Mais de oito mil cirurgias de catarata são feitas na Paraíba

Aos poucos, Isabel Gonçalo, 73, passou a desconhecer a beleza das flores que tanto cuidava. Os rostos dos netos queridos também já não eram vistos com perfeição, assim como as cores do mundo a sua volta. A catarata – ou 'nata' no olhos, como dona Isabel costumava falar –, que interferia na rotina diária e 'tornava o mundo mais escuro', é a maior causa de cegueira em todo o mundo. Ela provoca a perda da transparência da lente natural que nós temos nos olhos, o cristalino, e o único tratamento possível para reverter o quadro, é a cirurgia, algo que dona Isabel relutou em fazer, mas que depois de feito, não esconde a alegria.

“O mundo ficou mais claro, agora eu posso cuidar das minhas plantas e meus netos. Mais importante do que a visão não existe”, disse a aposentada, que foi submetida à cirurgia em dezembro do ano passado. Assim como dona Isabel, e com o objetivo de para enxergar melhor, mais 8.356 pessoas fizeram cirurgia para combater a catarata nos últimos dois anos na Paraíba (2014 e 2015), conforme dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES). Na Pesquisa Nacional feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a região Nordeste superou a média nacional de idosos com catarata.

Isso ocorre porque a patologia é uma condição natural do envelhecimento, explica o oftalmologista Diego Gadelha. “Todo mundo em torno dos 70 anos, por exemplo, tem algum grau de catarata, menor ou maior, mas que vai se apresentar.” O médico ressaltou que a alta incidência da doença no Nordeste se deve à alta exposição dos olhos ao sol, por isso é recomendado o uso dos óculos escuros, que podem retardar o aparecimento da doença.

No entanto, a catarata não é uma exclusividade dos mais velhos, os jovens também podem apresentar algum grau da patologia. “Existem alguns tipos de cataratas que são induzidas por medicações. Remédios como corticóides podem favorecer, então pessoas mais novas também podem apresentar um grau da doença”, alerta o médico, ao recomendar o exame anual, para que o problema seja detectado mais precocemente, já que não há como se 'prevenir' da doença.

E é para tentar detectar precocemente a catarata que Albaniza Raposo, 58, vai ao médico todos os anos. Segundo ela, o exame é necessário e rápido. “Venho fazer sempre porque a saúde da visão é muito importante”, afirmou.

Mas quando a catarata começa a interferir na visão, o único tratamento reversível é a cirurgia. Segundo o oftalmologista, o procedimento é rápido e relativamente simples. “Vamos retirar o cristalino opaco e colocar uma lente sintética dentro do olho que vai substituir a função do cristalino, o que faz com que o paciente volte a ter acuidade visual, ou seja, enxergar”, esclarece. O procedimento é de baixo custo, rápido, com cirurgia local e pode ser feito na rede pública de saúde.

Conforme a SES, o Estado tem interagido no processo através das Gerências Regionais, dando apoio às Prefeituras e fazendo as triagens para execução das cirurgias. “Os hospitais que normalmente executam essas cirurgias são os regionais, todavia, os municípios que recebem os profissionais oferecem todo apoio logístico, incluindo o local para execução das cirurgias, que podem ser hospitais próprios ou serviços conveniados com o SUS”, diz a nota emitida pela assessoria de imprensa do órgão.

A catarata é uma lesão oftalmológica que provoca uma opacidade na região do cristalino do olho, o que pode diminuir consideravelmente a visão, sendo a maior causa de cegueira em todo o mundo. Das doenças reversíveis, é a com maior prevalência mundialmente, já que a principal causa do problema é o envelhecimento, e a partir dos 50 anos de idade é possível ter a enfermidade, mesmo que em níveis pequenos de intensidade. A cirurgia de catarata, único tratamento possível, visa substituir o tecido cristalino danificado por uma lente.