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VIDA URBANA

Lavadeiras falam da profissão e do cuidado com as peças da clientela

Mulheres têm na lavagem de roupa uma forma de sobrevivência. Embora a máquina facilite, elas preferem lavar roupas na mão

Publicado em 10/04/2016 às 13:34

Enquanto estende as roupas no varal, Severina da Silva, 61 anos, não para de conversar. Quem a vê assim, tão cheia de energia, não imagina que sua rotina começou cedo. Às 5h ela levanta, toma um café meio apressada e sai de casa com uma bacia de roupas na cabeça, caminhando pacientemente pelas ladeiras da comunidade onde mora, no bairro da Torre, em João Pessoa. O destino é a Lavanderia Comunitária Padre Deon, onde Severina encontra outras mulheres que têm na lavagem de roupa uma forma de sobrevivência.

Desde que ficou viúva, há 12 anos, lavar roupas para outras famílias se tornou a principal atividade de Severina, que sustenta a casa com o dinheiro que recebe das roupas e a pensão de um salário mínimo. Na Lavanderia Comunitária ela coloca na máquina as roupas pesadas – edredom, colchas, calças jeans. Na mão, lava todo o resto. Em cada peça de roupa que esfrega, parece aliviar os dramas de quem desde muito cedo teve que aprender a se virar.

Em outro canto da lavanderia, dona Lourdes Oliveira, 73 anos, concentra toda a atenção nas roupas que passa. Não gosta de deixar 'dobras', razão pela qual as roupas chegam impecáveis aos clientes. Dona Lourdes é a lavadeira mais antiga da comunidade. Entre uma lavagem e outra, ela conta 40 anos de ofício. Começou lavando na beira do rio, depois passou para uma lavanderia comunitária aberta. Há quatro anos, está na Lavanderia da Torre. Nesse período, foi feliz e triste. Viu a morte chegar para as amigas de batente. Hoje, ri das lembranças que ficaram das antigas companheiras.

O cuidado da aposentada com as roupas da clientela chama a atenção. Enquanto passa camisas, calças, bermudas, dona Lourdes reflete sobre a vida, sobre as dificuldades que já enfrentou. Em alguns instantes se mostra tímida, em outros demonstra impaciência, mas sempre com bom humor. “Essa entrevista já terminou? Tenho muita roupa para dar conta”. De repente, encontra a solução: “Puxa essa cadeira e senta aqui do meu lado 'pra' gente conversar”.

Se os clientes são exigentes, dona Lourdes não decepciona. Cada peça de roupa recebe uma atenção especial. Entre as lavadeiras, há o consenso de que é preciso coragem, paciência e uma certa técnica para fazer um bom trabalho. “Até hoje ninguém reclamou de nada. Faço por amor”, declara a aposentada.

Embora a máquina de lavar facilite o trabalho, Severina, Lourdes e tantas outras mulheres da lavanderia não dispensam o jeito antigo de lavar roupas: na mão.

Lavanderias ajudam a economizar gastos

A Lavanderia Comunitária da Torre possibilitou a inclusão social de mulheres simples da comunidade, que antes tinham dificuldade em lavar roupas para fora – seja por falta de máquina de lavar, seja porque a conta de energia vinha alta demais no fim do mês. Na lavanderia, elas não têm essa preocupação. São oito máquinas de lavar de 10,5 kg cada, tanques, tábuas de passar, ferros (embora a maioria prefira usar o seu próprio ferro).

Edna Gomes, 47, diz que a lavanderia melhorou sua vida no sentido de que hoje ela pode pegar mais encomendas que antes. “O trabalho que antes eu fazia na mão, agora divido com a máquina. Facilitou bastante”, declara. Edna chega a pegar cinco, seis encomendas de roupas por mês. Prefere cobrar por peça, mas muitas vezes encontra resistência de quem contrata o serviço. “Tem gente que não quer pagar, acha caro”, conta.

Para agradar a clientela, ela lava e passa sem pressa. Enquanto trabalha, conversa com outras lavadeiras sobre assuntos diversos. Às vezes cantarola uma música qualquer; às vezes silencia. A habilidade com a qual passa as roupas confere um certo orgulho a Edna. Lençol de elástico, colcha e camisa social exigem um tempo maior e uma técnica que se aprende ao longo dos anos, segundo a mulher. “Tem que agradar a patroa. E para isso tem que caprichar no que está fazendo”.

Com a experiência de quem criou quatro filhos com o dinheiro que ganhava das lavagens de roupas, Maria Justino, 67, frequenta a lavanderia vez por outra para ajudar a irmã. O ofício de muitos anos, hoje já não faz parte da realidade da aposentada. “Criei meus quatro filhos lavando roupa. É um trabalho digno como outro qualquer, mas tem que ter disposição, viu?”.

A tecnologia da máquina de lavar não impede que o ofício passe de geração em geração. É o caso de Shirley dos Santos, 35, que, assim como sua mãe, também lava e passa para fora. Shirley está praticamente todos os dias na lavanderia.

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Jornal da Paraíba

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