em seu aniversário?

Acontece que quem percorreu esses locais é o genuinamente pessoense Petrônio Souto, jornalista e advogado que versa e conversa incansavelmente sobre o cotidiano da Capital paraibana – alguém “terrivelmente apaixonado por João Pessoa”, como o define o amigo Lau Siqueira, poeta gaúcho e hoje diretor-executivo da Fundação Cultural de João Pessoa, a Funjope.

Ao ser convidado para falar da cidade, Petrônio questiona: “Acho que deveria ser alguém de grande representatividade. Eu sou apenas uma pessoa a mais, que anda pelas calçadas”. Mas foram destas calçadas que ele tirou sua inspiração para escrever crônicas e cultivou um amor especial pelo município, que comemora neste dia 5 de agosto os seus 423 anos de vida.

Aos 59 anos de idade e nascido na Maternidade Frei Martinho, em Jaguaribe, que já não existe mais, Petrônio Souto faz um passeio imaginário pelas calçadas de João Pessoa em uma conversa com a reportagem do Paraíba 1. O ponto de partida não poderia ser outro: o relato dos pontos tradicionais em que morou. Viveu na Rua da República, passou pela Rua da Areia, fixou residência no Roger e hoje, aposentado, mora na orla marítima, respirando o ar puro da praia de Cabo Branco.

Identidade cultural

Qual seria a identidade da terceira cidade mais antiga do Brasil, onde hoje é possível sentar-se em uma mesa de bar onde muitos dos amigos embarcaram de origens diferentes e aportaram aqui? Para Petrônio, é exatamente esta miscelânea de identidades e a ótima qualidade de vida que definem João Pessoa. “É a virtude de ser esse excelente espaço de acolhimento. Isso faz com que a cidade seja cosmopolita e ao mesmo tempo provinciana”, explica.

O jornalista conta que viu a cidade crescer de forma desordenada, um tanto conturbada, mas que isto não lhe tirou o charme, tornando-a capaz de recepcionar a todos que aqui procuram um espaço. “Como todas as capitais brasileiras, ela simplesmente ‘inchou’. Mas o nosso espaço urbano é tão especial que, mesmo em meio a esse transe, a todas as pressões sofridas, que resultaram em algumas deformações irremediáveis, a cidade teve força suficiente para conservar a sua identidade, convivendo, harmoniosamente, com o que veio e continua vindo de fora”, comenta.

Transformações

Petrônio Souto assiste às transformações ocorridas nas últimas seis décadas na cidade, sempre flertando com os clássicos pontos do cotidiano de João Pessoa. Referindo-se até hoje ao bairro do Roger como “Roggers”, onde passou boa parte de sua vida, o jornalista valoriza o nome original – e gringo – do local. “Para quem não sabe, o Roggers, além de ter sido o sítio de um inglês [Richard Roggers] que entendeu de ‘armar a barraca’ por essas bandas, continua sendo o bairro mais alto da cidade”, detalha.

Quando perguntado sobre qual seria o símbolo do cotidiano da cidade, Petrônio demonstra o seu “indisfarçável amor pelo Centro Histórico da cidade”, como descreveu o fotógrafo Guy Joseph. “Para os mais velhos como eu, o Ponto de Cem Réis, sem dúvida. Pra mim, que estou beirando os 60 anos, o Ponto de Cem Réis jamais deixará de ser a nossa "Plaza Mayor", não é?”.

Para ele, mesmo com as mudanças e as manias de metrópole que João Pessoa assume com o passar dos anos, esta ainda é a melhor cidade para quem não tem mais pressa para nada. Um recanto onde ainda é possível caminhar a pé pela cidade, andar de ônibus, entrar em filas e conversar com os amigos no meio da rua. “Em que cidade uma criatura pode fazer isso, diariamente, numa boa? A rima é a solução: João Pessoa!”.

Como observador romântico da Capital paraibana, Petrônio comemora que o pessoense tem voltado o olhar para o Centro Histórico, considerando-o um bem valioso que precisa de cuidados especiais. Para ele, o que também mudou para melhor foi “a consciência de que o Rio Sanhauá deve voltar ao convívio da cidade, deve ser devolvido aos olhos do pessoense”.

Do outro lado da moeda, estão as críticas de quem ama a cidade e se entristece ao vê-la perdendo suas características primordiais. Petrônio comenta, por exemplo, a descaracterização da orla, que, segundo ele, não foi ocupada de maneira “racional”. “Com as barracas, todas as mazelas do Parque Solon de Lucena foram transportadas, digamos assim, para a beira-mar”, declara, explicando que as poluições sonora e do ar, uma marca registrada do Centro da cidade atualmente, invadiu também a praia.

É com a esperança de ver João Pessoa crescer de mansinho, respeitando sua cultura e seu ritmo, que Petrônio Souto deixa a sua mensagem em celebração ao aniversário da cidade quadricentenária. “Agora que estamos valorizando mais o nosso Centro Histórico, procurando conter a sua descaracterização acelerada, devemos ter muito cuidado com a orla marítima”, complementa.

Carregando consigo uma bagagem de histórias de quem nasceu e cresceu como um andarilho nas ruas ladeadas pelo Rio Sanhauá e pelo mar que moldura a ponta do Seixas, ele continua admirando João Pessoa como a cidade cosmopolita e, ao mesmo tempo, provinciana que ela é. “E Deus queira que ela continue assim, pelo menos por mais duas décadas...”, conclui o jornalista.

Imagem

Jornal da Paraíba

Tags

Comentários

Leia Também

  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
    compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp