Menino de 11 anos confessa que comandou arrastão em João Pessoa

Pobre, líder de atos infracionais, viciado em maconha e cola e analfabeto. Esse é o perfil do pequeno Mateus (fictício), de 11 anos, que confessou ser o idealizador do arrastão a um transporte coletivo em João Pessoa, de acordo com a promotora da Infância Infracional, Ivete Arruda. As informações sobre ele foram colhidas em depoimento realizado ontem, quando o menino teria confessado que, além de participar do arrastão, teria planejado e comandado o ato infracional. O assalto a usuários do transporte coletivo da linha 116-Colinas do Sul aconteceu na última segunda-feira, em Cruz das Armas.

As informações anteriormente colhidas pela promotora foram confirmadas após ouvir mãe e filho. Ela revelou que ele é agressivo, não se satisfazendo com o assalto, chegando, inclusive, a agredir passageiras. “Ele confessou que teve a ideia de 'fazer o busão', como eles chamam esse tipo de ato infracional, e os outros concordaram. A ele coube subtrair um celular e, não satisfeito, ele agrediu uma vítima. Além dela, a mãe confessou que agressões não são incomuns. Ele é irrequieto, rebelde, não fica em sala de aula, agride colegas e professores”, revelou.

Pouco aparentando ter apenas 11 anos de idade recém completados, seu aniversário foi no último dia 16, Mateus “quase não derramou uma lágrima”, disse a promotora, que descobriu que os problemas que ele vivencia vão além do envolvimento com atos infracionais. “Depois de uma hora conversando com ele, chegamos à seguinte posição: ele será encaminhado para o Capsi (Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil), onde será acompanhado por psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais. Ele é viciado, usa maconha e cola. Assim como todos os seus outros irmãos e seu pai, que é viciado em crack”, afirmou.

Apesar de parecer um caso sem solução, a rebeldia de Mateus tem explicação. Conforme a promotora, o menino não sente estímulo para ir à escola por ser analfabeto, algo que ele relutou em dizer. “Ele acabou me revelando que tem vergonha e se rebela porque os outros entendem o que o professor diz e ele não. A sua reação a isso é a agressão física e moral contra todos. Sempre que a mãe procura a escola, eles não querem recebê-lo ou o matriculam na série relativa à sua idade, mas ele não tem conhecimentos para acompanhar”, comentou, acrescentando que, apesar de ainda não ter 12 anos, motivo pelo qual não pode ser representado judicialmente, ele será acompanhado pela Promotoria, por se tratar de um adolescente infrator em potencial. “A conduta que teremos com ele será igual à do adolescente com 12. Faremos todo o acompanhamento".

Crianças e adolescentes usadas no tráfico

Segundo a promotora, por acreditarem não sofrer penalidades após o cometimento de atos infracionais, crianças e adolescentes são usados por traficantes. “Eles são aliciados não só para esse tipo de crime, os roubos, mas também são usados para prostituição, sexo, drogas. Pessoas inescrupulosas usam nossas crianças, que veem isso como exemplo. O irmão do menino de 11 anos, por exemplo, estava com o irmão, que foi pego pela primeira vez, mas que já cometeu diversas vezes atos infracionais. Existem punições, mas é necessário que elas sejam mais severas, pessoas mais comprometidas com a causa e que famílias se reestruturem. Assim, essa realidade pode ser modificada”, finalizou.