VIDA URBANA
João Pessoa tem 30 crianças e adolescentes vivendo nas ruas
Dados são da Secretaria de Desenvolvimento Social da prefeitura. Dentre os menores está Pedro, de 16 anos, que mora há 11 anos nas ruas.
Publicado em 12/10/2011 às 20:34
De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) da prefeitura de João Pessoa, cerca de 30 crianças moram nas ruas da capital paraibana. Segundo Maria Aparecida Rodrigues de Melo, diretora de assistência social da Sedes, este número corresponde apenas às crianças e adolescentes "de rua", ou seja, menores que vivem na rua e que não têm uma estrutura familiar ou casa para acolhê-los. O que os difere de outras crianças que perambulam pela cidade, trabalham, pedem esmolas e circulam pelos bairros, mas têm residência fixa e uma estrutura familiar.
Entre esses está Pedro (nome fictício adotado pela reportagem), de 16 anos, que mora desde os cinco anos de idade na rua e em instituições de acolhimento. A história de Pedro, que sofre de problemas mentais, foi contada pela conselheira tutelar Valdilene Rodrigues de Assis e pelo presidente do Conselho Tutelar Sul, localizado no Centro da capital, e representante do Fórum Colegiado Nacional de Conselheiros Tutelares, Lenon Jane Fonte de Sousa.
Segundo os conselheiros, Pedro é natural de João Pessoa e mora nas ruas da capital há cerca de 11 anos. Ainda de acordo com os conselheiros, a mãe do adolescente, que também tem problemas mentais, tem residência fixa no Bairro dos Novais, porém o filho não gosta de ficar com ela.
Os conselheiros ainda contaram que Pedro é usuário de drogas há três anos e que já sofreu abuso sexual várias vezes por outras pessoas que também moram na rua. Segundo Valdilene, “o maior problema de Pedro é que ele não quer ficar em canto nenhum. Ele tem casa fixa, tem a mãe dele, mas ele não quer ficar. Ele já foi encontrado várias vezes em outros estados do Brasil e quando era encontrado mentia sobre o próprio nome e endereço. Só depois de muito tempo é que os conselheiros dos outros estados descobriam a verdade e o encaminhavam para este Conselho Tutelar”, disse.
“Mas recentemente surgiu uma nova opção para Pedro. Nós encontramos um irmão dele que mora na cidade de Barbalha, localizada no Ceará (a 575 km de Fortaleza), e que está disposto a recebê-lo. E Pedro só fala nisso a todo instante, estamos apenas esperando a verba (que foi solicitada à prefeitura) para que possamos levá-lo”, afirmou Valdilene.
Enquanto a reportagem ouvia os conselheiros, fomos interrompidos por um caso que chegou ao Conselho Tutelar: duas crianças que estavam trabalhando em um sinal de trânsito de uma rua de João Pessoa. De acordo com o pai dos dois meninos, eles foram para a rua sem a permissão dele. “Eu disse aos meus meninos para ficarem em casa, mas eles são muito teimosos, quando eu dei por mim, eles já haviam saído”, afirmou o pai dos garotos.
De acordo com o conselheiro Lenon, esse caso é um exemplo claro de crianças que estão na rua, prestes a se tornar "meninos de rua". “O pai dessas crianças já perdeu o controle da situação, logo eles vão para as ruas e não voltarão mais. Nas ruas eles têm liberdade, têm acesso a dinheiro, acesso a drogas, enfim, tudo que normalmente eles não encontram em casa”, afirmou.
Os conselheiros disseram que a maioria dos casos de crianças e adolescentes que vão morar nas ruas se dá por conta da péssima estrutura familiar. “Muitos destes garotos não têm pai ou mãe, ou os pais são dependentes químicos, entre vários outros problemas. Eles não têm uma base familiar em casa e por isso mesmo preferem morar nas ruas, onde têm acesso a coisas que eles não teriam se morassem com a família. E depois que estas crianças e adolescentes estão na rua, eles se tornam muito vulneráveis ao tráfico de drogas, por exemplo, que pega muitas destas crianças para a venda de entorpecentes. Infelizmente essa é a realidade”, explicou o conselheiro.
“Nas ruas, essas crianças e adolescentes estão muito suscetíveis à violência. Eles podem sofrer abusos sexuais, espancamentos, serem convocadas para o tráfico de drogas. Pedro, por exemplo, uma vez foi amarrado a uma moto e arrastado por quilômetros. Esse foi só um ato isolado de violência que ocorre com os menores. Além do perigo da gravidez e do contágio de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), que muitos destes garotos e garotas possuem, por conta do não uso de preservativos", disse Lenon.
Segundo a Sedes, a maioria desses menores que vivem nas ruas é de outras cidades da Paraíba. “70% dessas crianças não são da capital. Eles procuram pontos atrativos de João Pessoa, como a Lagoa (Parque Sólon de Lucena), a rodoviária e semáforos da capital, além da orla no período do verão, época em que aumenta muito o número de crianças e adolescentes nas ruas”, afirmou o conselheiro.
De acordo com Maria Aparecida Rodrigues de Melo, as assistentes sociais recolhem essas crianças nas ruas e as encaminham para casas de passagem, onde elas recebem todas as orientações e são devolvidas às suas famílias.
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