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VIDA URBANA

Mais de metade das famílias paraibanas não aceitam que parentes tenham órgãos doados

Apenas sete, de 142 doadores em potencial, tiveram órgãos doados em 2015.

Publicado em 13/08/2016 às 7:00

Todo mundo conhece a importância da doação de órgãos. Pelo menos na teoria. Já na prática, a situação é muito diferente. De acordo com dados do Ministério da Saúde, apenas 4,92% dos potenciais doadores na Paraíba de fato doaram seus órgãos em 2015 – durante o ano passado, 142 pessoas foram notificadas como doadoras em potencial, mas somente sete tiveram algum órgão ou tecido doado no período.

O número é alarmante e, de acordo com especialistas, a alta taxa de recusa familiar, de 62%, é um fator importante na hora da decisão pela doação ou não. Para ser um doador, qualquer pessoa basta apenas comunicar à família, o que é chamado pelos médicos de consentimento informado. A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes dependem da autorização do cônjuge ou parente maior de idade. Comprovada a morte encefálica do paciente, é firmado em documento subscrito por duas testemunhas.

Para a estudante de Jornalismo e Direito Maria Eunice Cabral, a consciência de se anunciar como doadora de órgãos surgiu de seu costume de doar sangue. “Pra mim, ambas as doações partem da mesma ideia, a disposição em dividir-se com o outro”, conta ela. “Se tenho vida, por qual motivo não compartilhá-la? A vida é preciosa demais pra que eu a leve para a morte”, afirma. A estudante comunicou a decisão aos familiares em 2012 e publicou o status de doadora nas redes sociais.

Resistência familiar tem vários motivos, dizem especialistas

De acordo com o médico Leonardo Borges de Barros e Silva e o enfermeiro Edvaldo Leal de Moraes, coordenadores da Organização de Procura de Órgãos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), os motivos para a recusa da doação pela família são diversos e vão desde crenças religiosas que impedem a realização do transplante até o desconhecimento e não aceitação da morte encefálica. Muitos familiares acreditam que, por estar com o corpo quente e o coração batendo, o ente ainda tem chances de sobrevivência.

Entretanto, os médicos ressaltam que o diagnóstico de morte encefálica – conhecida também como morte cerebral – é irreversível. “O paciente perde todas as funções que mantêm a sua vida, como a consciência e capacidade de respirar”, afirmam. “O coração permanece batendo e os demais órgãos funcionando. Com exceção das córneas, pele, ossos,vasos e valvas do coração, é somente nessa situação que os órgãos podem ser utilizados para transplante”, observam os especialistas.

Segundo Gyanna Lys de Melo Moreira Montenegro, Coordenadora da Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) da Paraíba, dificuldades logísticas na confirmação da morte encefálica também podem contribuir para o baixo número de transplantes no Estado. “Em 2015, houve uma queda no número de doadores efetivos, assim como no número de transplantes realizados”, conta. Segundo números do Ministério da Saúde, 148 transplantes foram realizados no estado da Paraíba em 2015. Desses, 114 casos foram de córneas transplantadas e 34 de rim.

Exposição em João Pessoa procura conscientizar população

Muitas vezes, a família da pessoa que se declara doadora não dá a devida importância ao assunto. “Não tenho certeza se eles levaram muito a sério”, diz Maria Eunice. “Eles ouviram, mas não deram tanta importância”.

É para evitar situações como essa e conscientizar a população que o Ministério da Saúde, em parceria com a Fundação Faculdade de Medicina da USP, realiza o Projeto 'Gesto de Herói – o poder de doar vida' em João Pessoa. A exposição itinerante, que já passou pelas cidades de Rio Branco (AC), Manaus (AM), Belém (PA), Teresina (PI), São Luís (MA) e Natal (RN), está em exibição em João Pessoa, nos shoppings Tambiá e Mangabeira, até este domingo (14). Além da exibição de depoimentos reais de familiares de doadores falecidos e transplantados, os visitantes contarão com painéis explicativos sobre o processo e, ainda, a presença de especialistas nessa temática para responder perguntas.

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Jornal da Paraíba

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