VIDA URBANA
Melhorias nas condições sanitárias também contribuem para redução da doença
Dos 963 casos registrados em 2011, o número ficou em 482 segundo dados do DataSus.
Publicado em 28/10/2012 às 8:00
O tapete estendido na sala, cercado por cortinas e por um conjunto de sofás, mostra o aconchego que existe na casa de dona Maria de Carmem Silva de Melo. Há três anos, ela saiu de um casebre feito às margens de um rio e que ameaçava cair a cada período chuvoso, para morar em uma casa de alvenaria, construída em rua calçada e com esgotamento sanitário. Além do conforto, agora dona Maria também já não está mais tão exposta a algumas doenças como antes.
Ao lado de três filhos e dois netos, ela conta que mudança de endereço trouxe mais qualidade de vida para a família. “Antes, minha casa só tinha dois vãos. Não cabia nem um sofá. Só dormiam uns em cima do outro. Até o esgoto que saía do banheiro era jogado no rio. Agora, tudo mudou. Nem as crianças adoecem mais”, conta.
Carmem mora na rua Escritor Ascendino Leite, no bairro do Rangel, em João Pessoa. A residência de Carmem fica em local pavimentado, com esgotamento sanitário e maior controle da higiene, diferente do local onde morava antes, em uma comunidade de risco à beira de um rio.
Além de gerar mais bem-estar para a população, a melhoria nas condições de saneamento básico também diminuíram a incidência de doenças. De acordo com o DataSUS, sistema criado pelo Ministério da Saúde para fazer o controle das patologias que acometem a população brasileira, nos últimos três anos, a Paraíba reduziu quase pela metade a incidência de alguns tipos de doenças causadas pela ausência de infraestrutura, como o tipo A da hepatite viral.
Em 2009, houve 963 registros da patologia no Estado. Já em 2011, esse número ficou em 482. A queda foi de 49,95%. Os números ainda sugerem que a redução deve prevalecer também em 2012. Segundo o DataSUS, foram diagnosticados 215 casos de hepatites virais nos primeiros oito meses deste ano. O número representa apenas 44,6% do total de notificações feitas em 2011.
A infectologista e vice-presidente da Sociedade de Infectologia da Paraíba, Joana D'arc Morais da Silveira Frade, explica que a redução se deve à melhoria do saneamento básico da população porque a hepatite é classificada em três tipos e um deles é causado principalmente pela falta de higiene.
“As causas da hepatite A estão relacionadas às condições de infraestrutura dos locais em que as pessoas vivem. Pessoas que moram em áreas sem nenhum serviço de saneamento básico, como coleta de lixo e esgotamento sanitário, ficam mais sujeitas a contrair a hepatite A, pela ausência de higiene. Mas como as cidades estão cada vez mais sendo contempladas com esses serviços, acredito que esse seja um dos fortes fatores para o recuo da doença”, afirma.
No entanto, a chegada dos serviços urbanos interfere apenas nos registros da Hepatite A.
A médica, que possui 25 anos de experiência no diagnóstico e tratamento de doenças infectocontagiosas, explica que as hepatites B e C são causadas principalmente pelo contato sexual com a pessoa infectada.
“Das três hepatites virais, as do tipo B e C são consideradas as de maior gravidade. Além de mortalidade, elas causam uma morbidade ainda maior. Elas são responsáveis por causar outras patologias graves, como câncer de fígado e cirrose. A melhoria da infraestrutura não interfere nos diagnósticos de hepatites B e C, já que essas doenças não são causadas pela ausência de saneamento básico”, acrescenta a especialista.
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