VIDA URBANA
Mãe de Manoel Mattos teme absolvição de acusados do crime
Mãe de Manoel Mattos, diz ter centralizado toda a exposição do caso para si, com o objetivo de preservar a vida do restante da família.
Publicado em 17/04/2015 às 6:00 | Atualizado em 15/02/2024 às 12:28
“Estamos temerosos e apreensivos, porque, com eles soltos, a gente fica mais vulnerável ainda. Eu fui ameaçada antes e até depois da morte de Manoel, tanto é que atualmente eu ando escoltada”. Esse é o sentimento de Nair Ávila, mãe do advogado Manoel Mattos, após a divulgação da sentença dos acusados de executar seu filho no ano de 2009. Na decisão do júri popular, apenas dois dos cinco réus acusados foram condenados pela morte do advogado. O Ministério Público Federal (MPF) recorreu da sentença logo após sua divulgação.
Os réus Flávio Inácio Pereira, apontado como um dos mandantes da execução, e José da Silva Martins (autor dos disparos) foram considerados culpados pelo Conselho de Sentença. Eles pegaram, respectivamente, 26 e 25 anos de reclusão em regime fechado por homicídio duplamente qualificado com dois agravantes (motivo fútil e sem dar chance de defesa à vítima). Os outros réus – Cláudio Roberto Borges (que também foi apontado como mandante), José Nilson Borges (que teria emprestado a espingarda usada no homicídio) e Sérgio Paulo da Silva (que teria acompanhado José da Silva Martins) – foram absolvidos.
Para Nair Ávila, mãe de Manoel Mattos, que diz ter centralizado toda a exposição para si com o objetivo de preservar a vida do restante da família, mesmo esperando a condenação de todos os acusados, o seu coração de mãe está, em parte, satisfeito. Segundo ela, todos os acusados são pessoas muito perigosas, mas os dois condenados, em particular, foram aqueles que tiveram maior participação na morte do seu filho. Ela lembrou dos relatos do advogado Manoel Mattos com relação às constantes ameaças recebidas.
“O Flávio, que foi um dos condenados, foi uma das pessoas que mais fez mal a Manoel, pois ele o perseguia, ameaçava, e ele foi condenado, bem como o outro, que atirou no meu filho. Eu, como mãe, me dou por satisfeita. Foram seis anos e quatro meses de espera por esse júri que, graças a Deus, aconteceu com tranquilidade”, comentou. “Onde quer que ele esteja, ele está feliz. Não é fácil para mim, como mãe, perder um filho, principalmente porque ele era uma pessoa muito especial, que veio para esse mundo fazer o bem. Ele entrou para a história”, completou.
O JULGAMENTO
O júri do caso Manoel Mattos teve início na última terça-feira com o depoimento dos réus e durou dois dias. Em depoimento, o sargento reformado da Polícia Militar Flávio Inácio Pereira, acusado de ser o mentor do crime, se disse inocente alegando que a vítima o perseguia. Também apontado como mentor, Cláudio Roberto Borges negou participação no crime e afirmou que ficou sabendo da execução por outras pessoas. O irmão dele, José Nílson, confirmou que emprestou a arma para José da Silva e que a recebeu das mãos do sargento Flávio. Ele ainda explicou que entregou a espingarda para a polícia com medo de ser investigado como coautor do assassinato.
Em depoimento, José da Silva Martins, acusado de executar o advogado junto com Sérgio Paulo da Silva, disse que pegou uma espingarda calibre 12 emprestada com José Nílson Borges para fazer bicos de segurança em casas na Praia de Pitimbu, na Paraíba. Foi nesta região que Manoel Mattos foi executado, em 2009. Martins e Sérgio Paulo da Silva afirmaram que não se conheciam e que eram inocentes do crime.
ENTENDA O CASO
O advogado Manoel Mattos era vice-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) em Pernambuco e integrava a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil seccional de Pernambuco. Ele denunciava a atuação de grupos de extermínio que teriam atuação nas cidades de Pedras de Fogo e Itambé, na divisa entre Pernambuco e Paraíba. Os grupos teriam participação de policiais militares e teriam como foco o extermínio de meninos de rua, supostos marginais, homossexuais e trabalhadores rurais. O assunto chegou a ser tratado na Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara dos Deputados Federais em 2005.
O defensor dos Direitos Humanos foi executado em 24 de janeiro de 2009 em uma casa de veraneio no município de Pitimbu, na Paraíba. Mattos estava com a família quando dois homens encapuzados entraram na residência e atiraram contra o advogado. Segundo o processo, os acusados pelo crime são o sargento da Polícia Militar (PM) Flávio Inácio Pereira e Cláudio Roberto Borges, apontados como mandantes, José da Silva Martins e Sérgio Paulo da Silva, denunciados como executores, e José Nilson Borges, irmão de Cláudio e dono da arma. Eles respondem pelo crime de homicídio qualificado praticado por motivo torpe e mediante dissimulação ou outro recurso que dificulta ou torna impossível a defesa do ofendido.
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