VIDA URBANA
Litoral não tem bombeiros suficientes para atender a demanda
Na faixa de mais de 100 quilômetros que compreendem o Litoral Sul e Litoral Norte, somente dez homens do Corpo de Bombeiros atuam durante a semana.
Publicado em 18/01/2015 às 15:00
Somente dez bombeiros militares atuam durante a semana na faixa litorânea da Paraíba que compreende o Litoral Norte e Sul. O quantitativo é considerado pequeno diante da extensão da região e da quantidade de pessoas que frequentam as praias do Litoral Norte e Litoral Sul, sobretudo neste período de alta estação. Nesses trechos, que compreendem mais de 100 quilômetros de extensão, a reclamação da população é a mesma: a precariedade nos serviços públicos de saúde para atendimentos de urgência e pouco efetivo de bombeiros para as ações de socorro.
Apesar das dificuldades, em 2014 foram registrados 304 casos de salvamento em todo Litoral da Paraíba, sendo 27 deles ocorrência de afogamento, segundo dados do Corpo de Bombeiros. Os casos ilustram a necessidade de reforço nas equipes de primeiros socorros nas praias. Conforme informações do Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB), os postos de saúde e hospitais municipais é que deveriam dispor desses serviços.
Para constatar a situação, o JORNAL DA PARAÍBA percorreu as praias Bela e de Pitimbu, no Litoral Sul; Pontinha, Lucena e Campina, no Litoral Norte. Os trechos visitados estão localizados nos municípios de Pitimbu, Lucena e Rio Tinto e durante a produção da reportagem não havia bombeiros ou salva-vidas nos locais. Segundo informações da assessoria do Corpo de Bombeiros, são 17 postos instalados em todo o Litoral paraibano, sendo que só quatro funcionam durante a semana e os demais nos fins de semana. Dos quatro, três deles estão João Pessoa (Busto de Tamandaré, Cabo Branco, Seixas) e outro na praia de Barra de Gramame (Gramame Sul), no Litoral Sul, que funcionam com 10 bombeiros para atender a demanda.
No restante dos municípios do Litoral, os atendimentos são realizados conforme as chamadas telefônicas para o serviço de emergência (193). Aos finais de semana e feriados, conforme a assessoria, o efetivo diário passa de 10 para 40 bombeiros distribuídos para todo o Litoral, com o apoio de quatro ambulâncias e duas motos resgate.
“Durante a semana aqui é muito difícil ter bombeiro. Quando tem algum acidente quem socorre é pessoal mesmo”, disse a comerciante Helena Bezerra, que trabalha na Praia Bela, em Pitimbu, há seis anos. Ela reclamou ainda que durante a semana o posto de saúde mais próximo da comunidade funciona apenas um dia. “O posto só funciona na quinta-feira, quando tem médico. A gente tem que ir para Pitimbu ou então para João Pessoa”, denuncia a comerciante.
Conforme os moradores de Praia Bela, o local é considerado de risco para quem não conhece o comportamento do mar no trecho. Segundo a comerciante Rizolene da Silva, a maioria dos afogamentos é causada por negligência dos banhistas e falta dos bombeiros para alertas e orientação. “Aqui vem muita gente de fora que não conhece a praia. A gente diz que é perigoso, mas o pessoal não obedece e tem gente que entra embriagado no mar”, disse.
A três quilômetros de distância de Praia Bela, na praia de Pitimbu o socorro é feito pelos pescadores, conforme relata o pescador Rizonildo Pontes. “Já vi muita gente se afogando por aqui e quando não tem os bombeiros a gente mesmo é que salva o pessoal até a ambulância chegar”, disse.
A denúncia dos comerciantes e moradores do local é reforçada pelos visitantes das praias, como o representante comercial George Gouveia. “Costumo vir nos finais de semana e é muito difícil encontrar bombeiros, a não ser nos feriados ou Carnaval. O problema é que pode acontecer alguma coisa”, lamentou o pessoense.
Barra de Gramame é a mais perigosa para os banhistas
Do total de afogamentos informados pelo Corpo de Bombeiros, em 21 casos as vítimas conseguiram sobreviver. A praia de Barra de Gramame, no Litoral Sul, é tida pelos bombeiros como uma da mais perigosas para os banhistas. No local, uma pessoa morreu afogada em 2014 e das 304 ocorrências de salvamento registradas em todo o Litoral, 189 ocorreram nessa praia.
“A praia de Gramame é considerada perigosa porque naquele maceió que tem lá a correnteza é muito forte e o rio é profundo. As pessoas se enganam muito, pois a margem é rasa, mas há trechos próximos que são muito profundos”, alertou a aspirante do Corpo de Bombeiros, Thaís Nazário. Ela acrescentou ainda que por conta dos riscos de acidentes em Barra de Gramame, todos os dias o local conta com quatro guarda-vidas, sendo dois a pé e outros dois que trabalham com moto aquática.
Os outros cinco casos de morte por afogamento ocorreram nas praias da Penha (1), Sol (1), Bessa (1), Praia Bela (1) e Lucena (1).
Além de Gramame, na sequência das praias perigosas listada pelo Corpo de Bombeiros, vem as praias do Seixas e do Sol, ambas localizadas em João Pessoa, com 15 ocorrências de socorro em cada uma.
Em 2014, Bombeiros realizaram mais de 21 mil ações
Segundo a assessoria de comunicação dos Bombeiros, para realizar os socorros no Litoral o Batalhão de Busca e Salvamento conta com quatro botes e três motos aquáticas. As motos ficam distribuídas nas praias de Barra de Gramame, Cabo Branco e Cabedelo, além de quatro ambulâncias de suporte básico.
As equipes trabalham ainda com ações preventivas . Em 2014 foram 21.295 ações. Entre os procedimentos estão trabalhos de advertência, informações sobre a praia visitada e distribuição de pulseiras de identificação para as crianças. Somente com esta última atividade foram 6.502 pulseiras distribuídas no ano passado. “A distribuição dessas pulseiras é importante para ajudar a localizar os responsáveis pelas crianças, caso elas se percam e sofram algum acidente. No ano passado, foram 124 casos de crianças perdidas, 72 na praia do Cabo Branco”, disse a aspirante Thaís Nazário.
Prefeito rebate denúncias dos pecadores
As reclamações feitas pela população de Pitimbu foram rebatidas pelo prefeito da cidade, Leonardo Barbalho. Segundo ele, o município dispõe de uma unidade pronto atendimento que funciona em plantão de 24 horas, inclusive aos finais de semana. Além disso, ele negou que tenha postos de saúde funcionando sem médico no município.
“Quando a gente toma conhecimento de que está faltando médico em alguma unidade, nós contratamos outro. A única modificação que fizemos foi retirar uma unidade de saúde que funcionava dentro da estrutura da unidade de prontoatendimento para deixar somente esse tipo de assistência no local”, explicou o prefeito. Ele adiantou ainda que esta semana participará de uma reunião com equipes do Corpo de Bombeiros para solicitar reforço no efetivo que atende as praias do município.
Leia a matéria completa na edição impressa deste domingo (18) do JORNAL DA PARAÍBA
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