VIDA URBANA
Mais um paciente do Juliano Moreira volta ao convívio da família
Raimundo Davi dos Santos viveu os últimos 17a nos no coplexo psiquiátrico e agora vai morar com o irmão.
Publicado em 21/07/2014 às 11:48
Nesta segunda-feira (21), está prevista a saída de mais um paciente “morador”, portador de transtorno mental, do Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira. Aos 46 anos de idade, 17 deles vividos no Complexo, Raimundo Davi dos Santos é o 44° paciente a passar pelo processo de desinstitucionalização, ou seja, deixar a instituição e retornar ao convívio familiar e social.
Deficiente visual e auditivo, Raimundo estava até setembro de 2013 sem contato com a família, até que esta realidade mudou de forma inusitada. “Foi emocionante ver o irmão de Raimundo chegando até nós para procurá-lo. Com a desinstitucionalização, somos nós, profissionais, que buscamos a família. Ver o processo inverso foi engrandecedor”, afirmou a assistente social do Complexo, Ana Isabel Carvalho Correia Lima. Ela disse, ainda, que Raimundo viajará para São Paulo, onde vai morar com familiares. “É gratificante saber que será acolhido e continuar o tratamento em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) bem próximo de sua nova casa”, comentou.
A intenção deste processo, que tem como base a Lei da Reforma Psiquiátrica (10.216/2001), é transformar o modelo hospitalocêntrico (hospital no centro) para a assistência à saúde mental, que não nega a necessidade de amparo à doença mental, mas valoriza, também, a importância do cuidado em liberdade e do retorno à vida social.
Os CAPS estão entre os mecanismos seguros que o Ministério da Saúde instituiu para a redução de leitos no país, por meio de serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos. Além deles, existem Centros de Referência de Assistência Social (Cras), Residências Terapêuticas e Centros de Cooperativa e Convivência. É uma espécie de substituição às internações em hospitais psiquiátricos e tem como maior objetivo tratar a saúde mental de forma adequada, oferecendo atendimento à população, realizando o acompanhamento clínico, e promovendo o acesso ao trabalho e ao lazer, a fim de fortalecer os laços familiares e comunitários.
Quando os pacientes se deslocam para municípios mais próximos, os profissionais do Juliano Moreira costumam acompanhar seus progressos. A diretora técnica do Complexo, Marinalva de Sena Brandão, chega a se emocionar e não esconde a sensação de dever cumprido. “É um trabalho emocionante este de recuperação dos laços afetivos. A gente percebe claramente a mudança no comportamento dos pacientes quando reveem seus familiares. Os sintomas de loucura, expressados no dia-a-dia do hospital, são substituídos por sentimentos que estavam escondidos, trancados, a exemplo do amor e da afetividade”, comentou.
Só faltam 10
Atualmente, ainda existem 10 “moradores” no Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira que, até o final do ano, serão encaminhados para as residências terapêuticas – uma ação da Prefeitura de João Pessoa. As residências terapêuticas são moradias para ex-internos de hospitais psiquiátricos que não possuem mais vínculos familiares ou ainda esses vínculos são insuportáveis, e, por isso, não teriam onde morar. “A ideia é que esses sujeitos não sejam vistos a partir de sua doença, ou mesmo como doentes, mas como pessoas que amam, sofrem, sentem alegria, estudam, trabalham, enfim, vivem”, disse Marinalva.
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